Palavras-chave: Software
Livre; Gnuteca; Linux; Gestão de Bibliotecas.
A informação é tida como elemento que garante a interação social, pois é um bem comum que deve atuar como fator de integração, democracia, igualdade e dignidade humana (SALES, 2004). É também elemento dependente de estruturas de comunicação e tem produzido transformações no campo das telecomunicações. Esta realidade engloba um número cada vez maior de pessoas, no entanto, não se pode esquecer que é também expressivo o número de pessoas numa sociedade com as características sociais como a do Brasil, que não tem acesso a essas possibilidades tecnológicas, estando assim expostas a reduzidos pontos de acesso.
Neste sentido, cresce a responsabilidade do setor produtor de Informática no sentido de democratizar essas possibilidades tecnológicas que garantam acesso à informação. Da mesma forma, os profissionais que atuam na área informacional devem também buscar opções que potencializem o acesso, considerando ainda as condições econômicas, que, muitas vezes cerceiam a implementação de bons projetos. Assim, a implantação de Software Livre em unidades de informação tem sido uma medida cada vez mais comum. É um destes exemplos que o presente artigo pretende apresentar.
Os sistemas integrados de gestão de bibliotecas visam automatizar os processos de uma unidade de informação dividindo-os em módulos, estruturando cada tarefa para que atue em conjunto no restante do sistema.
Segundo Todd (apud CAMPREGHER; GOMES; COSTA, 2004), “os sistemas de gestão de bibliotecas são tipicamente pacotes integrados que incluem módulos para a catalogação, OPAC, aquisição, circulação, controle de publicações seriadas, empréstimo entre bibliotecas [...]”.
O chamado “software livre”
é uma filosofia que idealiza o compartilhamento do código
fonte de softwares desenvolvidos em colaboração ou não,
por um ou vários programadores. De acordo com Silveira (2003, p.
37), “O GNU/Linux está baseado nos esforços de mais de 400
mil desenvolvedores espalhados pelos cinco continentes e por mais de noventa
países”. E o autor ainda afirma:
O movimento do software livre é a maior expressão da imaginação dissidente de uma sociedade que busca mais do que a sua mercantilização. Trata-se de um movimento baseado no compartilhamento do conhecimento e na solidariedade praticada pela inteligência coletiva conectada na rede mundial de computadores. (SILVEIRA, 2003, p. 36).
Silberschatz (2000) considera
o Linux um sistema moderno e multiusuário, baseado em UNIX. Sobre
sua distribuição o mesmo autor explica que
O Kernel Linux é distribuído em conformidade com a GPL (Licença Pública Geral, General Public License) do projeto GNU, cujos termos são dispostos pela Free Software Foundation. O Linux não é um software de domínio público: domínio público implica que os autores abriram mão dos direitos autorais sobre o software; mas os direitos autorais sobre o código do Linux ainda são detidos por seus vários autores. Contudo, o Linux é um software livre: é livre no sentido de que as pessoas podem copiá-lo, modifica-lo, utiliza-lo da maneira que bem desejarem e distribuir suas cópias sem restrições. (SILBERSCHATZ, 2000).
FreeBSD é um sistema
operacional avançado compatível com diversas plataformas,
é derivado do BSD (versão do UNIX desenvolvido pela Universidade
da Califórnia). Assim como o Linux, é distribuído
sem nenhum custo para o usuário, e inclui o código fonte,
e está de acordo com a licença pública GPL/GNU.
O Gnuteca é a solução da SOLIS/UNIVATES para o sistema de bibliotecas multicampi que gerencia. O código fonte do Gnuteca, atualmente na versão 1.5 e com previsão da versão 1.6 para o segundo semestre de 2005, está disponível na internet tanto no site do próprio Gnuteca, como no sistema CVS (sistema de controle de versão) de repositórios web, distribuído sob a licença GPL/GNU.
Trabalhos de consultoria
realizados recentemente tem apontado o Gnuteca como um sistema adequado
para diversas situações, desde que o suporte técnico
da informática esteja presente. (BROD, 2004).
O principal objetivo deste estágio foi realizar uma atividade voltada para processos de gestão, acesso e uso da informação, além de prover a automação do sistema de empréstimo, renovação, devolução e reserva através do Sistema de Gestão de Acervos, Empréstimo e Colaboração para Bibliotecas – GNUTECA, de Licença Pública Geral do projeto GNU da Free Software Foundation.
O Estágio Supervisionado
II foi o momento de colocar em prática todo conhecimento adquirido
no decorrer da aprendizagem acadêmica, visando à integralização
dos mesmos, o que é essencial para a formação de um
profissional engajado com os ideais de sua profissão, e ciente do
papel social e dos objetivos da prática bibliotecária.
No contexto dos órgãos
públicos e especificamente no judiciário, onde se encontra
abundante produção de informação, e a grande
velocidade com que a mesma é disseminada ultimamente, com o advento
das redes – como a Internet e as Intranets – exige que os pesquisadores
(discentes e profissionais) estejam sempre tão atualizados em seus
conhecimentos, quanto à capacidade que a Instituição
à qual pertencem lhes permite acompanhar.
Diante da realidade que se
apresenta nos dias de hoje, pode-se inferir a necessidade de disponibilizar
informações atuais em tempo real, ou quando não for
possível, utilizando apenas o tempo indispensável para torná-las
acessíveis. Assim, não apenas a otimização
dos processos biblioteconômicos, bem como as tecnologias disponíveis
para automação de bibliotecas, surgem como um meio para acelerar
os processos de circulação de materiais com o nível
de qualidade requerido para atender as necessidades dos usuários
desta Unidade de Informação especializada.
A Lei nº 6.928, de 07 de julho de 1981, criou a 12ª Região da Justiça do Trabalho, com jurisdição no Estado de Santa Catarina, e instituiu a correspondente Procuradoria Regional do Trabalho do Ministério Público da União. O território catarinense conquistou jurisdição trabalhista desvinculada da 9ª Região - Estado do Paraná e a Procuradoria Regional do Trabalho foi instalada, em janeiro de 1982. (MPU, 2005)
A atuação
do Ministério Público do Trabalho como fiscal passou por
profundas mudanças, iniciando assim uma nova fase em sua história.
Quando evidenciada a existência de interesse público é
priorizada a intervenção, por esse motivo houve necessidade
de acompanhamento das decisões, visando à interposição
de recursos, sempre que necessário, perante os Tribunais Trabalhistas.
A unidade de informação em questão utiliza diversas ferramentas para lidar com as demandas diárias de seus usuários, entre eles Procuradores, servidores e estagiários de Direito. Muitas necessidades têm sido atendidas através de informação em formato eletrônico, disseminada com a utilização de correio eletrônico, Internet, intranet, entre outros.
Ao tratarmos da informação
em suporte físico, verificamos que apesar do processo de catalogação/recuperação
da informação utilizar-se da tecnologia (ISIS), outros processos,
como de circulação/empréstimo, aquisição,
etc, eram realizados manualmente.
Verificou-se a partir dos testes preliminares a necessidade de instalar o pacote PHP-GTK, o que mostrou-se extremamente trabalhoso na plataforma utilizada, pela falta de recursos na instalação em função da longa cadeia de dependências.
Por iniciativa do suporte de informática, realizado pelo servidor Dionísio Pinheiro de Oliveira, foi instalada uma plataforma UNIX-Based, com funcionamento praticamente idêntico ao do Linux, o Free-BSD, que resolveria a questão causada pelas dependências do PHP-GTK, já que este conta com uma ferramenta que, através da rede, busca essas dependências em um repositório online e instala os pacotes automaticamente.
Ainda na instalação do Gnuteca na nova plataforma, ocorreram problemas nos scripts de configuração dos pacotes do Gnuteca, que tiveram que ser executados manualmente.
Novos testes na configuração e uso do Gnuteca, agora incluindo o módulo PHP-GTK foram realizados, e apesar de alguns problemas que foram sendo resolvidos durante os testes, finalmente pode-se iniciar a instalação em um servidor específico para essa finalidade.
Optou-se por manter a plataforma Free-BSD, preferindo efetuar manualmente os scripts do Gnuteca a instalar em uma plataforma Linux todas as dependências do aplicativo.
Utilizou-se, ainda, como
alternativa para driblar a lentidão dos computadores da biblioteca,
utilizar o VNC para acessar a plataforma PHP-GTK diretamente no Servidor,
evitando assim uma nova série de testes do PHP-GTK na plataforma
Windows.
As configurações
das planilhas e tabelas de entrada de dados, bem como as políticas
de circulação foram definidas previamente, utilizando para
catalogação o padrão internacional MARC 21, adaptado
para as necessidades específicas da unidade de informação
juntamente com a bibliotecária responsável.
Alguns detalhes na configuração
das tabelas são imprescindíveis para o correto funcionamento
do software. Assim, é importante ressalta-los.
A apresentação
gráfica dos campos MARC 21 pode ser agrupada para melhorar a interação
humana com o sistema, para utilizar essa separação, basta
seguir o exemplo:
Códigos= 901, 902, 903, 020, 035, 082, 090,
Entrada Principal= 100, 110, 111, 130,
Título= 240, 245,
Imprenta= 260, 300,
Séries= 440,
Notas= 500, 546, 590,
Assunto= 600, 610, 611, 630, 650,
Entradas Secundárias= 700, 710, 711, 730,
Entradas Secundárias de Séries= 800, 810, 811, 830,
Exemplar= 900
O uso da vírgula
no final de cada aba se faz necessário para evitar problemas na
execução do aplicativo; alguns campos não fazem parte
do conjunto fornecido pelo padrão MARC 21, mas são de uso
interno do software, e portanto, não devem ser ignorados, como o
campo 900 (exemplar).
A configuração
das políticas deve ser pré-definida e utilizar o mínimo
de elementos em cada tabela, para evitar problemas no comportamento do
software. Todas as tarefas exigem declaração de políticas,
inclusive a DEVOLUÇÃO. Se o direito de um grupo de efetuar
o EMPRÉSTIMO for declarado, por exemplo, e o direito de DEVOLUÇÃO
não for, qualquer membro cadastrado sob esse grupo poderá
levar obras, mas não conseguirá devolvê-las.
Foi efetuado treinamento
de configuração e uso do sistema para a bibliotecária,
e de uso do sistema com ênfase no módulo de circulação
para a estagiária da unidade de informação em questão.
A interface mostrou-se extremamente
amigável, já que sobre esse tópico ficou aparentemente
claro que ambas conseguiram absorver o conteúdo satisfatoriamente
em um curto tempo demandado na apresentação do aplicativo
e seus recursos.
Verificou-se a possibilidade
e migração dos dados da base ISIS para a base de dados do
Gnuteca, já que existem ferramentas disponíveis para essa
finalidade. Foi efetuado estudo cuidadoso sobre a estrutura, integridade
e qualidade dos dados, o que demonstrou a impossibilidade de efetuar a
migração.
Optou-se então por
alimentar a base de dados manualmente item a item, assegurando a integridade
e qualidade dos dados, já que a compatibilidade entre estruturas
é atendida pelo formato MARC 21.
Otimizar os serviços
oferecidos em bibliotecas especializadas e de pequeno porte na esfera pública
seria tarefa hercúlea, não fosse a realidade do Software
Livre no Brasil. A burocracia e a falta de verbas geralmente são
barreiras intransponíveis para os profissionais dessa área,
mesmo contando com o apoio da alta administração.
Assim, o Gnuteca configurou-se
como a melhor solução nesse contexto, permitindo automatizar
processos informacionais antes praticados de forma manual, tais como Empréstimo,
Devolução, Renovação e Reservas; e in loco,
como a Recuperação da Informação, que no WinISIS
não podia ser efetuada on-line, e tampouco por pessoas sem o treinamento
necessário para efetuar complicadas pesquisas nesse software.
O Gnuteca não é perfeito, existem lacunas no processamento técnico, como por exemplo, a catalogação de analíticas, que até a versão 1.5 não estava implementada adequadamente. A vantagem desse aplicativo, é que em um futuro próximo, essa funcionalidade pode, e deve, ser desenvolvida por qualquer programador, seja por iniciativa própria, seja através do trabalho em uma instituição ou projeto, remunerado ou voluntário, tornando-o uma ferramenta mais adequada ás necessidades de uma Unidade Informacional (UI) específica, ao mesmo tempo em que beneficia todas as UIs com as mesmas características e necessidades.
As necessidades operacionais da biblioteca do PRT 12ª Região, foram atendidas, ao menos na agilidade dos processos biblioteconômicos, e futuramente é possível ampliar as funcionalidades agregando módulos de apoio administrativo, que forneçam informações sobre os usuários, que disponibilize ferramentas para seleção e aquisição de material, que compartilhe dados com outros setores, etc.
O Software Livre pode fazer muito mais pelos profissionais da informação, com aplicativos de um custo que tange zero, e não exigem equipamento de última geração. É possível investir na quantidade, e assim atingir um número maior de pessoas, já que a qualidade pode ser assegurada através do compartilhamento de informações entre os profissionais de informática.
A inclusão digital
é uma etapa imprescindível atualmente para alçar o
Brasil ao patamar dos países desenvolvidos. A democratização
da informação pode qualificar os profissionais de nosso país
em diversas áreas e nos mais variados níveis de formação.
O que pode potencializar uma sociedade mais esclarecida, mais consciente
e mais participativa.
Keywords: Free Software;
Gnuteca; Linux; Library Management.
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Artigo recebido em: 05/08/2005
Aceito para publicação
em: 19/12/2005
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.11, n.1, p. 233-242, jan./jul., 2006.