AlternativaS de
incentivo à leitura: relato de experiência
Raquel Pacheco
Resumo: Relata a experiência das atividades
educacionais desenvolvidas no ambiente da Biblioteca Escolar Monteiro Lobato da
Escola Desdobrada Retiro da Lagoa da Prefeitura Municipal de Florianópolis, com
alunos de séries iniciais. Com o intuito de incentivar atividades de leitura em
uma biblioteca, relata o uso de livros infanto-juvenis, em datas alusivas, e
estratégias da contação de histórias. Como resultados observaram-se o despertar
da leitura na biblioteca, a maior socialização das crianças e desenvolvimento
da expressão pessoal.
Palavra-chave: Biblioteca escola; Incentivo à leitura; Leitura.
O propósito
deste relato é compartilhar experiências relevantes vivenciadas na Biblioteca
Monteiro Lobato da Escola Desdobrada Retiro da Lagoa.
A
biblioteca escolar é o espaço de trabalho em que o bibliotecário escolar deve
atuar, visando a interação de alunos e de professores, além de facilitar o
acesso à informação para o processo ensino-aprendizagem. Assim sendo,
Hilleshein e Fachin (2003) salientam que cabe ao bibliotecário escolar a busca
pela interação e sua inserção na estrutura funcional da biblioteca, passando a
participar de todo o processo organizacional fazendo-se presente nas atividades
das várias disciplinas.
Pensando em
como incentivar o hábito de leitura em uma biblioteca de escassos recursos e
quase nenhuma tecnologia, resolveu-se, então, fazer uso do que se tinha de
melhor em termos de tecnologia. E como o que havia de melhor era um
retroprojetor, lançou-se mão do mesmo e retroprojetou-se alguns livros
aproveitando o interesse da criançada na hora da visita à biblioteca.
Destarte,
o
retroprojetor deixou de ser uma peça decorativa na biblioteca e
passou a ser a
peça fundamental para a narração de
histórias, chamando a atenção da criançada
a
cada transparência projetada, pois facilitava a
observação das ilustrações por
todos de uma só vez. Assim, iam comentando e se deliciando com
as imagens. A
cada momento ouvia-se um “olha que legal!”; deste modo
descobriu-se uma nova
forma de despertar o interesse pelo mundo encantado da leitura.
Além disso,
comprovou-se que:
Um dos resultados mais agradáveis e
produtivos da leitura da história em voz alta para o grupo todo é poder
compartilhar as reações de cada um. Não é algo que simplesmente acontece: tem
que ser cultivado gradualmente, durante todo o período da educação infantil e
fundamental. (Kuhlthau, 2004, p.
30)
A atividade
no ambiente da biblioteca envolveu a bibliotecária, a estagiária, alunos da pré-escola,
1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries e alguns professores.
Durante a
sua realização, as crianças tiveram a oportunidade de exercitarem-se na
descoberta da leitura, interagindo, estimulando a imaginação e entrando em
contato com o livro, desenvolvendo, assim, o gosto pela leitura. Além disso,
trabalharam em grupos realizando atividades a partir das transparências dos textos
lidos (diferentes tipos de produções, pesquisas, dobraduras, desenhos
ilustrativos ao tema da história) em que foram demonstrando o domínio gradativo
da expressão escrita, ao mesmo tempo em que exercitavam a sociabilidade. Cumpre
lembrar que um dos objetivos da educação escolar, segundo Kuhlthau (2004), é
que as crianças e jovens aprendam a conviver em grupo de maneira produtiva e
cooperativa.
Considerando
o desenho um meio importante de liberar a fantasia e desenvolver a criatividade,
Bamberger (1991) afirma que quando as cenas de um livro são desenhadas, o
interesse pelo livro é aumentado.
Colomer e
Camps (2002) alertam que nos últimos tempos, a antiga hora do conto foi enriquecida com todo tipo de atividades dirigidas
ao fomento da leitura, principalmente no campo da leitura de imaginação para as
crianças e os jovens. Ressalta que a aplicação das atividades tem que conduzir
realmente à leitura dos livros para que não se converta em simples atividades
de entretenimento e jogo na escola, talvez muito valiosas por si mesmas, mas
muito distantes dos objetivos da formação leitora.
Certamente
os alunos participaram de atividades em que se sentiram orgulhosos, quando sua
criatividade foi exposta para que todos os seus amigos pudessem ver.
Conquistar o público
infantil, realizando atividades no ambiente da biblioteca é determinante para
aproximá-los dos livros e incentivá-los à leitura, bem como na familiarização e
uso da mesma. E, como assegura Chiavini (1994), como é fácil lidar com os pequenos!
Eles aceitam incondicionalmente as ofertas sinceras, deixam-se cativar sem medo
por tudo aquilo de que possam auferir prazer e contagiam os adultos com o gosto com o qual se
envolvem nas tarefas propostas e são reconhecidos.
Saci, de Maria Fernandes Antunes, refere-se ao conhecimento e a
valorização do folclore, expressão dos anseios, valores e misticismo do povo. O
livro apresenta a lenda do Saci num texto simples e direto.
Fofinho, de Teresa Noronha trata a identidade individual, em que o
pitinho nascido numa incubadeira sai em busca de sua identidade. Seria ele da
família do pato, do cachorro ou do balde?
Liga e desliga, de Camila Franco e Marcelo Pires, fala
sobre a ética. A história versa sobre uma televisão que não saía da frente de
um menino. Assim começa esta história, que inverte uma relação tão comum hoje
em dia, tratando a TV de forma nova e sem preconceito.
Buscando a
participação ativa do aluno no processo de aprendizagem, as atividades foram
relacionadas com o conteúdo que estava sendo ministrado em sala de aula ou com
a comemoração do mês em questão.
Andrade e
Blattmann (1998) alertam sobre a importância de serviços bibliotecários integrados
ao processo de ensino-aprendizagem para o desenvolvimento e solidificação do
processo de leitura nas crianças.
Nas
conjecturas de Colomer e Camps (2002), a narração oral de histórias pode ser utilizada
na escola em todos os níveis educativos, se as narrações forem escolhidas
levando em conta a idade dos receptores. Assim sendo, nas atividades realizadas
na biblioteca da escola após a leitura em voz alta e retroprojetadas dos livros
na biblioteca, levou-se em conta a fase de desenvolvimento, o interesse das
crianças e a sua relação com o projeto político pedagógico.
As
habilidades para usar a biblioteca e os recursos informacionais conforme
Kuhlthau (2004), não são aspectos isolados do projeto pedagógico da escola. Da
mesma forma, a leitura e a escrita constituem um conjunto de habilidades usadas
para alcançar outros objetivos de aprendizagem.
O objetivo
da hora das histórias, na teoria de Bamberger (1991), “[...] é a familiarização
com a literatura. Como ouvir é mais fácil do que ler, e como o leitor ajuda a
tornar compreensíveis o significado e o caráter do texto com a voz e a
expressão facial, até os que não gostam de ler se sentem encantados.” Deste
modo, qualquer individuo estimulado pela história se interessa em ler outros
livros.
Teberosky e
Colomer (2003) evidenciam a importância da leitura compartilhada1 e em voz alta para
crianças pequenas, pois favorece o desenvolvimento do vocabulário e a
compreensão de conceitos, bem como o conhecimento da linguagem escrita dos
livros. Enfatiza, ainda, que os professores devem incorporar a atividade de
leitura em voz alta dentro de sua programação diária. Não se pode deixar de incluir
aí o bibliotecário escolar, uma vez que o bibliotecário escolar também é um
educador cabendo-lhe, entre outras responsabilidades, o estímulo ao uso da
biblioteca e a elaboração de atividades que dinamizem o prazer pela leitura.
Isso leva a
conceder grande importância à leitura de histórias, poesias, contos, em voz alta por parte do bibliotecário. Ainda
segundo Teberosky e Colomer (2003), a leitura em voz alta permite associar os
signos gráficos com a linguagem e a linguagem com os tipos de textos.
Em comemoração ao dia do livro, homenagem feita a Monteiro Lobato,
foi apresentado no espaço da biblioteca da Escola Desdobrada Retiro da Lagoa, o
teatro A Biblioteca da Emília com os
personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo. No teatro, tentou-se explorar um
pouco do folclore brasileiro por meio das histórias de Monteiro Lobato,
destacando personagens, costumes e lendas que fazem parte da cultura brasileira. No intuito de introduzir
a criança no universo folclórico, despertando o interesse pela literatura, as
mesmas foram incentivadas a interagir com os dedoches, personagens do sítio. Em
seguida, houve atividades de cruzadinhas, pinturas, decifração de digramas e
desenhos.
No dia 22 de agosto, dia do folclore, preparou-se o livro Saci, de Maria Fernandes Antunes para ser
retroprojetado. Cada turma da escola foi convidada a participar do “cineminha”
que iria ser passado na biblioteca e em seguida haveria atividades. Todos
ficaram eufóricos, pensando na surpresa que iria acontecer na biblioteca. Após
ouvirem e assistirem a história os alunos foram convidados a realizar atividades
como dobraduras, desenhos e pinturas sobre o que haviam visto e ouvido.
Retornando à sala de aula a professora deu continuidade a atividade, pois era a
semana do folclore brasileiro.
Quando foi a vez de se falar sobre a cidadania, pensou-se em algum
livro infantil que pudesse transmitir a idéia das “diferentes” diferenças entre
as pessoas e provocar uma reflexão moral. Assim, foi selecionado o livro de
Teresa Noronha, Fofinho, uma história
surpreendente para as crianças da pré-escola á 2ª serie do ensino fundamental. Fofinho não sabia quem era e de onde
tinha vindo, pois havia sido doado ainda muito pequeno. A criançada interagiu
com tamanha compreensão, própria da idade, talvez nem sabendo que já estavam exercitando a cidadania, mas com certeza
saberão, quando for preciso; lembrarão da história contada na biblioteca.
E por último, mas não menos importante, a semana da saúde
dentária. No espaço da biblioteca, foram realizadas atividades com todas as
crianças da escola em comemoração ao “dia da saúde dental” com o objetivo
principal de orientar os alunos sobre a importância dos cuidados com a higiene
bucal.
Dentro de um contexto educativo tentou-se estimular a criatividade
da criançada, desenvolvendo atividades (de acordo com as diferentes idades), de
pinturas, montagem de histórias e pesquisas em livros informativos, visando à
orientação para a prevenção de cáries, doenças da gengiva e técnicas de
escovação.
Durante as atividades,
buscou-se conscientizar as crianças por meio de materiais didáticos e
demonstrações sobre os cuidados necessários para manter uma boa saúde bucal,
além de introduzi-las de forma lúdica e prazerosa no universo da pesquisa, uma
vez que é com a pesquisa e a leitura que o aluno construirá o próprio caminho
para o conhecimento.
Avaliando o
desenvolvimento das atividades na biblioteca foi possível perceber o despertar
para a leitura dos alunos e a mudança ocorrida tanto nas crianças como em
alguns professores.
As atividades despertaram as crianças para a leitura fomentando a
vontade de emprestar obras da biblioteca para serem lidas
As histórias dos personagens e lendas folclóricas foram bem
aceitas pelas crianças, principalmente por trabalhar com o imaginário e a
fantasia delas.
A biblioteca da escola passou a ser vista como um local de
pesquisa e aquisição de conhecimento. As crianças passaram a buscar informações
para pesquisas quando os professores solicitavam algum trabalho de classe. E,
aos poucos, se introduziu a conscientização da importância das referências nos
trabalhos.
Colomer e Camps (2002) lembram que apesar das dificuldades
materiais e da ausência de dotação oficial de pessoal para organizar e
potencializar as bibliotecas nas escolas, sua utilização como instrumento de
primeira ordem para a intervenção educativa é uma realidade que está em alta de
um modo auspicioso. Todavia o aspecto menos potencializado talvez seja o de seu
uso como fonte de informação para a consulta e o trabalho dos próprios alunos.
Como o trabalho escolar ainda está muito centralizado no triangulo estrito professor-livro-texto-aluno, a
biblioteca é usada de forma muito esporádica para a consulta de dicionários e
enciclopédias ou para a realização de algum trabalho. Essa realidade é
constatada no dia-a-dia do bibliotecário escolar.
Buscou-se adequar as atividades com a realidade da biblioteca da
escola. Visto que não se possuía tecnologias avançadas, conseguiu-se fazer de
um simples retroprojetor, uma ferramenta auxiliar agregando os livros
infanto-juvenis para o incentivo à leitura.
Realizando um trabalho em parceria com todos os colaboradores da
escola, a bibliotecária ouviu sugestões dos professores, das auxiliares de
ensino e do próprio diretor na maneira de pensar e repensar a biblioteca como
parte da prática pedagógica. Foi perceptível o sentimento arraigado entre os
educadores, de forma geral, no sentido de ser a biblioteca apenas um espaço
para a “guarda” de livros. Entretanto, alguns professores já perceberam que a
biblioteca pode ser um espaço para o compartilhamento de conhecimentos por meio
dos livros, pois os livros, na conjectura de Bamberger (1975) “são o que tem
sido a séculos: portadores do conhecimento de uma geração para outra.”
A utilização do retroprojetor foi muito acertada, uma vez que
causou expectativas e despertou o desejo de ler nas crianças, fazendo-as
perceberem que ler pode ser interessante e divertido.
Nesta experiência cabe ressaltar a dificuldade de recursos
financeiros e tecnológicos, principalmente em se tratando de materiais de
consumo. Mas isso não foi entrave, pois havia a decisão firme de transpor quaisquer
obstáculos para encontrar uma alternativa de incentivo à leitura.
NOTAS
1 São aquelas que se dirigem à criança, fazendo-a participar como
destinatária do ato de leitura.
Referências
ANDRADE,
Araci Isaltina de, BLATTMANN, Ursula. Atividades de incentivo à leitura em
bibliotecas escolares. Disponível em: <www.ced.ufsc.br/~ursula/papers/leitura.html>.
Acesso em: 2 nov. 2005.
BAMBERGER,
Richard. Como
incentivar o habito de leitura. 5.ed. São Paulo: Atica; [s.l.]: UNESCO,
1991.
CHIAVINI, Vera Lúcia Mello. Contar
histórias é fazer arte. São Carlos: UFSCar, 1994. Dissertação
(Mestrado em Educação) - Centro de Ciências Humanas. Universidade Federal de
São Carlos, São Carlos, 1994..
COLOMER, Teresa; CAMPS, Ana. Ensinar
a ler, ensinar a compreender. Porto Alegre: ARTMED, 2002.
Hillesheim, Araci Isaltina de Andrade; Fachin, Gleisy Regina Bóries. Biblioteca escolar e a
leitura. Revista ACB: Biblioteconomia
CAMPELLO, Bernadete Santos. et al. Carol. Como usar a biblioteca na escola: um programa de atividades para o
ensino fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista.
______
READING
INCENTIVE AlternativeS: experience
report
Abstract: Refer
the experience with the educational activities that are developed in the
environment of the library Monteiro Lobato from the school “Escola Desdobrada
Retiro da Lagoa” with primary students. To stimulated reading activities first
was how to incentive reading activities on the library, introduction to children’s
books, at special dates. and reading hours (tell stories). Some results are the
beginning of reading at the library, better children socialization and develop
self-expression.
Keywords: School library; Reading incentive;
______
Raquel Pacheco
Bacharel em
Biblioteconomia - UFSC. Especialista em Gestão de Bibliotecas - UDESC.
Bibliotecária Biblioteca Escolar Monteiro Lobato da Escola Desdobrada Retiro da
Lagoa pertencente a rede municipal de educação - Prefeitura Municipal de
Florianópolis.
E-mail: pachecoraquel@yahoo.com.br
Artigo
recebido em: 02/05/2006
Aceito para publicação em: 19/11/2006