A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFISSIONAIS
BIBLIOTECÁRIOS: ANÁLISE DO CONTEÚDO DOS SITES DAS ENTIDADES DE CLASSE
Thais Carrier
Mendonça
Juliano Alberto
Regina May Farias
Resumo: Trata da importância na
formação contínua dos profissionais bibliotecários no Brasil. Identifica as
entidades de classe brasileiras ligadas à Biblioteconomia, as categorias da
educação continuada manifestadas e a forma em que o tema está sendo divulgado.
Considera como educação continuada os cursos de especialização, participação em
eventos e cursos de curta duração. Analisa o conteúdo documental dos sites das
entidades, investigando as ações relacionadas ao incentivo da educação
continuada. Conclui que a formação continuada do profissional bibliotecário é incentivada
e divulgada pelas entidades da categoria.
Palavras-chave: Educação Continuada; Formação
Profissional; Bibliotecário; Profissional da Informação; Entidades de Classe da
Biblioteconomia.
1 INTRODUÇÃO
A humanidade passa por grandes transformações decorrentes
da revolução tecnológica e da explosão da informação. Neste novo mundo, quem
tem a informação tem o poder. Segundo Valentim (1998, p. 109)
pode-se observar
que o imperialismo econômico atual, ataca com armamento não tradicional - não está se falando aqui de armas
tradicionais como bombas, ou ainda de armas modernas como agentes químicos ou
biológicos - isto é, armamento informacional.
A evolução dos meios de
comunicação em conjunto com a globalização atinge diretamente o campo de
atividade dos profissionais da informação – em especial os bibliotecários –
pois se estes não estiverem com sua formação acadêmica bem definida, agregada
com uma educação contínua, correm o risco de perder seus postos de trabalho
e/ou não apresentarem as potencialidades que a profissão exige. Em meio ao
processo de transição mundial, onde a tecnologia, informação, conhecimento e
comunicação interagem entre si provocando uma sociedade extremamente
competitiva, a capacitação profissional torna-se condição indispensável para um
desenvolvimento sócio econômico global. (ARARIPE, 1998).
O bibliotecário deve estar
ciente do seu papel de processador e filtrador da informação, atento às
mudanças nos canais de distribuição e se adequando ao desenvolvimento de
modelos eficazes para o atendimento das novas realidades.
A formação obtida na
graduação é absolutamente necessária para a construção do alicerce
profissional. Em geral, o egresso do curso superior não garante a colocação no
mercado de trabalho, apenas diminui o risco de desemprego em relação aos
profissionais de nível médio, ou seja, leva vantagem quem tem bacharelado
Somente a educação
continuada fará com que o bibliotecário possa adquirir o aperfeiçoamento necessário para seu
crescimento, renovando os conhecimentos e especializando-se na área de seu
maior interesse e/ou atuação. Afirma Valentim (1998, p. 114, grifo nosso) “é
necessário expressar a importância da formação, bem como da atualização
continuada do profissional, para que ele seja e esteja no novo paradigma da
informação”.
Os cursos de pós-graduação
(especialização, mestrado e doutorado), proporcionam um ambiente adequado para
o desenvolvimento da potencialidade da profissão, dando continuidade à formação
dos profissionais bibliotecários.
Nesta
pesquisa partiu-se
do pressuposto que é papel das diversas entidades de classe
ligadas à
Biblioteconomia, preocupar-se em contribuir para a
capacitação permanente dos
profissionais da informação. As entidades de classe,
atualmente, no Brasil, são
constituídas pelos conselhos regionais e o federal –
responsáveis pela
regulamentação e fiscalização das
atividades da profissão; pelas associações –
instituições de cunho associativo que visam apoiar os
profissionais da área; e
pelos sindicatos – instituições defensoras dos
direitos e interesses comuns dos
profissionais bibliotecários trabalhadores.
Assim, entende-se que as
investigações das ações das entidades de classe da Biblioteconomia,
relacionadas ao incentivo da educação continuada do profissional Bibliotecário
proporcionam ampliação de ações relacionadas à educação do profissional
O objetivo geral da
pesquisa foi investigar as ações de incentivo à educação continuada realizadas
pelas entidades de classe brasileiras ligadas à Biblioteconomia. Como objetivos
específicos buscaram-se identificar as entidades de classe da Biblioteconomia,
levantar as categorias das ações relacionadas à educação continuada promovidas
e divulgadas pelas entidades de classe, verificar as formas pelas quais a
educação continuada está sendo divulgada nos sites dessas entidades e,
por último, confrontar os temas divulgados pelas entidades.
Dentro da conjuntura de
mudanças da Sociedade da Informação e, conseqüentemente, do mercado de trabalho
do bibliotecário, ressalta-se a importância da educação continuada deste
profissional. Silva e Cunha (2002) estabelecem que os novos perfis
profissionais privilegiam a criatividade, interatividade, flexibilidade e
aprendizado contínuo. As habilidades e conhecimentos que são adquiridos ao
longo da vida não superam a necessidade de uma educação permanente, voltada às
mudanças reais ocorridas em seu ambiente profissional (OLIVEIRA, 1999, p. 4).
A
exigência de “mudança” e
“renovação”, nas qualidades
profissionais do bibliotecário é imposta pela
modernização de suas funções, com
tecnologias informacionais recentes e em transformação,
além de usuários cada
vez mais rigorosos na qualidade da informação. Cunha
(2000) relata que as
categorias de profissionais que trabalham a informação
vêm aumentando em
conseqüência da diversificação do mercado e
funções relacionadas com a
informação. Uma destas funções a se
considerar é o fato dos serviços de
tratamento da informação se efetuarem através da
introdução da informática e/ou
uso do computador. A utilização das tecnologias
informacionais nas tarefas
diárias do profissional da informação
reforça a idéia de inovação contínua
das
habilidades e conceitos já formados na graduação e
nas experiências anteriores.
Diante disto, Corrêa (2001) afirma que a utilização
gradual do computador nas
estratégias de trabalho do bibliotecário representa
significativa alteração,
tanto nas rotinas quanto no seu perfil.
Conforme Cunha (2000)
o conceito de novo
profissional da informação surgiu de uma idéia de mudança, de valorização e
diversificação de suas atividades. Esta idéia está ligada à qualidade do
trabalho, a mais profissionalismo, a uma maior consciência profissional, a
diversificação das funções e do espaço de atuação deste profissional.
Desta forma, o profissional da informação passou a ser
cobrado a investir no seu aprendizado contínuo, seja este aperfeiçoamento pela
via da educação formal, seja por aprendizado autônomo (ARRUDA; MARTELETO;
SOUZA, 2000). Anteriormente, o profissional com um diploma universitário
ocupava seu lugar de destaque no mercado de trabalho; hoje esse profissional
tem que, além do diploma, desenvolver competências tais como ser versátil e
desempenhar múltiplas funções devido às
exigências do mercado que requer um profissional flexível, aberto e atento às
mudanças contínuas no âmbito em que vive.
Valentin (1998, p.111) afirma que esta “formação básica é
fundamental na medida em que o indivíduo aprende a relacionar a teoria e a
práxis antes de atuar no mercado de trabalho”. A educação sob a óptica da
formação profissional contribui para a construção de valores sociais, formação
de habilidades técnicas e cognitivas.
Entretanto, a rapidez das mudanças pressiona a Academia a se adequar às
exigências desse mercado forçando-a a uma reestruturação, não só no ensino da
Biblioteconomia como em outras áreas do conhecimento.
Os bibliotecários não devem estar limitados ao aprendizado
prático-teórico da profissão e sim ao desenvolvimento de práticas de relações
humanas, gestão de empresas e pessoas, bem como de tecnologias da informação.
Silva e Cunha (2002) mostram que os cursos de formação do bibliotecário deverão
estar preocupados com a formação do cidadão, da pessoa no sentido amplo, e não
somente com a formação profissional. Para estas autoras, a educação
profissional deve priorizar a condição humana. Pela diversificação do perfil
profissional do bibliotecário sugere-se que a formação profissional não seja de
forma vertical – numa mesma área do conhecimento, mas sim de forma horizontal –
interdisciplinar; entre áreas do conhecimento (MUELLER, 1989 apud ARRUDA;
MARTELETO; SOUZA, 2000).
Assim, conclui-se que a formação profissional dos
bibliotecários não se limita aos conhecimentos obtidos na graduação, pois a formação
profissional somente deverá se concretizar por meio da educação continuada.
Pereira e Rodrigues (2002, p.222) definem educação continuada como “educação
permanente, educação recorrente, educação contínua, educação continuada,
formação continuada”. E ainda afirmam que, para atingir seus objetivos, deve
ser considerada a motivação, isto é, deve haver uma necessidade do profissional
em se aperfeiçoar. Os objetivos dessa formação continuada são de provocar uma
mudança de atitudes e/ou comportamentos possibilitando ao profissional tornar-se um agente de
desenvolvimento. Collares, Moysés e Geraldi (1999) acreditam que a educação
inicial (teoria) opera com conhecimentos, e a educação continuada extrai da
experiência (prática) os saberes. Como exemplo, pode-se verificar que os
participantes assíduos em eventos e congressos tendem a ser mais experientes,
pois acabam conhecendo as inovações e tendências futuras do mercado (MEADOWS,
1999).
Nesta pesquisa, portanto, entendeu-se como educação
continuada, todo e qualquer aprendizado adquirido após a educação formal do
profissional. Educação formal é aquela adquirida em nível de graduação e
pós-graduação; e educação continuada são os cursos de atualização,
aperfeiçoamento, palestras e eventos. (GUIMARÃES, 1996). Para Corrêa (2001) educação continuada é a
participação em eventos, cursos de curta duração, e de outros em nível de
pós-graduação (como os de especialização, por exemplo). Portanto, considera-se
como educação continuada os cursos de especialização, participação em eventos
(palestras, seminários, simpósios, congressos, etc.) e cursos de curta duração
realizados pelo profissional bibliotecário após a sua educação formal.
Entidades de classe são instituições que possuem membros ou
associados, ligados entre si pelo exercício da mesma atividade econômica ou
profissional (QUEIROZ NETO, 2005). No Brasil, vinculados à área da
Biblioteconomia, são entidades de
classe: os conselhos, as associações e os sindicatos. Grande parte destas
instituições possui sites na Internet
como parte do processo de comunicação e divulgação das entidades com o seu
público alvo. Esta ação, de veiculação on-line, se torna indispensável
frente às mudanças tecnológicas dos últimos anos, que tornaram necessárias, perante
às exigências do mercado, viabilizar o acesso à informação.
Os conselhos profissionais são entidades de direito
público, criadas por lei, com o objetivo de fiscalizar o exercício das
profissões regulamentadas. Os conselhos que regulam a profissão dos
bibliotecários existem
As associações de bibliotecários visam apoiar os
profissionais da área, em geral, e têm como objetivo defender os interesses da
classe e apoiar suas reivindicações, promovendo a colocação do profissional
dentro do mercado de trabalho, viabilizando
a realização de cursos de formação e aperfeiçoamento. São entidades sem
fins lucrativos de cunho associativo atuando, na sua maioria, em nível
estadual.
Os sindicatos, que representam os profissionais bibliotecários
trabalhadores, tem como objetivo principal à luta pelo fortalecimento da
categoria e pela consciência da classe. Busca estabelecer pisos salariais,
carga de trabalho e benefícios. Atuam em nível regional e existem poucos no
Brasil.
A
pesquisa realizada teve caráter exploratório e do tipo documental, abordando o
tema educação continuada para o profissional bibliotecário.
Foram
analisados os conteúdos dos sites institucionais das entidades de classe
brasileiras ligadas à Biblioteconomia, considerando as categorias (eventos,
cursos, palestras, etc.) a serem realizados a partir de setembro de 2005.
Análise de conteúdo consiste num conjunto de técnicas de análise de
comunicações, com finalidade de descrever, objetivamente, sistematicamente e
quantitativamente, o conteúdo dessas comunicações (OLIVEIRA et al., [2003];
BARDIN apud FERREIRA, 200?). Nesta pesquisa a documentação analisada foi
constituída pelas páginas institucionais das entidades de classe, consideradas,
nesse caso, como documento digital.
Com o
objetivo de investigar as ações das entidades de classe brasileiras ligadas à
Biblioteconomia no que se refere ao incentivo da educação continuada, usando a
análise de conteúdo nos moldes de Bardin (apud FRANCO, 2003) identificou-se
como categorias os seguintes itens:
a) cursos de curta
duração;
b) eventos (palestras,
seminários, simpósios, congressos, etc.);
c) cursos de
especialização.
Identificou-se, também, as
entidades de classe de Biblioteconomia, buscando nestas a freqüência de
ocorrência de cada categoria, agrupando as incidências de acordo com os
seguintes temas relacionados:
1) Profissional da
Informação;
2) Gestão de Unidades de
Informação;
3) Tecnologia da
Informação;
4) Arquivo;
5) Atividades Técnicas.
Entidades de classe são
instituições que possuem membros ou associados vinculados a uma mesma classe
profissional. Para Biblioteconomia temos as associações, conselhos e
sindicatos.
Como universo da amostra,
buscou-se identificar através dos mecanismos dispostos na Internet, a
totalidade das entidades de classe brasileiras ligadas à Biblioteconomia.
Encontrou-se um total de 42 instituições, conforme a seguinte distribuição:
Associações, 54,8%, Conselhos, 35,7% e Sindicatos, 9,5% (ver Quadro 1).
Entidades
|
Quantidade |
% |
Associações |
23 |
54,8 |
Conselhos |
15 |
35,7 |
Sindicatos |
4 |
9,5 |
Total |
42 |
100 |
Quadro 1: Entidades de classe identificadas
Considerou-se
como amostra para a pesquisa as entidades de classe que disponibilizavam sites
na internet; do total das 42 identificadas, 62% (26) disponibilizavam páginas
na web. Destas, 34,6% (9) são Conselhos Regionais, 3,8% (1) é Conselho
Federal, 46,1% (12) são associações e 15,5 (4) Sindicatos.
Como
se pode observar grande parte das entidades são associações (23), mas os
resultados apontam que destas, apenas 52,1% (12) disponibilizam sites na
Internet. O fato do alto índice de associações não possuírem sites na
internet, o que inviabiliza a comunicação e interatividade com o público, vai
de encontro com o objetivo maior destas instituições, que é de promover a
colocação do profissional no mercado do trabalho pois a existência dos mesmos
certamente facilitaria e tornaria mais ágil o processo de comunicação com os
associados.
Das 26
entidades de classe que possuem sites na Internet, 46,1% são
Associações, 38,4% são Conselhos e 15,5% são Sindicatos (quadro 2)
Entidades*
|
Quantidade |
% |
Associações |
12 |
46,1 |
Conselhos |
10 |
38,4 |
Sindicatos |
4 |
15,5 |
Total |
26 |
100 |
Quadro 2: Entidades
de classe que disponibilizavam sites na Internet
Das
entidades analisadas, constatou-se que 15,5% (quatro entidades) apresentavam sites
indisponíveis e 23% (seis) não apresentavam informações atualizadas referentes
a cursos e eventos da área, obtendo-se este resultado após três tentativas em
dias e horários distintos. Pelos
resultados analisados constata-se que são 61,5% (16) entidades de classe que
disponibilizam informações sobre as categorias de educação continuada delimitadas
nesta pesquisa.
Educação
continuada é todo e qualquer aprendizado adquirido após a educação formal
(graduação e pós-graduação). Para esta pesquisa foi considerado como categoria
de educação continuada: a) cursos de curta duração; b) eventos (palestras,
seminários, simpósios, congressos, etc.); c) cursos de especialização.
Analisando
a freqüência de divulgação destas categorias dentro dos sites das
entidades, verificou-se a presença de 98 incidências, sendo 71,5% (70
incidências) relacionados a eventos, 28,5% (28 incidências), a cursos de curta
duração e nenhum indicador referente a cursos de especialização. O Gráfico 1
apresenta o resultado da freqüência das
categorias identificadas nos sites:
Gráfico 1: Freqüência das categorias propostas
Percebe-se
que a forma mais freqüente de incentivo à educação continuada do profissional
bibliotecário foi realizada através da divulgação para participação em eventos
da área, sejam eles em nível nacional ou internacional. Nota-se que os cursos
de curta duração são bem expressivos quando se leva em consideração a
divulgação realizada em nível regional.
Quanto aos cursos de curta duração identificou-se a
freqüência dos seguintes temas: 50% (14 incidências) de Atividades Técnicas; 18%
(5 incidências) para Gestão de Unidades de Informação; 18% (5 incidências)
relacionados ao tema Arquivo; 14% (4 incidências) sobre o tema Profissional da
Informação; nenhum indicador relacionado ao tema Tecnologia da Informação.
Gráfico 2: Temas relacionados à categoria cursos de curta duração
a) As atividades técnicas
tiveram maior destaque, pois com a inclusão das novas tecnologias, torna-se
necessária a atualização das aptidões do profissional bibliotecário. Este item
abordou temas relacionados à classificação, catalogação, indexação.
b) A gestão de unidades
de informação esteve presente em cursos relacionados à inteligência
competitiva, atendimento ao cliente, gestão de projetos, entre outros.
c) O tema arquivo, outro
campo de interesse do profissional bibliotecário, esteve presente nos cursos,
por se tratar de uma área em destaque e de grande aceitação por muitos
profissionais da informação e exigir atualização e capacitação técnica
constante.
d) No tema profissional
da informação, predominou assunto sobre cursos de capacitação pessoal, hora do
conto e mercado de trabalho. A capacitação profissional, formação e mercado de
trabalho do profissional da informação são assuntos de extrema relevância. Por
isso é essencial a capacitação pessoal do profissional da informação, para este
possa estar cada vez mais qualificado e capaz de atuar no contexto
sócio-cultural em que vivemos, tomar decisões e se relacionar com os usuários
(CUNHA, 2000; VALENTIM, 1998).
e) O tema tecnologia da
informação não obteve incidências. Apesar da modernização e inclusão das
tecnologias da informação nas tarefas da profissão, não se encontrou cursos de
curta duração relacionados a este tema. Uma possível explicação para essa
ausência é que as tecnologias da informação
requerem uma abordagem ampla e complexa, o que dificulta a realização de
cursos de curta duração. Além disso,
para ser tratado convenientemente nos cursos de curta duração seria necessário criar uma
infra-estrutura de equipamentos
específicos para esse fim.
Como
foi apresentado, é através da divulgação de eventos que as entidades de classe
da Biblioteconomia apóiam a educação continuada do profissional. Meadows (1999)
relata que a maioria dos cientistas, até mesmo de países em desenvolvimento,
participa de congressos pelo menos uma vez por ano. Acredita-se que é uma
tendência natural dos pesquisadores e profissionais buscarem a participação em
eventos para se manter capacitados, pois nos eventos, além de receber uma carga
de atualização e inovações da área, mantêm-se contato com os pares,
pesquisadores e colegas de profissão.
Como
resultado dos temas mais abordados pelas entidades de classe na categoria
eventos, tem-se: 48,6% (34 incidências) do tema Gestão de Unidades de
Informação; 18,6% (13 incidências) relacionadas a Arquivo; 17,1% (12
incidências) de Tecnologia da Informação; 12,8% (nove incidências) sobre o tema
Profissional da Informação; e 2,9% (duas incidências) relacionado às Atividades
Técnicas.
Gráfico 3: Temas relacionados a categoria eventos
a) O tema mais relevante
citado nos eventos relaciona-se à gestão de Unidades de Informação, em que se
destacaram assuntos como: gestão de bibliotecas especializadas, informação
empresarial, gestão de documentos, comunicação, etc. Com isto, nota-se que é
essencial a reflexão e o aperfeiçoamento do profissional como gestor de
unidades de informação no contexto social contemporâneo. Para Alvarenga Neto e
Barbosa (2005, p. 4) “A criação do conhecimento é o processo pelo qual as
organizações criam ou adquirem, organizam e processam a informação, com o
propósito de gerar novo conhecimento através da aprendizagem organizacional”.
b) Novamente percebe-se a
presença do tema arquivo, abordando aspectos
voltados à conservação, preservação e recuperação de documentos. “A
diversificação de categorias de profissionais que lidam com a informação, que
vem aumentando dia a dia, se dá em função da diversificação do mercado, e das
funções ligadas à informação” (CUNHA, 2000, p. 2).
c) O tema tecnologia da
informação, não presente nos cursos de curta duração, obteve incidências nos
eventos. Notou-se que este tema tem sido muito discutido em eventos da área,
apresentando a problemática, oportunidades e teoria ligadas a novas tecnologias
da informação. As abordagens estavam
voltadas para as bibliotecas digitais e virtuais, recursos eletrônicos, entre
outros.
d) O tema profissional da
informação divulgado nos eventos, refere-se aos assuntos de pesquisa científica
e criatividade do profissional. Apesar de ser um assunto de extrema relevância,
acreditamos que está sendo tratado com pouca representatividade.
e) As atividades
técnicas, ao contrário dos índices apresentados nos cursos de curta duração
(gráfico 2), apresentaram um índice de freqüência baixo, devido à inviabilidade
da apresentação de aulas práticas em eventos.
Não
foram encontradas incidências referentes à categoria de Cursos de
Especialização. As justificativas podem estar relacionadas as seguintes hipóteses:
a) Existência de poucos
cursos de especialização na área;
b) Baixa freqüência de
realização dos mesmos no país;
c) Divulgação restrita
dos cursos realizados.
Das
entidades que disponibilizaram informações sobre cursos e eventos, a grande
maioria disponibiliza uma sessão específica para este fim, juntamente com os
demais menus da página. Das 16 entidades que originaram os resultados,
apresentaram link específico para a divulgação de eventos e cursos 75%
(12 entidades).
Além disso,
percebeu-se que algumas entidades deram maior destaque aos eventos promovidos
por ela mesma, disponibilizando banner ou logos do evento na página
inicial do site. Encontrou-se 56,3% (9 entidades) que destacavam em sua
página inicial os eventos e cursos que por ela foram promovidos.
Estes
dados revelam que as entidades de classe da Biblioteconomia interessam-se pela
divulgação de eventos e cursos para o estímulo da educação continuada do
profissional; preocupando-se também, com a promoção dos mesmos.
As mudanças no mercado de trabalho do bibliotecário fazem
com que este profissional busque a continuidade de sua educação, pois com a
diversidade de áreas e possibilidades que a profissão apresenta, é preciso
estar atento às inovações e tendências atuais. Neste sentido, as entidades de
classe buscam junto a seus associados, viabilizar este propósito, divulgando e
promovendo cursos e eventos da área. Meadows (1999) destaca que nos congressos
e conferências, o conteúdo apresentado é atual, pois são baseados em pesquisas
recentes. Visando estas tendências, é de extrema importância que os
profissionais da informação, em especial o bibliotecário, esteja em dia com
estas inovações.
Apesar de grande parte das entidades não disponibilizar sites
de sua instituição na Internet, o que para a equipe deste trabalho destaca-se
como um marco de fragilidade institucional, os resultados apontam que,
considerando o universo de entidades analisadas, essas colaboram com a educação
continuada do profissional bibliotecário.
Os conselhos, sejam federal ou regionais, cuja finalidade
maior é fiscalizar a profissão, foram as entidades que mais se destacaram na
divulgação de eventos e cursos. Este tipo de entidade possui uma força
institucional maior, pois além da afiliação obrigatória dos profissionais que
atuam como bibliotecários, recebe recursos e apoio federal.
Notou-se que os sindicatos também se preocupam e contribuem
de forma satisfatória para a continuidade da educação dos profissionais
bibliotecários. Apesar de serem recentes e em número restrito de quatro,
mostram o crescente fortalecimento da profissão e a preocupação da classe em
estabelecer-se com maior representatividade.
As associações, identificadas em maior número entre as
entidades e que têm como objetivo principal apoiar o profissional
bibliotecário, não se destacaram na representatividade dos resultados da
pesquisa, pelos seguintes motivos:
a) grande parte não
possui sites na internet;
b) dependerem
financeiramente dos profissionais associados;
c) não renovarem as
informações contidas nos sites.
Os eventos constituem a categoria de educação continuada
mais divulgada pelas entidades, assumindo a forma mais freqüente para
atualização, manutenção e reciclagem da educação profissional dos
bibliotecários. Além de serem mais freqüentes, apresentam as últimas tendências
e inovações do mercado de trabalho e acadêmico, possibilitando o encontro e
troca de informações informais entre os colegas da profissão. Conforme a
revisão de literatura e observações no contexto atual verificou-se a
predominância do tema gestão de unidades de informação na categoria eventos.
Portanto, destaca-se a gestão de unidades de informação como tema fundamental
para continuidade da educação do bibliotecário.
Os cursos de curta duração são importantes para atualização
profissional, concentrando-se normalmente em áreas específicas da
Biblioteconomia. Nesta pesquisa, as atividades técnicas apareceram em maior
expressividade para os cursos de curta duração, pois este tipo de atividade
exige que o profissional possa ir além da teoria, efetuar a prática das aulas,
perfazendo sua atualização e educação continuada pertinentes às tarefas do seu cotidiano.
Portanto, o profissional bibliotecário deve ter o cuidado
de buscar em sua área específica de atuação, um ambiente de atualização
adequado (seja eventos, cursos de curta duração ou em cursos de
especialização), pois, conforme relatado, alguns assuntos são mais tratados em
determinada categoria do que em outra.
Em relação à questão da forma de apresentação das
categorias nos sites, notaram-se índices satisfatórios que garantem o
interesse das entidades na divulgação de cursos e eventos. A grande maioria das
entidades analisadas disponibilizavam sessão específica para este fim, o que
indica a preocupação com a educação continuada de seus profissionais.
Cabe ressaltar que, muitas
vezes os profissionais enfrentam dificuldades em atualizar-se, levando
em consideração o fato de alguns trabalharem em locais distantes (interior), ou
muitas vezes não obterem o apoio necessário (principalmente financeiro) em seu
local de trabalho para a participação em eventos e nos cursos de atualização.
Contudo, concluiu-se que a educação continuada do
profissional bibliotecário é necessária, incentivada e divulgada pelas
entidades de classe da área, oportunizando subsídios para atualização
profissional e possibilitando a permanência e/ou ingresso no mercado de
trabalho.
Espera-se, assim, que as informações sistematizadas nesta
pesquisa possam ser relevantes, porque indicam aspectos qualitativos e
quantitativos presentes no incentivo da educação continuada do bibliotecário,
cuja análise poderá gerar iniciativas e procedimentos que viabilizem melhorias
na divulgação e no fortalecimento das entidades.
ARARIPE, Fátima Maria Alencar.
Bibliotecário – profissional da informação (re) desenhando o perfil a partir da
realidade brasileira: proposta para os países do Mercosul. In:
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Artigo recebido em: 29/09/2006
Aceito para publicação em: 15/12/2006