O BIBLIOTECÁRIO NAS ESCOLAS:
UMA NECESSIDADE
Eliane Fioravante Garcez
Resumo: Aborda aspectos quanto à importância da biblioteca e do
profissional bibliotecário no contexto escolar. Discorre sobre o trabalho
colaborativo do corpo docente para a inclusão da biblioteca em suas práticas
pedagógicas. Por meio de dados oficiais, comprova os poucos investimentos na
biblioteca escolar e o quanto estas carecem de profissionais bibliotecários.
Relaciona o baixo desempenho dos estudantes à falta de instrumentos que
favoreçam a leitura e a pesquisa na escola. Alerta que o Poder Executivo Estadual deve tratar
com urgência a criação do Cargo de Bibliotecário vinculado à Secretaria de
Estado da Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina.
Palavras-chave: Biblioteca
escolar; Ensino-aprendizagem; Bibliotecário escolar.
1 INTRODUÇÃO
De acordo com o Censo Escolar de 2004
(BRASIL, 2005) são baixos os percentuais de bibliotecas e de bibliotecários nas
escolas de educação básica (infantil, fundamental e média) e profissionalizante
no país. Das 210.074 escolas, apenas 25%
possui biblioteca nas suas estruturas; deste total, 33% são bibliotecas escolares da rede privada e 67%
são bibliotecas escolares da rede pública de ensino.
A ausência ou a pouca atuação da biblioteca
na unidade escolar é forte indicativo de que a formação do educando se dá, quase
que exclusivamente, por meio de conhecimentos repassados pelo professor, que,
aliado ao livro didático, funcionam, segundo Antunes, W. A. (1987, p. 60), como “verdadeiras pílulas
anti-cultura e anti-biblioteca.”
Os dados levantados pelo Censo
comprovaram, ainda, o inexpressivo número de profissionais
bibliotecários que atuam nessas poucas bibliotecas. Apenas 1,4% das bibliotecas
de escolas brasileiras de ensino básico e profissionalizante possuem
bibliotecários como responsáveis pelo setor, sendo que deste percentual, 71%
são privadas e 29% são públicas. Sem este profissional, as normas de funcionamento, a formação da
coleção, o tratamento da informação e os serviços oferecidos pela biblioteca
são instituídos sem discussão e sem critérios adequados, deixando de atender de
forma satisfatória às necessidades da comunidade escolar e de criar e/ou
incentivar, nessa mesma comunidade, mudanças quanto ao hábito de leitura e de
pesquisa.
Esse quadro desanimador pode ser
confirmado no Estado de Santa Catarina, uma vez que, além da precariedade no
funcionamento de suas bibliotecas escolares, há carência de profissionais
bibliotecários nas 1.329 unidades
escolares.
Assim, registra-se a
denúncia da situação de abandono da biblioteca escolar e, principalmente, do descaso
ao seu usuário, revelando padrões
muito baixos de qualidade no acesso à informação, e da necessidade de
implementar investimentos em políticas públicas voltadas à educação básica.
2 FUNDAMENTOS
TEÓRICOS
A quase inexistência no meio escolar
somada à pouca atuação do profissional bibliotecário, fazem com que a
biblioteca, para a maioria da população, seja concebida como qualquer lugar com
livros e estantes, não importando a qualidade e o tamanho do espaço físico e do
acervo; usuário é apenas o aluno, como se o professor tudo soubesse e não
precisasse fazer uso da biblioteca; bibliotecário é a designação genérica para
quem está na biblioteca, podendo ser professor, aluno, ou funcionário
remanejado de outra área da escola, que, independente do nível de formação, é
chamado, erroneamente, de bibliotecário.
A escola deve propor aos alunos atividades
que os levem a desenvolver as habilidades de debater, deduzir, analisar, interpretar,
provar, concluir, conceituar, demonstrar, refletir, criticar,
sintetizar/resumir, reproduzir, ajuizar, discriminar, solucionar problemas,
revisar e pesquisar (ANTUNES, C., 2002). Mas, para que isto seja possível, é
necessário que os alunos tomem distância do aprendizado centrado na
oralidade do professor e do uso quase que exclusivo do livro didático,
aproximando-se cada vez mais da biblioteca - onde terão oportunidade de
estudar, de conhecer e de refletir sobre vários assuntos, em diferentes abordagens
e formatos.
O Governo tem encaminhado livros às
escolas públicas, através do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), mas
estes acabam sumindo pela falta de local apropriado (biblioteca), pela falta de
tratamento adequado (carência do profissional bibliotecário) e pela falta de
dinamização de leituras, reflexo da pouca parceria ou da pouca aproximação
entre bibliotecários e professores.
2.1 Biblioteca escolar: que espaço é esse?
Para Borba (2000, p. 18) a biblioteca
escolar é, no sistema educativo, “indispensável para o desenvolvimento
curricular e como tal deve responder de forma satisfatória e eficiente os seus
serviços à comunidade na qual ela está inserida.”, mas muitas vezes a
encontramos dissociada deste ideal.
A biblioteca escolar possui as funções
educativa e cultural. A primeira auxilia a ação do aluno e a do professor e, a
segunda complementa a educação formal, ao oferecer possibilidades de leitura,
colaborando para que os alunos ampliem os conhecimentos e as idéias acerca do
mundo, além de incentivar o gosto pela leitura na comunidade escolar. (RIBEIRO,
1994; FRAGOSO, 2002).
Para que a biblioteca
escolar possa atender às demandas de sua clientela, é fundamental que possa
contar com espaço físico, recursos (humanos, materiais e orçamentários) e
acervo em constante atualização e em número suficiente.
Para Lemos (1998, p.
347, grifo nosso) enquanto instituição social é necessário que a biblioteca
possua cinco pré-requisitos:
a intencionalidade política e social, o acervo
e os meios para sua permanente renovação, o imperativo da organização e sistematização, uma comunidade de usuários, efetivos ou potenciais, com
necessidades de informações conhecidas ou pressupostas, e, por último mas não
menos importante, o local, o espaço
físico onde se dará o encontro entre usuários e os serviços da biblioteca.
Assim, ao mesmo
tempo em que se constata o amplo papel da biblioteca e do bibliotecário no
contexto escolar, pode-se perceber que há falta de garantias e de ações para a
existência de ambos nas unidades escolares, quer por parte do Poder Público,
quer por parte do Poder Privado.
2.1.1 O Estado e a biblioteca escolar
A importância dada
pelo Governo à biblioteca escolar é registrada em alguns dispositivos legais,
mesmo quando em alguns textos não encontremos, explícito, o termo biblioteca.
O artigo 206 da Constituição Federal
(BRASIL, 1988, p. 137-138, grifo nosso), lista os princípios norteadores da
educação, dos quais se dá destaque aos incisos II e VII, por tratarem,
respectivamente, da “liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber;” e da “garantia de padrão de qualidade.”
A Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de
1996, (BRASIL, 1996, grifo nosso) conhecida como Lei Darcy Ribeiro, que aprovou
as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no artigo 4º, inciso IX
estabelece como dever do Estado para a educação pública, dentre outros, a
garantia de “padrões mínimos de
ensino, definidos como a variedade e
quantidade mínimas, por aluno, de
insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
ensino-aprendizagem.”
Mesmo sem especificar quais os insumos
indispensáveis para que haja garantia da qualidade no processo
ensino-aprendizagem, entende-se que se enquadram nesse quesito: os
laboratórios, as quadras de esportes, os livros, as bibliotecas, ou seja, aparelhamento e condições físicas, para
que os profissionais possam oferecer ensino de qualidade, o que refletirá numa
aprendizagem também de qualidade.
O artigo 22 da LDB (1996, grifo nosso)
cita que:
A educação básica tem por finalidades
desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir
no trabalho e em estudos posteriores.
Apesar deste registro, a situação das
bibliotecas no Estado Catarinense permanece em situação de quase abandono,
comprovando que a carência de ações impede que a sua intencionalidade seja
concretizada. A Portaria 003/SED, de 04/04/2003, que designou
professores excedentes e readaptados como responsáveis por bibliotecas,
laboratórios de informática e outras áreas fundamentais da escola, tenta
minimizar esta situação e, por outro lado, aponta para a necessidade da
ativação destes espaços.
O Governo, por meio do Sistema Nacional da
Educação Básica (SAEB), tem feito uma auto-avaliação das ações públicas
destinadas ao ensino básico e os resultados têm mostrado um quadro bastante
desconfortável às classes política e educacional.
O SAEB realizado em 2003 revelou que dos
alunos matriculados na 4ª série de todo o país, 59% não conseguem entender
textos completos e 52% são incapazes de resolver questões de matemática
próprias para sua idade, sendo este desempenho classificado pelo Ministério da
Educação (MEC) como crítico ou muito crítico.
(ALMANAQUE Abril, 2004).
Estes percentuais comprovam que existe,
realmente, um vazio no meio escolar, e acredita-se que a inclusão da biblioteca
e do profissional bibliotecário sejam alguns dos itens com possibilidade de
preenchê-lo.
2.1.2 O profissional bibliotecário com
atuação na escola
O bibliotecário escolar, conquanto
raramente presente nas escolas, é o profissional qualificado, responsável pelo
planejamento e gestão da biblioteca escolar. (MANIFESTO IFLA/UNESCO PARA
BIBLIOTECA ESCOLAR, 2005).
Segundo Abreu et al. (2002, não paginado)
“[...] a questão dos recursos humanos, [...] configura-se como um problema
central na organização e no efetivo funcionamento das bibliotecas escolares, a
exigir definições políticas e administrativas.”
Para Martucci (2005, p. 353) nesta questão
reside o “âmago da problemática da biblioteca escolar nos sistemas públicos de
ensino”. E que se repete no setor
privado.
De acordo com Sales (2002, p. 28) a
atividade do bibliotecário está vinculada ao “exercício da cidadania [...] ao
livre acesso à informação”; portanto, no ambiente onde atua é o intermediário
entre o acervo e o leitor.
Fragoso (2002) e
Ribeiro (1994), ao mencionarem os objetivos/funções da biblioteca escolar, passam
a idéia do papel do bibliotecário que nela atua.
Diante de tantos desafios, é fundamental
que esse profissional possa contar com equipe, espaço físico para acomodar
acervo e usuários, verba mensal e específica para a aquisição e atualização do
acervo, códigos para o tratamento da coleção, e software para a agilização dos serviços.
Para Silva, W. C. (1999, p. 79) o
bibliotecário escolar deve “[...] dedicar-se menos às atividades mecanizadas e
muito mais a programas de incentivo à leitura, junto aos alunos, com o apoio de
outros educadores, como os professores e os especialistas.” No entanto, na
maioria das vezes, contando apenas com uma “eu-quipe”, como manter o acervo
atualizado, organizado e as informações de fácil recuperação e ainda promover
práticas dinamizadoras de leitura?
Como não são poucas as atribuições do
bibliotecário, a presença de auxiliar (es) é fundamental para que se possa
melhorar o atendimento ao público, planejar e executar projetos e estudos,
tratar tecnicamente o acervo, melhorar a orientação aos usuários na
pesquisa, manter contato com livreiros e
editoras, participar de cursos de capacitação e de reuniões na própria
instituição – sem que para isso seja
preciso fechar a biblioteca.
Ao defender a presença de auxiliares na
biblioteca da escola, é oportuno mencionar que esta deve estar condicionada a
do profissional bibliotecário. O fato é que empresas públicas e até mesmo
privadas, na tentativa de diminuir os custos com pessoal, têm buscado soluções
paliativas para suas bibliotecas, contratando apenas auxiliar(es).
As medidas adotadas pelo Governo do Estado
de Santa Catarina servem para exemplificar tal entendimento. É comum a presença
de professores readaptados, e de alunos de Segundo Grau e universitários,
através do programa de estágio “A PRIMEIRA CHANCE”, atuando nas bibliotecas
escolares do Estado, ação que não vem garantindo o bom funcionamento desses
espaços e nem a satisfação de seus usuários.
Quando existe
bibliotecário atuando na escola, a concepção crítica deste espaço e,
consequentemente, do profissiocnal bibliotecário pela comunidade, passa ser
mais aguçada, com possibilidade desta mesma comunidade reinvindicar um melhor
aparelhamento da escola e da própria biblioteca.
2.1.3 Acervo
Dentre
as várias atividades desenvolvidas pelo
bibliotecário escolar, a formação da
coleção é preocupação constante,
pois é a
partir desta que se desenvolvem os produtos e serviços da
biblioteca escolar.
O valor do acervo da
biblioteca dá-se pelo fato de facilitar aos usuários o acesso ao saber
socialmente elaborado. A oralidade não é o principal meio de transmissão e
circulação desse saber. É por meio da escrita que ele pode ser recuperado,
estudado e pesquisado para as propostas de ensino-aprendizagem. (SILVA apud
CAMPELLO, 2001). Portanto, o
investimento na coleção da biblioteca escolar é aspecto fundamental, uma vez
que esta representa uma possibilidade de inserção social de seus usuários.
Para Sales (2002, p.
10), o acesso à informação variada e atualizada é condição para o exercício da
cidadania pois esta “se manifesta e se constrói a partir da conscientização e
da participação social e política dos homens na sociedade, o que pressupõe
também o acesso a informações variadas e atualizadas.”
O acervo da biblioteca escolar serve para
cativar e estimular, nos usuários, o interesse pela sua utilização. Por essa
razão, é necessária a sua diversificação, respeitando a faixa etária e o
interesse do usuário, tanto em relação ao suporte físico quanto aos diferentes
temas e abordagens.
Segundo Figueiredo (1999, p.
57)
Apesar de toda
a ênfase moderna na prestação de serviço aos usuários, uma biblioteca ainda é,
essencialmente, uma coleção de livros e outros tipos de materiais. Nenhuma
prestação de serviço pode substituir uma coleção pobre, e sendo a coleção a
base para qualquer serviço, este deixará a desejar, se não tiver suporte numa
coleção criteriosamente desenvolvida, de acordo com os interesses/necessidades
de informação da comunidade de usuários.
No contexto escolar, a formação da coleção
da biblioteca deve contemplar a participação/sugestão de professores e alunos.
Não menos importante é o acesso do bibliotecário ao programa escolar dos
professores, a fim de munir a biblioteca com material pertinente às necessidades
de ensino-aprendizagem, com o perfil da instituição e adequados aos planos
didáticos do professor.
Como a educação continuada do professor
depende muitas vezes de acesso à bibliografia atualizada, é preciso que a
biblioteca adquira também material bibliográfico necessário à capacitação do
professor das diferentes disciplinas. (MACEDO e SEMEGHINI-SIQUEIRA, 2000).
Mas, o que se tem percebido, “in loco” ou por meio de estudos, é que,
pela falta de recursos, a coleção vai se formando quase que exclusivamente por
doações, o que, na maioria das vezes, têm comprometido a qualidade do acervo e
afastado os leitores, quer pela baixa atratividade do material, quer pela
inexpressiva relevância.
Esta questão foi levantada por Lemos
(1998, p. 359) ao mencionar que “os materiais relevantes e que atendem a maior
demanda dificilmente se obtém por doação ou permuta.”
Numa visão mais global, Silva, W. C.
(1999, p. 59) afirmou que “o acervo da biblioteca escolar, em geral pobre e
desatualizado, em função da carência crônica de recursos, [...] não atinge
apenas a biblioteca, mas a escola [...] como um todo.”
Então, por parte da escola, parece não
existir preocupação com esta questão, sendo que Vergueiro (1989, p. 10) afirmou
que “[...] para muitos, o tamanho da coleção ainda parece significar um sinal
de status.” Em função disso, muitas escolas têm orgulho do tamanho da coleção,
na maioria das vezes fruto de doação, sem se preocupar com a qualidade e o
interesse do seu público, transformando a biblioteca em um verdadeiro depósito
de livros.
Com relação ao acesso
às informações veiculadas na WEB,
pode-se dizer que os alunos ainda estão desassistidos. Enquanto ouvem dos
educadores que leitura e pesquisa são fundamentais para o aprendizado, na
biblioteca da escola sequer encontram um ponto de acesso à Internet; inclusive a
tecnologia para terem acesso ao acervo da própria biblioteca é ainda precária,
para não dizer inexistente.
Portanto, o importante papel da biblioteca
escolar não tem combinado com a escassez de recursos a ela destinados, o que
exige, internamente, compromisso da Direção, da Associação de Pais e Professores
(APP) e dos demais membros da comunidade escolar, e, externamente, dos poderes
públicos e privados.
2.1.4 Localização e espaço físico
A biblioteca escolar é o reflexo do seu ambiente
externo e interno. Com relação ao ambiente externo, a biblioteca deve estar
localizada em local que favoreça a sua visualização, e longe de ruídos oriundos
de ruas e avenidas, corredores e quadras de esportes, por gerarem desconforto,
cansaço, desatenção e até irritabilidade às pessoas que a freqüentam. É
necessário buscar ambiente propício às atividades de leitura e de pesquisa para
os usuários e para os profissionais que nela atuam.
Quanto ao ambiente
interno, a temperatura ambiente deve ser considerada, por interferir na comodidade dos freqüentadores e na
conservação do acervo. A incidência excessiva de luz (solar ou artificial) e a
umidade danificam qualquer suporte informacional e causam prejuízos à saúde das
pessoas.
Com relação ao espaço
físico, Lemos (1998, p. 363) registrou que “toda biblioteca conta, pelo menos,
com duas importantes divisões de espaço: uma destinada ao público, onde também
pode estar o acervo, e uma destinada às pessoas que lá trabalham.”
Infelizmente,
independentemente de ser pública ou privada, na maioria das poucas bibliotecas
existentes os usuários e os profissionais vêm ocupando o mesmo espaço físico, o
que tem comprometido as atividades de ambos.
Com relação ao espaço
destinado aos usuários, Douglas (1971, p. 82) sugeriu a existência de espaços
próprios para leitura e para estudo. A sala de leitura deve contar com assentos
suficientes para acomodar uma turma inteira “[...] 48 assentos, no mínimo para
300 alunos, 30 lugares suplementares para um efetivo superior a 500 alunos.”
O espaço para
acomodar adequadamente o acervo também deve ser lembrado, a fim de evitar o
acúmulo de livros e documentos em lugares de difícil acesso, colocados de
qualquer jeito e à mercê de poeira, ácaros e insetos.
A higienização da
biblioteca é outro ponto a ser destacado, uma vez que a limpeza diária é
importante para a saúde e o bem estar de seus frequentadores e para a
preservação e conservação do acervo.
Muitos outros fatores
devem ser considerados como: altura e tamanho de mesas em função da sua
utilização, modelo e altura de estantes, tipo e localização da iluminação,
altura e localização de janelas e portas, pisos que evitam escorregões e
ruídos, uso de películas nas janelas e definição quanto à localização das
estantes como forma de inibir o desbotamento dos livros e soltura de páginas,
causados pelo excesso de luminosidade, fiação e localização para a instalação
de microcomputadores, dentre tantos outros, que não foram aqui mencionados, uma
vez que as bibliotecas têm sido instaladas, na maioria das vezes, em espaços
adaptados.
Acredita-se que essa
situação seja resultado não apenas da carência de espaço físico disponível no
ambiente escolar para a instalação da biblioteca, mas também, pela ausência do
bibliotecário.
Para Garcia apud Leite (1999, p. 33) “o professor
é a mola propulsora do trabalho com a leitura e, certamente o principal
artífice do processo de aproximação entre aluno, leitura e a biblioteca.”
De acordo com Válio (1990, p. 21) o
professor deve ser “ [...] não só um mestre da disciplina que leciona, mas
também das habilidades de busca de informação e uso da biblioteca.” Esta
prática viria colaborar para que tais habilidades acompanhassem os alunos em
experiências futuras, tanto acadêmicas quanto profissionais.
Apesar desses enfoques, Neves (2000, p.
103) ao pesquisar bibliografias na área da educação sobre teorias de ensino e
aprendizagem, não encontrou “manifestações explícitas em que para os teóricos
educacionais, a biblioteca escolar faça parte integrante do processo de ensino
e de aprendizagem.”
Para Válio (1990, p.
19-20) “relacionar a biblioteca com a melhoria de ensino, utilizando-a em sua
plenitude, como mediadores do processo ensino-aprendizagem, parece ser uma
prática não implantada ainda nas escolas.”
Quanto às
metodologias de ensino, Machado (2002, p. 14) concluiu que “as metodologias
expositivas ou de obediência aos livros didáticos não permitem a abertura de
outros elementos na relação ensino-aprendizagem.”
Por conta dessa
situação, Silva apud Silva, M. A. (2004, p. 16) destacou que “os professores
não conhecem os acervos existentes nas bibliotecas e nem orientam os alunos no
que tange ao uso objetivo dos seus serviços.”
Milanesi (1983, p.
67) expressou preocupação com a extensão desse problema ao afirmar que “os
alunos que entram na Universidade carregam os problemas de um ensino
fundamentado na reprodução e não são capazes de se livrarem deles.”
Ao diagnosticarem tal
problemática no meio acadêmico, Díaz Bordenave e Pereira (2001, p. 255)
concluíram que os alunos lêem pouco porque:
[...]
egressam do ensino secundário sem o hábito de ler, e sobretudo, de frequentar a
biblioteca; As apostilas condicionam o aluno a não procurar outras fontes; A
carga horária excessiva não deixa tempo para que os alunos freqüentem a
biblioteca; A biblioteca tem poucos livros, facilidades precárias, mal
atendimento; Os alunos não sabem como utilizar a biblioteca; Os professores não
estimulam o uso da biblioteca: em geral os alunos não precisam freqüentar a
biblioteca para serem aprovados.
Em função disso os Autores
(2001, p. 20) sugeriram
medidas para que haja melhorias no quadro de desempenho do Ensino Superior,
dentre as quais se dá destaque “[...] ensinar os alunos a estudar e aprender;
[...] desenvolver nos alunos a atitude e a habilidade da pesquisa; [...].”
Afinal, não são essas as medidas que
deveriam ser adotadas em todo o Ensino Básico e Profissionalizante? Será que
esse diagnóstico no Ensino Superior não reflete justamente a falta desses
instrumentos na formação básica?
O Governo tem
demonstrado preocupação com a questão. As orientações contidas nos PCNs para os
professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio mostram isso, mas é
necessário garantir condições para
a sua aplicabilidade. É possível que isto possa vir
a acontecer por meio de um currículo que capacite o professor a explorar o
espaço da biblioteca e, também, de maior investimento na biblioteca da
escola.
2.2.1 Escola: lugar para
aprender a gostar de ler
Para Escarpit e Baker
apud Leite (1999, p. 32, grifo nosso) “as atividades escolares de leitura nas
escolas são pouco motivadoras. Contando com
bibliotecas escolares as atividades vinculadas à leitura recreativa, será apresentada de maneira agradável e em ambiente adequado.”
Para os Autores, o gosto pela leitura está relacionado à
questão do acesso ao livro, e a escola, como espaço público, deve favorecê-lo,
criando oportunidades para que seja despertado nos alunos o interesse pela
leitura.
Para Leite (1999, p.
32), “[...] a família desempenha papel preponderante no processo de formação de
leitores, pois seus membros [...] são os primeiros incentivadores da
criança.”
Mas, como exigir dos
pais um estímulo que não receberam? Com a carga diária de trabalho e tão pouco
tempo para os filhos, resta à escola a incumbência de tal tarefa, mas não é esse um dos papéis da escola?
A biblioteca da
escola, ao oferecer aos usuários acesso a uma coleção formada por bons livros,
cria condições para que a coleção seja “consumida” não pela cobrança do
currículo, mas pela curiosidade e pelo prazer da leitura, o que ajudaria os
alunos no desempenho curricular, uma vez que todas as atividades escolares
exigem do aluno o exercício da leitura e a interpretação do que foi lido.
2.2.2 Pesquisa: uma prática, ainda, precária na escola
Entende-se que a pesquisa demandada pela
escola deve ser vista sob dois aspectos: o da existência da biblioteca na
escola, com acervo e toda a infra-estrutura necessária para receber os
estudantes, e o da necessidade da escola/professor orientar os alunos quanto
aos processos de elaboração (coleta de dados, seleção, citação, referência,
etc.) e de sua apresentação escrita.
Conforme Faqueti e Rados (2002, não paginado,
grifo nosso) a pesquisa é “um importante instrumento metodológico para
estimular o aprendizado escolar tendo em vista que sua elaboração envolve
diretamente o manuseio de informações
diversificadas.”
Para Macedo e Semeghini-Siqueira (2000, p.
26) “a orientação à pesquisa escolar como política a ser adotada na escola
auxiliará o aluno na seleção e reconhecimento da melhor informação e
estruturação dos textos.”
De acordo com
Campello (2001, p. 77) um bom acervo permitirá “que as crianças aprendam sobre
as próprias fontes de informação no que diz respeito à sua autoria, origem, da
época em que foram produzidas, percebendo que elas são produtos da pesquisa e
do trabalho de diversas pessoas.”
Para Neves (2000, p. 111) a pesquisa
escolar
[...] poderá se constituir em uma das
melhores estratégias para favorecer o processo de aprendizagem do aluno pelo
próprio aluno. Esta prática envolve, basicamente, atividades de leitura e de
escrita, exigindo, porém de seu agente processos de pensamento mais elaborados
que superem a mera decodificação do sistema verbal ou a transcrição de textos.
No entanto, a carência do acervo quanto à
atualização, diversidade, quantidade e a disponibilidade das informações faz
com que os alunos utilizem as poucas e as mesmas fontes de informação quando da
realização dos trabalhos escolares, e que, somada à falta de orientação quanto
a sua elaboração, abrem caminho para os chamados trabalhos-cópia.
Essa situação tem gerado um quadro em que
as opiniões e as reflexões dos alunos são pouco exploradas ou omitidas, fazendo
com que os trabalhos apresentem características de impessoalidade.
O uso da Internet pelos alunos, associado à falta de orientação à pesquisa
por parte da escola, têm colaborado para o agravamento da problemática da “cola”,
cujas informações podem ser oriundas, inclusive de sites de procedência duvidosa.
(GARCEZ, 2004).
Enquanto a atividade
de orientação à pesquisa na escola abre a possibilidade para que os alunos
tenham oportunidade de usufruir a informação num modelo educativo fundamentado
na construção do conhecimento, a inexistência de biblioteca na maioria das
escolas e/ou a falta de estrutura nas poucas existentes, faz com que os
estudantes encontrem na Biblioteca Pública um refúgio para a realização de suas
pesquisas.
Há muito tempo as
bibliotecas públicas vêm sendo tomadas por estudantes de todas as idades. Na
verdade, como bem registrou Miranda apud Antunes, W. A. (1986, p. 125) “a biblioteca pública vem exercendo o
papel de suplência da biblioteca escolar.”
3 CONSIDERAÇÕES
Compreende-se que a
biblioteca bem estruturada e equipada pode se transformar em forte aliada no processo ensino-aprendizagem,
contribuindo para que os índices do Governo, relacionados ao desempenho escolar
dos educandos, sejam de melhor qualidade.
É necessário que haja vontade política dos
dirigentes nas esferas dos poderes Executivo e Legislativo Estadual, e órgãos
de classe (professores e bibliotecários), no sentido de viabilizar ações que
garantam a permanência da biblioteca e do bibliotecário nas escolas públicas.
As escolas da Rede Pública do Município de
Florianópolis (SC) possuem bibliotecas e bibliotecários, no entanto o Estado
encontra-se desprovido, ainda, destes profissionais nas escolas e, nem todas
contam com bibliotecas em suas estruturas.
Há uma mobilização da Classe Bibliotecária
Catarinense, junto ao Governo do Estado e da Assembléia Legislativa, para a
criação de 300 cargos de bibliotecários. Mesmo sabendo de antemão que este
número é insuficiente para atender as 1.329 unidades escolares públicas do
Estado de Santa Catarina, a categoria está otimista.
Talvez seja este um começo para que no
futuro, a obrigatoriedade de biblioteca e de bibliotecário nas escolas de
ensino fundamental e médio venha ser a mesma dispensada às unidades acadêmicas.
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Abstract: Approaches the importance of libraries and the
librarians to be pertaining to school context. It discourses about the
collaborative work on teachers to include the library in pedagogical practical.
Through official data proves the few investments in the school library and how
librarians might be include in this environment. It relates the children poor
performances to the deficiency of instruments to reading and research on the
school. It argues so that the State Executive duty with urgency is to creation
a librarian position on the Santa Catarina State Education Secretary, Science
and Technology.
Keywords:
School library; Learning process; School Librarian.
______
Eliane Fioravante Garcez
Bibliotecária, CRB-14/238
Especialista em Gestão da Informação – UFSC
Especialista em Gestão de Bibliotecas – UDESC
E-mail: efgarcez@ig.com.br
Artigo
recebido em: 29/08/2006
Aceito para publicação em: 15/12/2006