Palavras-chave: Linguagem organizacional; Linguagem compartilhada; Criação
do conhecimento organizacional; Gestão do conhecimento.
Com o foco voltado para
os bens intangíveis da empresa, sobretudo para o conhecimento, teorias como a
da criação do conhecimento organizacional, surgiram com o intuito de melhor
compreender e explicar o processo criador e disseminador do conhecimento no
ambiente empresarial. A teoria da criação do conhecimento organizacional traz
uma perspectiva japonesa com relação à gestão das organizações, melhor dizendo,
traz à tona uma perspectiva que analisa a empresa de dentro para fora, em que o
conhecimento não é importado e/ou adquirido, mas sim, criado e transformado
dentro das próprias organizações.
Um dos fatores
primordiais para o processo de criação do conhecimento nas empresas é a
comunicação entre os diversos tipos e níveis de conhecimento. Essa comunicação
é efetuada pelas pessoas da empresa, ou sistemas criados por essas mesmas
pessoas. Tal fato recai na importância que a linguagem (ou terminologia, ou
vocabulário) organizacional tem para que uma empresa possua uma eficiente
comunicação e, conseqüentemente, um eficiente processo de criação do
conhecimento. É preciso falar a mesma língua, ou seja, utilizar uma
terminologia e/ou vocabulário comum a todos na empresa, para que as
experiências sejam compartilhadas e para que o conhecimento seja criado.
Justificando a
importância que a linguagem usada dentro das empresas tem para a gestão do
conhecimento, por meio da teoria da criação do conhecimento organizacional este
artigo apresenta um levantamento bibliográfico realizado parcialmente da
literatura da Ciência da Informação no Brasil, que tem por objetivo constatar
se esse fator relevante vem sendo efetivamente abordado nos estudos de gestão
do conhecimento.
Uma das poucas
unanimidades, em se
tratando da literatura da gestão do conhecimento, é o
fato de que todo
conhecimento, seja ele tangível ou intangível, tem origem
no ser humano. Ao
cunhar as idéias da ‘ecologia da
informação’, Davenport (1998) enfatiza que
gerir conhecimento organizacional consiste em gerir pessoas,
relações e
ambientes organizacionais. A preocupação mais
significativa deste início de
século XXI, no que concerne à administração
das organizações, é o ‘aprender a
lhe dar com o bem intangível mais precioso das
organizações – o conhecimento’,
que Sveiby (1998) preferiu classificar como ‘ativo
intangível’ fundamental de
uma organização, e, que Stewart (1998) preferiu chamar de
‘capital intelectual’
da empresa.
Probst, Raub e Romhardt (2002), ao tecerem
as idéias que enfatizam a importância da preservação do conhecimento
organizacional, afirmam que negligenciar a preservação daquilo que é produzido
e criado dentro das empresas, acarreta na contratação de onerosas consultorias
externas com o intuito de encontrar soluções de problemas internos. Isso
equivale a pagar para terceiros redescobrirem, ou recriarem, aquilo que já era
feito mas, que se perdeu no tempo devido à má conservação do conhecimento, ou
seja, a organização compra um produto ou serviço criado por ela mesma. Essa
tendência em buscar fora da organização as soluções para os problemas internos
das empresas é uma rotina ocidental, que na maioria das vezes evidencia uma
falta de visão interna da organização. Uma importante contribuição para pensar
de maneira diferente o desenvolvimento e implantação de uma gestão voltada ao
conhecimento, é a teoria da criação do conhecimento na empresa de Nonaka e
Takeuchi (1997). Essa teoria, traz às mesas de discussões uma nova perspectiva,
uma visão com a marca oriental de que a solução para os problemas das
organizações está dentro da própria organização. Se o conhecimento é gerado
dentro das empresas, é para dentro das empresas que se deve voltar os esforços
intelectuais que regem a gestão do conhecimento. Para uma melhor compreensão,
segue-se uma breve descrição da teoria da criação do conhecimento na
empresa.
A Teoria da Criação do Conhecimento
Organizacional de Nonaka e Takeuchi (1997) postula que o conhecimento dentro das
organizações é criado por meio de conversões do conhecimento e condições
capacitadoras que formam uma espiral passando por duas dimensões, a
epistemológica e a ontológica. A dimensão epistemológica é onde ocorrem as
conversões dos conhecimentos tácitos (pessoais, difíceis de serem formulados e
comunicados) e conhecimentos explícitos (codificados, transmissíveis
formalmente e sistematicamente). A dimensão ontológica é onde ocorre a
transferência e/ou transformação de nível de conhecimento: do conhecimento
individual para o conhecimento em grupo, que é transferido (transformado) para
o conhecimento organizacional, que por sua vez, transforma-se em conhecimento
interorganizacional, expandido para outras organizações. Na dimensão
epistemológica existem, segundo a Teoria da Criação do Conhecimento
Organizacional, quatro modos de conversão do conhecimento: a) socialização –
consiste na interação do conhecimento tácito com conhecimento tácito (pode-se
imaginar um grupo de leigos em assuntos panificadores aprendendo a fazer pão
com um padeiro profissional, neste caso o aprendizado se dá apenas com a
observação e repetição); b) externalização -
consiste na conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito
(o padeiro codificando, ou seja, formalizando/documentando seu conhecimento
pessoal em um caderno de receitas); c) internalização – conversão do
conhecimento explícito para conhecimento tácito (o grupo de leigos
internalizando os escritos do caderno de receitas elaborado pelo padeiro para
transformá-lo em conhecimento pessoal); e d) combinação – interação entre
conhecimento explícito e conhecimento explícito (combinar os escritos de duas
ou mais receitas de pão).
Para que a espiral do conhecimento ocorra
efetivamente, é necessário que a transmissão dos conhecimentos (tácitos e
explícitos) ocorram, não somente na dimensão epistemológica, mas também na
dimensão ontológica, passando pelos diferentes níveis de conhecimento
(individual, em grupo, organizacional e extra-organizacional). Para tanto, é
necessário compreender o que Nonaka e Takeuchi (1997) chamam de condições
capacitadoras da criação do conhecimento organizacional. A primeira condição
capacitadora citada pelos autores é a intenção, que é a aspiração de uma
organização, suas metas. A segunda condição capacitadora é a autonomia,
todos os membros da organização agindo individualmente de maneira autônoma, sem
uma estrutura hierárquica castradora. A flutuação e o caos criativo
são as condições capacitadoras que perturbam a comodidade das rotinas organizacionais;
essa quebra de rotina causada pela flutuação de aspectos externos à empresa
acarreta em questionamentos dos próprios conceitos e procedimentos
organizacionais. A quarta condição capacitadora que permite que a espiral do
conhecimento aconteça é a redundância, que significa a superposição
intencional de informações importantes ao funcionamento da empresa. A variedade
de requisitos é a quinta condição necessária à espiral do conhecimento,
pois a diversidade interna nos processos organizacionais desencadeia uma maior
complexidade de procedimentos, o que potencializa a equipe organizacional
enfrentar desafios.
Dando continuidade ao raciocínio de Nonaka
e Takeuchi (1997), a espiral do conhecimento ainda depende de cinco fases
processuais, a saber: compartilhamento do conhecimento tácito, criação de
conceitos, justificação de conceitos, construção de arquétipo e difusão
interativa do conhecimento.
Para que a espiral do conhecimento da
teoria de Nonaka e Takeuchi ocorra em sua plenitude, ou seja, para que a
criação do conhecimento aconteça dentro das empresas, é necessário que os modos
de conversão do conhecimento, as condições capacitadoras e as fases processuais
tenham uma fluência eficaz. Para que essas etapas ocorram de maneira eficaz, é
imprescindível uma eficiente comunicação organizacional, o que se leva a
inferir que o uso de uma linguagem ou vocabulário empresarial é fundamental.
Davenport e Prusak (1998) enfatizam que o uso de uma linguagem clara e objetiva
é um dos fatores que levam os projetos de gestão do conhecimento a obterem
êxito. Segundo os autores “a clareza de propósito e de terminologia é fator
fundamental de qualquer tipo de projeto de mudança organizacional, e é um
elemento particularmente importante da boa gestão do conhecimento” (DAVENPORT,
PRUSAK, 1998, p. 189). Davenport (1998), ao dissertar a respeito da ‘ecologia
da informação’, ressalta a importância de uma terminologia organizacional ao
apresentar a relevância de uma empresa saber lidar com os múltiplos
significados dos termos utilizados internamente. Probst, Raub e Romhardt
(2002), ao refletirem sobre a importância da preservação do conhecimento
organizacional, afirmam que a definição de termos em grupo, ou seja, a criação coletiva
de uma linguagem comum, é um recurso positivo para fixar e preservar idéias e
pensamentos da organização. Os autores ressaltam ainda a eficiência que as
linguagens comuns proporcionam ao compartilhamento das experiências
organizacionais. Como exemplo de um projeto de gestão do conhecimento bem
sucedido que atribui à linguagem comum uma importância significativa, pode-se
citar, segundo Plonski et al. (2003), o Sistema de Informação Empresarial e
Tecnológica da Cadeia Produtiva de Couro e Calçados (SIET – Couro e Calçados),
desenvolvido pelo Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio
Exterior (MDIC). O SIET – Couro e Calçados criou um portal que reune grande
parte do conhecimento referente ao respectivo setor produtivo no Brasil e no
mundo. Com o intuito de utilizar uma terminologia adequada, os desenvolvedores
do projeto adotaram o “Microtesauro – Terminologia Couro-Calçado” do Senai, e,
o “Glossário Técnico do Couro e Calçado em Sete Idiomas”, produzido pelo CTCCA
e pela Abicalçados.
Terra et al. (2006) afirmam que a
taxonomia é um elemento essencial para a gestão do conhecimento. Para os
autores, taxonomia é um sistema para classificar e facilitar o acesso à
informação, e tem como objetivos: representar conceitos por meio de termos;
agilizar a comunicação entre especialistas e outros públicos, ou seja,
encontrar consenso entre diversidade de significação; é um vocabulário
controlado que visa alocar, recuperar e comunicar informações de maneira lógica
em um sistema de informação.
A construção de uma ontologia para
gerenciar um sistema de informação empresarial para a área de Telecomunicações,
apresentado por Rodríguez Barquín, Moreiro González e Luiz Pinto (2006), é
outro exemplo de como as linguagens especializadas estão contribuindo substancialmente
para os trabalhos de gestão do conhecimento. Para os autores, “as ontologias
são aplicações que vão permitir cumprir com o objetivo que nos propusemos que é
criar uma ferramenta para gerar o conhecimento de um Sistema de Informação de
empresa no setor de telecomunicações” (RODRÍGUEZ BARQUÍN, MOREIRO GONZÁLEZ E
LUIZ PINTO, 2006, p. 6).
Conforme discorrido nos parágrafos
anteriores, observa-se o uso de tesauros, glossários, taxonomias e ontologias
em projetos de gestão do conhecimento. Todos esses instrumentos são, para a
Ciência da Informação, linguagens documentárias ou modelos de representação do
conhecimento. Linguagens documentárias (LDs) - são linguagens artificialmente
construídas e constituídas de sistemas simbólicos que visam ‘traduzir’
sinteticamente conteúdos documentais, utilizadas nos sistemas documentários
para indexação, armazenamento e recuperação da informação. O léxico utilizado
pela linguagem natural é composto pelo vocabulário de uma determinada língua,
ou seja, a relação de todas as palavras faladas por essa mesma língua, enquanto
o léxico adotado pela linguagem documentária é a relação de termos e símbolos
empregados para a identificação temática nos sistemas de informação. Uma
linguagem documentária pode ser construída, ou apenas empregada, para facilitar
a comunicação entre especialistas de uma determinada área do conhecimento e/ou
de uma determinada organização.
Retomando a teoria da Criação do
Conhecimento Organizacional de Nonaka e Takeuchi (1997), constata-se que os modos
de conversão do conhecimento, que proporcionam as condições capacitadoras e as
fases de processos do conhecimento, ou seja, possibilitam a realização da
espiral do conhecimento, dependem impreterivelmente da comunicação, que por sua
vez está indissociavelmente ligada à linguagem. No caso da externalização,
faz-se uso da linguagem para codificar (explicitar) o conhecimento tácito.
Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que a externalização é a conversão principal
no processo de criação do conhecimento, pois o conhecimento tácito, se não
codificado e documentado, está fadado a não ser adequadamente transferido com o
passar do tempo. No caso da internalização, é necessário aptidão em decodificar
a linguagem codificada do conhecimento explícito para que este se torne
conhecimento pessoal (tácito). Na combinação, a linguagem de um conhecimento
codificado deve ser compatível com a linguagem de outro conhecimento codificado
para que haja uma compreensão e conseqüentemente, criação de novo conhecimento.
Surge uma certa divergência de idéias quanto à socialização (conversão de
conhecimento tácito para tácito). Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que nesse
modo de conversão não se faz uso da linguagem, pois o conhecimento é
transferido por meio de observação e repetição. Nesse caso, fica evidente que
os autores japoneses não levaram em consideração a linguagem gestual, e nem
mesmo o significativo efeito da fala. Ao refletirem a respeito da importância
de uma linguagem compartilhada dentro das organizações, Probst, Raub e Romhardt
(2002, p. 186) afirmam que
A palavra falada é mais poderosa que os
registros escritos. É a melhor maneira de preservar e fixar experiências de
grupo. A fala está mais perto de nós do que a palavra escrita. No decorrer de
sua vida, uma empresa desenvolve seu vocabulário próprio; os novos funcionários
precisam aprendê-lo para participarem da conversa. Isso vai muito além das
abreviações usuais, que são usadas em prol da eficiência. Palavras comuns como
qualidade, mudança e segurança, são usadas de forma específicas na empresa e,
assim, tornam-se veículos da história da empresa.
Nas palavras de Probst, Raub e Romhardt
(2002) fica claro que a linguagem está fortemente presente na interação entre
conhecimento tácito e conhecimento tácito (socialização), e mais, fica evidente
também que a linguagem falada auxilia a conversão ontológica de nível de
conhecimento de grupo para organizacional. Com o exposto, não é descabido
afirmar que o sucesso nos modos de conversão do conhecimento e,
conseqüentemente, na espiral da criação do conhecimento, depende
fundamentalmente da linguagem utilizada pela organização. Essa linguagem, ou
vocabulário, deve necessariamente ser compreensível por todos na empresa, para
que todos sejam capazes de se comunicarem (codificar e decodificar) nas mais
variadas atividades. A formação e a transmissão do conhecimento se dá por meio
da linguagem comunicada.
Valentim e Gelinski (2005) afirmam que é
impossível criar conhecimento sem o domínio das representações (significantes)
e dos significados das coisas; para tanto, é essencial a construção de uma
terminologia específica voltada aos negócios da empresa, pois proporciona uma
linguagem consistente e fácil de ser compartilhada.
Sabendo da importância da linguagem usada
dentro dos ambientes organizacionais, é necessário atribuir ao uso de uma
linguagem comum sua devida significância dentro das empresas. Linguagem comum,
linguagem organizacional, vocabulário compartilhado, terminologia empresarial,
etc., são vários as nomenclaturas referentes. O importante é que as
organizações criem, ou adotem uma linguagem que seja compartilhada com todos da
empresa, pois é de extrema relevância que os membros de uma organização falem e
entendam a mesma ‘língua’, para que os elementos da espiral do conhecimento
possam fluir eficientemente.
É pautado na importância que a linguagem
organizacional tem para a criação do conhecimento dentro das empresas - pois é
sabido que o conhecimento é criado individualmente através da linguagem
(escrita ou falada) e transmitida para o coletivo - que o presente artigo
apresenta um levantamento parcial da literatura voltada à gestão do
conhecimento na área da Ciência da Informação no Brasil. O intuito do
levantamento bibliográfico é constatar se os artigos relativos à gestão do
conhecimento estão atribuindo à terminologia usada dentro das empresas a
relevância efetiva de sua função, ou seja, constatar se esse fator tão
fundamental para o sucesso dos projetos de gestão do conhecimento está sendo
considerado nos estudos do respectivo tema.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para realizar o levantamento bibliográfico
dos artigos cujas temáticas abordem a gestão do conhecimento, foram
selecionados aleatoriamente quatro periódicos científicos da área da Ciência da
Informação que possuem conceituação máxima (Conceito A) nacional, na área de
Ciências Sociais Aplicadas I, pelo programa de avaliação Qualis da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)1.
Embora o levantamento tenha sido
realizado nas edições on-lines dos periódicos selecionados, o que
subentende acesso livre de barreiras territoriais, optou-se em selecionar
periódicos de instituições de distintas regiões do Brasil. As revistas
selecionadas foram: Informação & Sociedade: Estudos2,
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – região Nordeste; Perspectivas em
Ciência da Informação3, da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) – região Sudeste; Revista Ciência da Informação4,
do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência da Informação (IBICT) – região
Centro-Oeste; e Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e
Ciência da Informação5, da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) – região Sul.
1ª Etapa – Estratégia de
Busca
Para recuperar os artigos nos sites
dos periódicos selecionados, processo que foi realizado entre os dias
28/nov./2006 e 01/dez./2006, fez-se uso dos dispositivos de busca fornecidos
pelos próprios sites, e, utilizou-se como sentença de busca o termo
‘gestão do conhecimento’. Essa estratégia de busca foi adotada para todos as
revistas com exceção da Encontros Bibli, cuja pesquisa resultou em uma gama
muito grande de artigos, a qual misturou temas variados. No caso da Encontros
Bibli realizou-se uma consulta em todos os vinte e seis números publicados,
buscando pelo termo ‘gestão do conhecimento’ nos títulos e palavras-chave dos
artigos. Quantitativamente, os artigos com temas da gestão do conhecimento (GC)
recuperados nos quatro periódicos foram:
1. Informação & Sociedade: Estudos – 4 artigos
2. Perspectivas em Ciência da Informação – 31 ocorrências6
3. Revista Ciência da Informação – 29 artigos
4. Encontros Bibli – 13 artigos
TOTAL – 77 ocorrências
2ª Etapa –Tratamento dos artigos recuperados com o tema GC
O passo seguinte foi identificar, nos 77 artigos
recuperados, a presença dos termos, “linguagem”, “terminologia” e
“vocabulário”. Tal procedimento auxiliaria, como de fato o fez, a identificar
expressões como “linguagem comum”, “linguagem organizacional”, “terminologia
comum”, “terminologia empresarial”, “vocabulário empresarial”, “vocabulário
específico”, ou expressões semelhantes. Para tanto, foi realizada uma leitura
humano-estratégica e uma leitura automática em cada artigo, ou seja, uma
leitura dos títulos, palavras-chave, resumos, títulos de seções e introduções,
e, posteriormente, uma busca automática (utilizando o ‘localizador de palavras’
do próprio navegador – Ctrl F). Quantitativamente, os resultados obtidos foram:
a) Informação & Sociedade: Estudos – dos 4 artigos, 2 apresentaram um ou mais
termo(s) pesquisado(s)
b) Perspectivas em Ciência da Informação – das 31 ocorrências,
apenas 01 artigo apresentou um ou mais termo(s) pesquisado(s)
c) Revista Ciência da Informação – dos 29 artigos, 9
apresentaram um ou mais termo(s)
pesquisado(s)
d) Encontros Bibli – dos 13 artigos, 2 apresentaram um ou mais
termo(s) pesquisado(s)
TOTAL – das 77 ocorrências, apenas 14 artigos
apresentaram um ou mais termo(s) pesquisado(s).
3ª Etapa – Análise dos artigos que apresentaram os termos
pesquisados
Nesta fase, efetuou-se uma leitura
integral das seções onde se encontram os termos pesquisados nos 14 artigos. Tal
procedimento possibilitou identificar o contexto em que os respectivos termos
estão inseridos nos artigos, e, conseqüentemente, verificar quantos artigos efetivamente
estão abordando o uso de uma linguagem compartilhada como fator importante para
as atividades de gestão do conhecimento. A seguir, é apresentado o número de
artigos por revista que abordam o fator linguagem/terminologia/vocabulário
usado nas organizações:
a) Sociedade & Informação: Estudos – 2 artigos
b) Perspectivas em Ciência da Informação – 1 artigo
c) Ciência da Informação – 5 artigos
d) Encontros Bibli – 2 artigos
TOTAL – 10
artigos
Com o refinamento da pesquisa, observa-se
que a quantidade de artigos diminui significativamente quando se busca
identificar os textos que efetivamente abordam a linguagem utilizada dentro das
organizações como fator imprescindível para uma eficiente gestão do
conhecimento, mesmo com o fato de a criação do conhecimento organizacional
depender diretamente da linguagem terminológica. Inicialmente, tinha-se um
corpus de 77 textos, que foram reduzidos para 14 ao pesquisar os termos
específicos (linguagem, terminologia e vocabulário), e, reduzidos para 10 após
a análise que identificou o conteúdo dos artigos (conforme Gráfico 1). Dos 10
artigos que realmente abordam a linguagem usada dentro das empresas como
relevantes no processo de gestão do conhecimento, todos foram publicados do ano
de 2001 até hoje, o que evidencia que a atenção dada a essa perspectiva, embora
tímida, é um tanto quanto recente.
Gráfico 1 –
Quantidade de artigos por etapa no decorrer da pesquisa
Dos 10 artigos que tratam o uso de uma linguagem compartilhada nas
organizações, 5 foram publicados na Ciência da Informação, 2 na Sociedade &
Informação: Estudos, 2 na Encontros Bibli, e 1 na Perspectivas em Ciência da
Informação (conforme Gráfico 2).
Gráfico 2 –
Quantidade de artigos, que tratam a linguagem na GC, por periódico
Constatar que apenas 10 dos 77 artigos
analisados apresentam a importância da linguagem utilizada dentro das
organizações é explicitar que menos de 13% (12,99%) dos artigos que abordam o
tema gestão do conhecimento nos periódicos investigados dedicam atenção ao
fator imprescindível da linguagem nas empresas.
4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A teoria da criação do conhecimento
organizacional fornece subsídios substanciais para se afirmar que a linguagem
(terminologia, vocabulário) usada nas e pelas organizações, são essenciais para
que a criação do conhecimento ocorra de maneira eficiente. É por meio da
linguagem que idéias e experiências são transmitidas e compartilhadas, seja no
âmbito social, seja no âmbito organizacional. No caso das empresas, fazer uso
de uma linguagem comum, que possibilite o efetivo compartilhamento de conceitos
e processos, é fazer uso de uma linguagem cuja terminologia (vocabulário) seja
do domínio de todos, pois todos inseridos na realidade de uma organização devem
ser aptos a codificar e decodificar conhecimentos, sejam eles tácitos ou
explícitos. É por meio da linguagem usada, e de preferência criada pela própria
organização, que os conceitos, as metas e as experiências vão sendo
incorporadas nas rotinas da empresa, ajudando a construir seus conhecimentos e,
conseqüentemente, sua história como um organismo vivo.
Como foi apresentado no decorrer deste
artigo, os modos de conversão do conhecimento que possibilitam as condições
capacitadoras e as fases processuais conceberem a espiral do conhecimento (transformando
o nível epistemológico e ontológico do conhecimento), depende,
impreterivelmente da comunicação que esses diversos níveis mantêm entre si. A
comunicação dos diversos tipos e níveis de conhecimento só se torna eficientemente
possível se a linguagem utilizada para comunicá-los for comum a todos. Contudo,
não é descabido afirmar que a criação do conhecimento organizacional depende
fundamentalmente da linguagem organizacional.
Com o levantamento bibliográfico realizado
nos periódicos descritos neste trabalho, constatou-se que menos de 13% dos
artigos que abordam a gestão do conhecimento nas empresas estão considerando a
importância da linguagem que possibilita o compartilhamento do conhecimento nas
organizações. Esse fato leva a considerar que a perspectiva japonesa de criação
do conhecimento, ou seja, a perspectiva de olhar a empresa de dentro para fora,
ainda está sendo timidamente explorada pelos estudos de gestão do conhecimento
publicados nos periódicos brasileiros aqui descritos da área da ciência da
informação. Por fim, é possível afirmar que a tendência ocidental de buscar
solucionar problemas empresariais por meio de consultorias externas irá
prevalecer por mais algum tempo. Provavelmente serão as mesmas consultorias que
irão apontar a linguagem organizacional como a solução para problemas de gestão
do conhecimento.
NOTAS
1 Disponível em < http://www.capes.gov.br/capes/portal/
>.
2 Disponível em < http://www.informacaoesociedade.ufpb.br/ojs2/index.php/ies
>.
3 Disponível em < http://www.eci.ufmg.br/pcionline/ >.
4 Disponível em < http://www.ibict.br/cienciadainformacao/
>.
5 Disponível em < http://www.encontros-bibli.ufsc.br/ >.
6 Este número corresponde a
artigos, resumos de Teses e Dissertações e resenhas. Porém, foram considerados
somente os artigos.
REFERÊNCIAS
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tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura,
1998. Cap. 5. p. 90-108.
DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Conhecimento empresarial: como
as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Tradução de Lenke Peres.
Rio de Janeiro: Campus, 1998. 237 p.
NONAKA, I.;
TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas
japonesas geram a dinâmica da inovação. Tradução de Ana Beatriz Rodrigues e
Priscilla Martins Celeste. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 358 p.
PLONSKI, G. A. et al. Siet – couro e calçados: ferramenta para
gestão do conhecimento e inteligência competitiva na cadeia produtiva de couros
e calçados. In: TERRA, José Cláudio C. (Org.). Gestão do conhecimento e
e-learning na prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. Cap. 22. p. 182-190.
PROBST, G.;
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conhecimento: os elementos construtivos do sucesso. Tradução de Maria
Adelaide Carpigiani. Porto Alegre: Bookman, 2002. Cap. 10, p. 175-193.
RODRÍGUEZ
BARQUÍN, B. A.; MOREIRO GONZÁLEZ, J. A.; LUIZ PINTO, A. Construção de uma
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STEWART, T. A. Capital
intelectual: a nova vantagem competitiva das empresas. Tradução de Ama
Beatriz Rodrigues, Priscilla Martins Celeste. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 237
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SVEIBY, K. E. A
nova riqueza das organizações: gerenciando e avaliando patrimônios de
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TERRA, J. C. C. et al. Taxonomia: elemento fundamental para gestão do
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inteligência competitiva organizacional. Informação & Sociedade:
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http://www.sgmf.pt/NR/rdonlyres/E407561C-1096-4B93-80DA-0F25F8D2C3D0/2801/gest%C3%A3odoconhecimentovantagemcompetititva.pdf>.
Acesso em: 06 dez. 2006.
______
Abstract: The
concept of knowledge administration started to be disseminated in the studies
of various areas starting in the second half of the 90s. With the dissemination
of the term distinct referential perspectives of theme appeared. The Japanese
perspective postulated by Nonaka and Takeuchi affirm that knowledge is created
within the company in the form of a spiral that transforms it in different
levels. Based on this perspective, the article presents a bibliographical
survey on part of the scientific literature of Information Sciences with the
intent of pointing out the importance of language utilized in companies for the
creation of the organizational knowledge. As a result of the survey, it was
observed that the organizational language factor is rarely brought into
question in the analyzed literature focalizing on the theme of knowledge
organization.
Keywords: Organizacional language; Shared language; Organizacional
knowledge - Creation; Knowledge management.
______
Rodrigo de Sales
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação – UFSC, Bacharel em Biblioteconomia – UFSC, Universidade
Federal de Santa Catarina, Bolsista (CNPq) do NUPILL/UFSC – Florianópolis –
Santa Catarina - Brasil.
E-mail: rodrigo_biblio@yahoo.com.br
Aceito para
publicação em: 15/12/2006