ORIENTAÇÃO À PESQUISA ESCOLAR  AOS ALUNOS DE  5ª SÉRIE DE ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL: relato de experiência

Eliane Fioravante Garcez

Resumo: Apresenta a atividade de orientação à pesquisa como uma das possibilidades de atuação do bibliotecário no contexto escolar e sua contribuição no processo ensino-aprendizagem. Mostra a importância de se estabelecer parcerias entre bibliotecário e professor pela estreita relação entre biblioteca e sala de aula. Das observações feitas, propõe projeto-piloto como alternativa para melhorar a compreensão e o desempenho dos educandos, quando da realização dos trabalhos escolares.  Destaca a importância de socializá-lo à equipe docente pela interdisciplinaridade que o tema representa. Mostra os resultados desta experiência ambientada em escola pública estadual, localizada no município de Florianópolis - SC.
Palavras–chave: Biblioteca Escolar; Bibliotecário Escolar; Bibliotecário Educador; Escola Pública – Florianópolis;  Pesquisa Escolar; Pesquisa – Ensino Fundamental.
 

1 INTRODUÇÃO

A informação está “espalhada” em todo o meio social (bancas de revista, livrarias, cartazes, outdoors, museus, bibliotecas, cinemas, internet), mas ao observar a composição da pirâmide social brasileira, esta continua inacessível a muitos. Como forma de transpor este problema, há um lugar na escola onde várias informações devem estar reunidas, bastando apenas ativá-las, e este lugar é a biblioteca escolar.

Local de importância vital no processo ensino-aprendizagem, a biblioteca escolar, além de disponibilizar as informações contidas nas fontes de pesquisa (jornais, revistas, enciclopédias, almanaques, dicionários, índices e outros), deve oportunizar aos educandos contato com o acervo, fazendo-os capazes de conhecer suas peculiaridades (apresentação, forma de acesso, abrangência), tão importantes à formação e ao hábito de estudo. Portanto, capacitar o aluno para que este passe a reconhecer e manusear as fontes de pesquisa, e conscientizá-lo sobre a importância da leitura para a compreensão e síntese das informações ali contidas, é papel da escola e da Biblioteca escolar.

Sabe-se que a realidade das instituições de ensino no Brasil quanto aos quesitos incentivo à leitura e à pesquisa não são tão boa quanto se deseja. A ausência de biblioteca e bibliotecário, nas escolas, tem contribuído para tal diagnóstico. O Governo Federal tem avalizado esta situação, conforme mostra os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN
 

O papel da escola (e principalmente do professor) é fundamental, tanto no que se refere à biblioteca escolar quanto à de classe, para a organização de critérios de seleção de material impresso de qualidade e para a orientação dos alunos, de forma a promover a leitura autônoma, a aprendizagem de procedimentos de utilização de bibliotecas (empréstimos, seleção de repertório, utilização de índices, consulta a diferentes fontes de informação, seleção de textos adequados às suas necessidades, etc.), e a constituição de atitudes de cuidado e conservação do material disponível para consulta. Além disso, a organização do espaço físico – iluminação, estantes e disposição dos livros, agrupamentos dos livros no espaço disponível, mobiliário, etc. – deve garantir que todos os alunos tenham acesso ao material disponível. (BRASIL, 1997, p. 92).


Diante das colocações, é possível perceber, para desencanto da classe bibliotecária, que o referido documento além de omitir a atuação do bibliotecário no contexto escolar, cita funções que os professores “podem” exercer na biblioteca (seleção, empréstimo, orientação ao uso do material de pesquisa, conservação, estudo de layout), passando aos mesmos, algumas atribuições específicas do bibliotecário. E pergunta-se: este (des) entendimento por parte do Governo não tem contribuído para o permanente caos em que se encontra a biblioteca escolar brasileira? Sem o bibliotecário, como este espaço vem sendo explorado? E tratando-se especificamente sobre o tema pesquisa escolar, será que os professores estão capacitados ou mostram interesse em trabalhar o assunto? Que visão possuem de pesquisa escolar? Será que a permanência da prática dos “trabalhos-cópia” não serve para responder a estes questionamentos?

Perini (apud BAGNO, 1998, p. 9), entende que educação é mais do que a simples transmissão de conhecimento. É papel da escola e, por conseqüência, do educador, criar situações para que o educando seja levado a procurar conhecimento, a fim de desenvolver habilidades. Neste sentido, entende-se que, para a realização de trabalhos escolares, os alunos devam ser orientados a desenvolverem as habilidades de procurar, selecionar, comparar, escolher e criticar. Quando há ausência desses elementos os alunos deixam de fazer pesquisa, realizam apenas “trabalhos-cópia”. A letra da música de Gabriel, o Pensador, (1995, faixa 6, grifo nosso), traz à tona a questão:
 

Manhê! Tirei um dez na prova. Me dei bem, tirei um cem e eu quero ver quem me reprova. Decorei toda a lição. Não errei nenhuma questão. Não aprendi nada de bom, mas tirei dez (boa filhão!). Quase tudo que aprendi, amanhã já esqueci. Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi.


É possível perceber que a situação descrita acima, o decorar, junto com a cola, nas provas, é semelhante à realizações dos trabalhos dos trabalhos escolares. Portanto, a interferência da escola neste processo é essencial e se faz urgente, pois é onde o hábito da pesquisa deve ser plantado, desde o ensino fundamental e aumentando a possibilidade de estender-se além do ensino superior. Na verdade, o que se observa é que a “cola” tem acompanhado os alunos durante toda a sua formação, portanto, a escola tem ajudado a perpetuá-la. Não são raros os casos de denúncia de compra e venda de monografias para o Trabalho de Conclusão de Curso – TCC na graduação e, inclusive, na pós-graduação. A mídia tem abordado a questão e até mesmo apontado a problemática da “cola” que, em função da tecnologia, passou a ser virtual. A situação mostra-se ainda mais séria se formos considerar que os sites fornecem, muitas vezes, informações não muito confiáveis. Mas, como, a partir deste diagnóstico,  trabalhar o tema na escola, e minimizar esta situação? Como orientar alunos e fazer com que estes deixem de copiar e “colar” tudo que encontram pela frente, de fontes impressas às virtuais, do início do parágrafo ao ponto final, e apresentem o resultado desta prática como sendo um trabalho de pesquisa?

Abreu (2002, p. 25) referindo-se às reclamações feitas por professores e bibliotecários das escolas de Belo Horizonte, conclui que “ninguém está satisfeito com a pesquisa escolar”. Mas, enquanto os professores reclamam que os alunos copiam partes de fontes impressas e eletrônicas, os bibliotecários têm aguardado uma freqüência mais assídua do professor na biblioteca. Isto evidencia o quanto é imprescindível juntar esforços destes profissionais a fim de minimizar a situação. Sabe-se que no ambiente escolar, todos os profissionais colaboram para a formação integral dos educandos, mas pela estreita relação que a biblioteca possui com a sala de aula, bibliotecários e professores, que precisam trabalhar juntos, mantêm, ainda, uma relação à distância. No ideário defendido no Manifesto UNESCO/IFLA para Biblioteca Escolar (1999, p. 1), percebe-se tal preocupação, quando recomenda:
 

Já está comprovado que bibliotecários e professores, trabalhando em       conjunto, influenciam o desempenho dos estudantes para o alcance de maior nível na literácia na leitura e na escrita, na resolução de problemas, no uso da informação e das tecnologias de comunicação/informação.


Fragoso (2002, p. 130) lamenta a falta de entrosamento entre estes profissionais. Ao elencar as funções e as atribuições do bibliotecário escolar, chama a atenção para a necessidade de mudança de visão e de comportamento deste profissional e acrescenta que: “O que se pretende, [...], é fazer com que a biblioteca escolar seja o agente de transformação do ensino, à medida em que provoque mudanças pedagógicas na escola”.

No que tange à pesquisa escolar, o Manifesto UNESCO/IFLA para Biblioteca Escolar (1999, p. 2) menciona nos objetivos da biblioteca escolar:
 

...Tornar oportunas as vivências para a produção e  uso da informação/conhecimento, para compreensão, imaginação e entretenimento;
Cooperar com as ações da escola a todos os estudantes nos momentos de aprendizagem e de habilitação para avaliar e usar a informação, a despeito das variadas formas, suportes e meios de comunicação,  incluindo a sensibilidade para bem utilizar formas de comunicação com a comunidade onde estão inseridos;...


Conforme se pode observar, a situação tem representado grande desafio para todos os envolvidos com a educação, e  principalmente para o bibliotecário escolar por ser novo neste ambiente. Esse desafio precisa ser encarado. Tal entendimento fez com que se apresentasse à supervisão escolar do Colégio Policial Militar “Feliciano Nunes Pires”, no município de Florianópolis – SC, o projeto-piloto Orientação à pesquisa escolar aos alunos de 5ª série do Ensino Fundamental, e a colaboração recebida da professora de português foi fundamental para colocá-lo em prática.
 

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO

O Colégio Policial Militar “Feliciano Nunes Pires” é uma instituição de ensino  público, vinculada à Secretaria de Estado da Educação e Inovação, do Governo do Estado de Santa Catarina. Quando da execução do projeto, a instituição contava com 544 alunos, a partir da 5ª série do ensino fundamental a 3ª série do ensino médio, divididos em 15 turmas. O Colégio possui uma equipe composta por Direção (diretor, subdiretor, secretária), Secretaria (4 funcionários), Equipe Técnica pedagógica (1 supervisora, 2 orientadoras educacionais    (ensino médio e fundamental), 1 psicóloga, 1 assistente pedagógica), 2 comandantes do Corpo de Alunos, 2 bibliotecárias, 1 bolsista de biblioteconomia, 2 faxineiras, 1 programador, 1 merendeira, 5 auxiliares de serviços gerais e 37 professores.

A biblioteca “Cláudio Luciano Fernandes” localiza-se na parte térrea de sua edificação, sendo de fácil visualização e acesso. Funciona de segunda a sexta-feira, das 7:30 às 18:00 horas, ininterruptamente, e conta com uma equipe formada por duas bibliotecárias e uma bolsista do Curso de Biblioteconomia. Dos alunos matriculados, 87% freqüentam a biblioteca. O uniforme do Colégio é credencial para que os alunos possam utilizar a biblioteca. O empréstimo se estende aos familiares, sendo  intermediado pelos  alunos matriculados.

Como as demais bibliotecas escolares, o acervo é composto por um grande contingente de livros didáticos, paradidáticos e de literatura, resultado de doações feitas pelas editoras. Aos poucos, o acervo vem sendo renovado, e os recursos provenientes da cobrança de multas pelo atraso na devolução de livros retirados para empréstimo, têm sido  revertidos na compra de livros. Com aproximadamente 8.500 volumes, a coleção conta, ainda, com revistas, gibis, fitas VHS e CD ROMs.

Com uma equipe pequena, e apesar das dificuldades existentes neste espaço escolar, as profissionais da biblioteca têm atuado ativamente. Há quatro anos, a escola promove a Semana do Livro e da Biblioteca e a Campanha “Amigo da Biblioteca”, sendo que com a última tem conseguido aumentar o número de amigos e de doações de livros para a biblioteca. O projeto-piloto “Orientação à pesquisa escolar aos alunos de 5ª série do Ensino Fundamental” é um dos muitos exemplos de como este profissional concebe sua atuação e da própria biblioteca no ambiente escolar.
 

3 O PROJETO-PILOTO DE ORIENTAÇÃO À PESQUISA ESCOLAR

Com o projeto-piloto Orientação à pesquisa escolar aos alunos de 5ª série do Ensino Fundamental do Colégio Policial Militar “Feliciano Nunes Pires”, buscou-se capacitar 72 alunos, recém-ingressos na instituição, quanto aos procedimentos necessários para uma melhor compreensão e elaboração da pesquisa escolar, e contribuir para melhorar a qualidade de seus trabalhos, representando grande desafio tanto para a bibliotecária, quanto para os próprios alunos. O projeto teve como objetivos específicos:  a) Discutir o conceito de pesquisa; b) Apresentar exemplos de fontes de pesquisa; c) Mostrar as etapas para a elaboração de um trabalho de pesquisa; d) Oportunizar a realização de trabalhos para colocar em prática os conhecimentos teóricos apresentados em sala de aula; e) Orientar o acesso às informações contidas nas fontes de pesquisa; f) Levar o aluno a fazer uso efetivo das informações existentes na biblioteca da escola; g) Colaborar para a uniformização e  a padronização da apresentação dos trabalhos escolares; h) Informar sobre a questão do direito autoral (citação e referência bibliográfica); i) Conscientizar o aluno sobre a importância da leitura para a elaboração do trabalho de pesquisa.
 

3. 1 Metodologia


O projeto foi realizado em duas etapas distintas: ministração de conteúdos em sala de aula e utilização orientada de material informativo no ambiente da biblioteca. Com a elaboração dos planos de aula, fez-se o roteiro dos conteúdos e os recursos que seriam utilizados durante as aulas. Foram elaborados dois folders e transparências para a aplicação do projeto. As aulas expositivas, alternadas com atividades práticas, fizeram com que os alunos assimilassem os diferentes conceitos abordados. Para a realização dos trabalhos práticos de pesquisa escolar, os alunos dirigiram-se à biblioteca da escola ou às suas casas à procura de informações. Na biblioteca do colégio, tiveram a oportunidade de exercitar os conceitos trabalhados, compreendendo e utilizando os recursos existentes na mesma.
 

3. 2 Operacionalização


O período para a aplicação do projeto foi estabelecido em conjunto com a supervisão escolar e com a professora da disciplina de português. Durante o mês de março,  foi utilizada uma aula de 50 minutos cada, uma vez por semana, num total de  quatro aulas.  A parte teórica do projeto foi aplicada em sala de aula. Na primeira aula, foram apresentados e discutidos os conceitos de pesquisa, da cotidiana à escolar, os vários tipos de fontes de pesquisa (jornais, revistas, dicionários, almanaques, enciclopédias) para que se familiarizassem com estes materiais e reconhecessem as diferentes  formas de apresentação,  e para que tivessem acesso as etapas de um trabalho escolar (introdução, desenvolvimento, conclusão, anexos, referências), bem como às informações que estas devem apresentar. Foram repassados os elementos que devem figurar na capa do trabalho, a disposição dos mesmos e os locais das ilustrações. Após terem sido trabalhadas as informações, os alunos receberam dois folders, elaborados exclusivamente para a aplicação do projeto. O folder “Pesquisa escolar: o que é, como se faz” apresentou conceitos, as etapas da pesquisa, suas explicações, e algumas dicas. O folder “Referência bibliográfica: o que é, como se faz” trouxe orientações quanto aos elementos essenciais de uma referência bibliográfica segundo a NBR-6023, e a sua elaboração.

O uso das transparências e dos folders, distribuídos após a conclusão dos respectivos temas, serviu para auxiliar os alunos na elaboração dos trabalhos solicitados durante o projeto, e posteriormente às demais disciplinas do currículo escolar.  A cada aula há resgatado o conteúdo ministrado na aula anterior, com o objetivo de reforçar e recapitular o conteúdo ministrado.

Dentre os conteúdos ministrados, buscou-se levantar com a turma conceitos de pesquisa. Falou-se sobre a pesquisa do cotidiano, a escolar e a científica. Com a utilização de transparências, os conceitos, os objetivos, e as etapas da pesquisa foram trabalhados. As atividades que antecedem à pesquisa foram repassadas (anotar os dados passados pelo professor, buscar subsídios na biblioteca da escola, como ler os materiais e fazer os resumos). Falou-se sobre a parte do desenvolvimento, a primeira a ser feita, e o que deve conter. Abordou-se sobre a questão do direito autoral e as citações. A fim de encaminhar os alunos para a prática de uma pesquisa orientada, as turmas foram divididas em 11 equipes de trabalho, de 3 a 4 integrantes cada.  Definidos os grupos e distribuídos os temas (A biblioteca da minha escola, Monteiro Lobato: vida e obra, A história do livro, A biblioteca Nacional, O que é biblioteca?), passou-se à orientação de como o trabalho deveria ser realizado.  Partiu-se, então, para a mais importante etapa do trabalho, a do desenvolvimento, onde deveriam ser anotados os dados das fontes pesquisadas (autor, título, ano e página, somente), a princípio de maneira livre, e a citação, conforme orientação dada em sala. Dava-se então o primeiro passo para que os alunos saíssem da teoria e, na biblioteca da escola,  partissem para a prática,  pesquisando, lendo, resumindo, colocando suas palavras no texto, extraindo conceitos, interpretando-os e/ou utilizando-se de citações,  além de conhecer a biblioteca e seu acervo.

Ao comentar sobre a introdução e a conclusão, deu-se ênfase a etapa do desenvolvimento, sem a qual tornam-se de difícil elaboração. Falou-se da importância das ilustrações (mapas, gravuras, fotos)  e de que as mesmas servem para enriquecer  e esclarecer o conteúdo abordado no trabalho e, também, de que há dois lugares onde devem ser utilizadas, ou seja, no desenvolvimento, ou em anexo. Em ambos os casos, devem-se utilizar legendas para melhor orientar o leitor.  Passou-se, então, a abordar os elementos que devem figurar na capa do trabalho, e a disposição dos mesmos. Com relação à capa, foram informados de que, quando ilustrada, deve ter relação com o tema do trabalho, e devem-se evitar o uso de brilhos, purpurina e excesso de enfeites. Além disso, de acordo com as normas da instituição, deveria ser manuscrita como todo o trabalho. Os alunos receberam o folder “Pesquisa escolar: o que é, como se faz”, partindo para mais uma semana de atividade prática. Ao retornarem à sala de aula, seguiu-se com o tema referência, no qual foram apresentados o conceito, a finalidade, a ordenação dos elementos e a sua localização no trabalho. Exemplos de referência de livros, artigos de jornais, revistas, entrevistas, sites da internet, também foram apresentados. Os alunos foram informados de que os dados para a elaboração da referência bibliográfica devem ser extraídos da página de rosto dos livros.  No retroprojetor, a página de rosto do livro “Florestania: a cidadania dos povos da floresta”, de Maria Tereza Maldonado, serviu para que, juntos, extraíssemos os elementos para a elaboração da referência bibliográfica. Com as demais etapas do trabalho concluídas, os alunos resgataram os dados das fontes consultadas durante o desenvolvimento  e foram orientados a fazer as referências bibliográficas e incluí-las no trabalho. Desta forma, o trabalho estaria concluído, e sua entrega seria solicitada para a próxima semana. Dúvidas foram esclarecidas, e fez-se a distribuição do Folder “Pesquisa bibliográfica: o que é, como se faz”. Por último, foi solicitada a colaboração dos alunos para que respondessem um questionário. Com este instrumento fez-se o diagnóstico da turma: a origem dos alunos, se de escola pública ou privada, se já haviam recebido alguma orientação de como fazer um trabalho escolar. Pôde-se verificar os conhecimentos adquiridos sobre os temas trabalhados, e conhecer suas impressões  sobre o projeto, cujos resultados podem ser conferidos a seguir.
 

3. 3 Avaliação


Para a avaliação dos resultados, foram utilizados três instrumentos: a observação em sala de aula, os trabalhos práticos, elaborados  pelos alunos, e os questionários.
 

3. 4 A Observação


Da observação feita em sala de aula, pôde-se comprovar a participação dos alunos, que perguntaram e tiraram dúvidas. Para a realização dos trabalhos, percebeu-se o quanto a nota é considerada importante. “Vai valer nota, professora?” foi pergunta freqüente. Respondíamos que sim, uma vez que a professora de português, que permaneceu em sala durante a aplicação do projeto, o considerou para a média da disciplina.   Na biblioteca, foi gratificante fazer com que o aluno conhecesse as fontes de pesquisa, lesse, resumisse, usasse as suas palavras no texto do trabalho. Observou-se que o conteúdo sobre referência bibliográfica foi de difícil compreensão, mas que a distribuição do folder “Referência bibliográfica: o que é, como se faz”, somada ao exercício do dia-a-dia, fez com que assimilassem, aos poucos, o conteúdo à medida que os trabalhos foram realizados e as dúvidas sanadas.
 

3. 5 Os Trabalhos


Em relação aos cinco temas apresentados aos alunos para que exercitassem um trabalho de pesquisa, foi observado que estes buscaram informações, experimentaram diferentes  maneiras de acessar as informações, selecionaram, resumiram, colocaram suas palavras nos textos dos trabalhos, buscaram significados para palavras nunca antes lidas, fizeram entrevistas, identificaram a autoria dos textos, estruturaram e entregaram os trabalhos. Com estes em mãos foi possível constatar quantas novidades os alunos aprenderam.  Observou-se, também, que nem todos os alunos encararam o trabalho com seriedade, e houve, por isso, necessidade de se retornar à sala de aula para que revisassem alguns aspectos do trabalho que deveriam ser melhorados. Na impossibilidade de retornar à sala de aula, estas orientações ocorreram na própria biblioteca.
 

3. 6 Os Questionários


A aplicação de questionário, apresentando questões abertas e fechadas, serviu como instrumento de avaliação do processo ensino-aprendizagem. Como o projeto foi dirigido aos alunos recém-chegados à instituição, o referido instrumento serviu também para diagnosticar os hábitos destes quanto ao uso de biblioteca. O resultado serviu para verificar o que o mesmo significou para o aluno, como utilizam a biblioteca e se os objetivos propostos foram atingidos. Dos 68 questionários respondidos, foi possível constatar que dos alunos recém-chegados à escola, 41% são provenientes de instituições públicas e 59% de instituições particulares.  99%, dos alunos, responderam que a instituição de origem possuía biblioteca. Com relação ao uso da biblioteca, 2% dos alunos responderam que não a freqüentavam, 32% freqüentavam às vezes, 19% freqüentavam pouco e 47% eram assíduos freqüentadores da biblioteca da escola. Dos que a utilizavam, 41% para realizar trabalhos, 40% para emprestar livros, 14% para “passar o tempo”, e 5% para ler livros, estudar, conversar, fazer ficha de leitura e namorar. Do universo de alunos pesquisados, 43% já haviam recebido alguma orientação quanto a realização de trabalho escolar e 57% estavam tendo esta oportunidade pela primeira vez.

Quanto aos recursos utilizados, os alunos apresentaram as seguintes avaliações: 1) Apresentação do conteúdo e as explicações -  (Ruim 1%, Razoável 21%, e Boa 78%); 2) Uso de transparências - (Ruim 9%, Razoável 37%, e para 54%, considerada Boa); 3) Utilização dos folders - (Ruim para 8%, Razoável para 28%  e  Boa para 64%, dos alunos). Quanto ao prazo, um mês, de entrega dos trabalhos de pesquisa (Ruim para 10%, Razoável para 20%, e considerado Bom para 70% dos alunos). Quanto aos temas dos trabalhos, 9% disseram que eram ruins, 24% que eram razoáveis e 67% que foram bons. Com relação à participação do aluno, no projeto, pôde-se observar que 16% disseram que foi ruim, 51%  acharam razoável, e 33%, boa.

Com relação aos conhecimentos adquiridos, foi possível constatar que 96% dos alunos souberam responder o que é pesquisa, sendo que 4%  não responderam à questão. Quanto às partes que o trabalho escrito deve conter, 42% responderam de maneira correta, 42% apresentaram as respostas incompletas e/ou incorretas e 16%  não responderam à questão. Quando perguntados sobre para que serve a referência bibliográfica, 73% dos alunos acertaram, 15% erraram, e 12% deixaram, a questão, em branco. Ao serem solicitados a elaborar a referência bibliográfica do livro A bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes, para o qual fornecemos os demais elementos, constatou-se que apenas 4% dos alunos acertaram a questão, 66% erraram e 30% não responderam. Ao serem indagados sobre o que aprenderam de novo com as aulas, 6% dos alunos não responderam, 14%  disseram que não aprenderam nada de novo, e dos 80% dos alunos que disseram ter aprendido algo novo, tivemos como resposta:
 

1. Fazer pesquisa completa com referência e conclusão
2. Pesquisar melhor
3. Fazer referência bibliográfica
4. Fazer o trabalho de maneira correta e na ordem que deve ter
5. Colocar página de rosto
6. Fazer melhor a introdução, a conclusão e a referência bibliográfica
7. Muitas informações que não tinha aprendido
8. Que tem que colocar "  " antes de copiar alguma coisa
9. Que não pode escrever a palavra desenvolvimento
10. Pouco, pois havia aprendido no ano passado
11. Aprendi a fazer trabalhos melhores e algumas dicas
12. Que o trabalho não é só desenvolvimento
13. A página de rosto, capa e referência
14. Como fazer um trabalho organizado e completo
15. Introdução e algumas coisas que se deve colocar na capa
16. Que todo trabalho deve ter introdução, conclusão e referência bibliográfica
17. Que a biblioteca é muito importante para a pesquisa
18. Que se pode fazer o trabalho com várias anotações
19. Referência bibliográfica
20. Que devemos preservar e freqüentar a biblioteca
21. Fazer o trabalho melhor, e mais completo
22. A referência bibliográfica e a página de rosto
23. Que todo trabalho precisa ter 5 partes para ser completo
24. Eu entendi melhor a fazer a introdução
25. Sobre a edição e que o sobrenome do autor deve ser antes o nome e em caixa alta
26. Sobre bibliografia
27. As partes de um trabalho
28. Tudo para fazer trabalho e pesquisa sobre o assunto desejado
 
Na pergunta sobre qual tinha sido o título do trabalho feito por sua equipe, constatou-se que 87% dos alunos responderam corretamente, 6% incorretamente, e 7% não responderam. Quando consultados sobre o que aprenderam realizando o trabalho em equipe, 10% disseram que não aprenderam nada, 7% não responderam, e dos que responderam, 82% assim registraram:
 
1. Aprendi que é legal fazer trabalho
2. Fazer uma pesquisa bem feita
3. Aprendi mais sobre a biblioteca da escola
4. O que é biblioteca
5. Os tipos de biblioteca e para que servem
6. Como o livro evoluiu e onde surgiu primeiramente
7. Sobre a história do livro
8. Referências bibliográficas
9. Que biblioteca é um lugar onde você pode fazer trabalhos
10. O que é biblioteca e a fazer um trabalho completo
11. Que dá para ler livros, revistas e jornais pela internet
12. Como os egípcios faziam seus livros
13. A pesquisar
14. Como fazer o desenvolvimento, a introdução e a conclusão
15. Sobre a vida de um grande escritor brasileiro
16. A fazer pesquisa
17. Trabalho criativo e legal de fazer
18. A biblioteca de Alexandria
19. Um pouco sobre as bibliotecas de antigamente
20. Que nós fazemos novas descobertas nos livros
21. Sobre a vida e obra de Monteiro Lobato
22. Como fazer um trabalho
23. Que a Biblioteca Nacional foi fundada em 1810
24. Referência Bibliográfica
25. Como surgiu o livro
26. Quem inventou o papel
27. Como o livro era antes
28. Um pouco mais sobre o livro
29. Que o livro já foi de argila e de folhas de papiro
30. O que significa biblioteca e as regras do trabalho
31. Como se faz uma pesquisa e como se faz um trabalho


Na última questão, solicitou-se aos alunos uma avaliação crítica do projeto, apontando aspectos positivos e negativos, os quais podem ser conferidos a seguir:

Aspectos positivos:

1. Aprendemos a pesquisar juntos
2. Foi legal, a professora ensinou de um jeito que entendi
3. A explicação foi boa
4. As aulas foram legais
5. Não dormi na aula, não fiz muitas perguntas, mas prestei bem a atenção
6. Gostei das professoras
7. Aprendi muitas coisas novas
8. Observei quem tem vontade e quem não tem
9. Gostei. Foi mais completo do que a do outro colégio
10. Não achei chato nem legal, mas gostei de aprender
11. Toda a turma entendeu
12. Foi legal pesquisar coisas novas e com outras pessoas
13. Foi legal fazer o trabalho, a não ser por uma pessoa do grupo que mandou fazermos tudo.
14. Foi legal aprender sobre a história do livro
15. Aprendeu sobre o livro e os tipos de livros
16. Aulas boas e conheci coisas novas
17. A aula que eu tive com a bibliotecária foi boa pois eu entendi um pouco
mais sobre como fazer o trabalho. Deveríamos ter mais aulas com a bibliotecária. Valeu a pena
18. É muito melhor para pesquisar e entender o trabalho
19. O que aprendemos foi muito bom para nós
20. Foi legal e interessante


   Aspectos negativos:

1. Eu e minha amiga fizemos tudo sozinhas
2. Foi legal, mas a maioria do assunto eu já sabia
3. Já sabia tudo
4. Aprendi tudo menos a referência bibliográfica
5. Não escolhemos o grupo
6. Ter de fazer o trabalho
7. Faltou um pouco de clareza
8. Se reunir com o grupo para fazer o trabalho
9. Foi difícil se reunir, arrumar tudo. Às vezes tinha coisa errada no trabalho e tinha que arrumar
10. Não gostei de acordar cedo
11. As transparências estavam horríveis
12. Achei que as explicações poderiam ser melhores, não entendi direito
13. Uma pessoa do grupo que mandou fazermos tudo
14. Vir de manhã para o colégio
15. Ficar pouco tempo em casa, vir no colégio de manhã
16. Fazer o trabalho em grupo
17. Algumas coisas eu não entendi
18. Não gostei muito

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Primeiro projeto desta natureza, adotado na instituição, marca o início de uma atividade que revela ao corpo docente como há na biblioteca algumas respostas às dificuldades apresentadas pelos alunos em sala de aula. Entende-se que este projeto contribuirá para a melhoria do nível dos trabalhos realizados pelos alunos do Colégio Policial Militar “Feliciano Nunes Pires”, tanto em termos de conteúdo, quanto de apresentação, e recomenda-se sua continuidade. Espera-se dos colegas professores e da equipe pedagógica, colaboração e compreensão, no sentido de darem continuidade às orientações repassadas aos alunos durante a aplicação do projeto. Acredita-se que isto seja de fundamental importância para que haja, nos alunos, mudança de postura em relação à pesquisa, o que contribuirá para a melhor qualidade da aprendizagem. Sabe-se que o ser humano resiste à mudança, mas acredita-se que quanto antes o aluno começar a mudar o mau hábito na realização dos trabalhos, menos sofrerá ao chegar à idade adulta e à universidade. Quanto mais cedo inserir o aluno na atividade de pesquisa, menos tempo este permanecerá fazendo trabalhos-cópia, quer sejam de fontes impressas ou eletrônicas.

A experiência pedagógica aqui relatada é, ainda, recente na vida do bibliotecário escolar. Raro neste ambiente, este profissional vem sendo confundido com outros que pela biblioteca escolar costumam passar.  A técnica biblioteconômica, por ser pouco conhecida, é, ainda, pouco reconhecida e valorizada neste ambiente. Os professores costumam freqüentar a biblioteca com mais assiduidade quando, reconduzidos para este espaço, na função de “bibliotecário”. Neste sentido, espera-se que o bibliotecário escolar vislumbre alternativas para que a prática docente esteja mais conectada à biblioteca da escola. Acredita-se que o espaço escolar seja uma grande oportunidade para que a biblioteca passe a ser vista com a importância que tem, e que, infelizmente, poucos percebem. Com o projeto, foi possível estabelecer mais visivelmente o quão importante é o bibliotecário escolar, tanto na orientação aos alunos, quanto na colaboração com o professor, por este último possuir, muitas vezes, pouco conhecimento sobre o tema aqui abordado.
 

NOTA

Trabalho apresentado no III Seminário Biblioteca Escolar Espaço de Ação Pedagógica, realizado de 22 a 24 de setembro de 2004, em Belo Horizonte, MG.
 

REFERÊNCIAS

ABREU, V. L. F. G. Pesquisa escolar. In: CAMPELLO et al.  A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. p. 25-28.
GRUPO DE BIBLIOTECÁRIOS DA ÁREA ESCOLAR DE SANTA CATARINA. Manifesto UNESCO/IFLA para biblioteca escolar. Disponível em: http://www.gbaesc.kit.net. Acesso em: 13 maio 2004.
BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1998.102 p.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997. v. 2, p. 92.
CORRÊA, E. C. D. et al. Bibliotecário escolar: um educador? Revista ACB, Florianópolis, v. 7. n. 1, p. 107-123, jan./jun. 2002.
FRAGOSO, G. M. Biblioteca na escola. Revista ACB, Florianópolis, v. 7, n. 1, p. 124-131, jan./jun. 2002.
GABRIEL O PENSADOR. Estudo errado. In: GABRIEL O PENSADOR. Ainda é só o começo. Rio de Janeiro: Sony Music, p1995, 1 CD (ca. 57 min). Faixa 6 (5 min 12 s).
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UNIVERSIDADE cassou título de mestre. Diário Catarinense, Florianópolis, p. 26, 26 out. 2003.
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ORIENTATION TO THE SCHOOL RESEARCH TO THE STUDENTS OF 5th SERIES OF STATE PUBLIC SCHOOL: experience report

Abstract: This report presents an activity related to research orientation as one of the opportunities of a librarian works. At the same time it also gives a contribution to the teaching-learning process. It shows the relevance of establishing partnerships between the librarian and the teacher due to the close relation between the library and the classroom. According to the observations done in a pilot project was suggested as an option to improve students comprehension and performance while doing school works. This experience emphasizes the interdisciplinary by the school library. It also shows the results of this experience which was hold in a state public school in Florianópolis, Santa Catarina State.
Keywords: School Library; School Librarian; Librarian - Educator; State Public School – Florianópolis; School Research; Research – Basic School.
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Eliane Fioravante Garcez

Bibliotecária no Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires
Av. Madre Benvenuta, 265 - Trindade - Florianópolis – SC CEP 88036-500
E-mail: efgarcez@ig.com.br

Artigo recebido em: 05/08/2005
Aceito para publicação em: 19/12/2005

Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.11, n.1, p. 205-220, jan./jul., 2006.