BIBLIOTECA NA ESCOLA – UMA RELAÇÃO A SER CONSTRUÍDA
Graça Maria Fragoso
Resumo: Apresenta reflexões sobre a escola real e a ideal
no tempo da globalização. Aponta o papel da biblioteca no ambiente
real e no ideal. Mostra o desenvolvimento do indivíduo ao tornar-se
cidadão na sociedade da informação.
Palavras-chave: Biblioteca escolar; Escola – Biblioteca; Globalização
1 A LEITURA
Aprecio imensamente o cotidiano escolar – estar à frente de uma
biblioteca é realmente formidável – por participar do processo
pedagógico, por dialogar com alunos, professores e funcionários,
instigando, motivando, conhecendo, aprendendo, divulgando e convencendo.
Esta é a performance necessária ao profissional bibliotecário.
O trabalho dentro de uma biblioteca na escola possibilita inúmeras
inserções educadoras. Conviver numa comunidade na qual se
desenvolvem projetos de leituras e ao mesmo tempo contribuir para formação
de leitores solidários, futuros cidadãos conscientes, é
altamente gratificante. Acredito que a leitura é fundamental para
a construção de um novo mundo no qual venham surgir mentalidades
novas para a superação das tristes condições
do terceiro mundo, pelo extermínio dos fatores de desintegração
do povo, como a fome, a miséria, o analfabetismo.
Então, como educadora, relato minha visão da biblioteca inserida
no contexto educacional, através da experiência adquirida ao
longo dos anos em que atuei nesse espaço vivo e dinâmico da escola.
Uma relação que necessita ser construída. Acredito que,
para falar dessa relação, é preciso inserir as bibliotecas
das instituições de ensino em duas vertentes: a da escola
real - aquela escola distante dos conceitos acadêmicos, com
grandes problemas, como a falta de recursos humanos e materiais que dificulta
o cotidiano de alunos, professores, pais e comunidade - e a escola ideal
- aquela sonhada por muitos e vivenciada por poucos, existindo antes nas
formulações acadêmicas e nas legislações
que estabelecem seus princípios.
2 A ESCOLA REAL
Mas o que se percebe é que a instituição escola ainda
se distancia da teoria estabelecida por legislações e conceitos
acadêmicos. Na escola real, as legislações e teorias,
muitas vezes, são distorcidas e chegam a transformá-la numa
espécie de shopping cultural. Tem de tudo nessa nova escola – do
consumo do lazer à violência. A interação da
escola na comunidade é vivida de maneira inadequada, e os portões
das escolas são abertos não para projetos integrados entre
a comunidade e a escola, mas muitas vezes apenas para gerar recursos financeiros
para sua manutenção.
2.1 O professor
Em processo de adaptação, o professor busca sua autoformação
para condução da prática pedagógica. Com poucos
recursos para se capacitar, ainda caminha na mão única, tendo
como únicos recursos, a saliva, o quadro negro (agora branco) e o
giz (agora o pincel colorido). Com jornadas de trabalho de três turnos,
ainda está sujeito à violência que a cada dia invade
as escolas.
2.2 A biblioteca - depósito de livros e alunos
Nas bibliotecas escolares das escolas públicas, conta-se, às
vezes, com profissionais sem qualificação para ocupar a função,
sem motivação, e aguardando a hora de se aposentar, como também
se encontra profissionais sem habilitação mas que buscam atuar
nesse ambiente, leitores com desenvoltura e com entusiasmo ausência
de um profissional com formação específica para a atividade
é sentida devido à não existência do cargo de
bibliotecário nessas instituições .
Nas instituições privadas de ensino, existem tanto bibliotecas
como os profissionais bibliotecários. Nesse ambiente, podem ser encontrados
computadores, acervo informatizado, espaço físico adaptado
e ações de incentivo à leitura. O que se percebe é
a ausência de uma política de formação de acervo,
este é composto na maioria das vezes por livros didáticos,
e as compras se reduzem apenas às chamadas leituras obrigatórias.
A relação bibliotecário/comunidade escolar ainda é
distante, sem a prática necessária para o desenvolvimento
de projetos integrados. Num contexto informatizado, esse profissional corre
o sério risco de se transformar em um operador de equipamentos de
informática, distanciando-se de sua função primordial
- estar em constante interação com a comunidade escolar. Percebe-se
ainda que a relação leitor/bibliotecário (considero
leitor a toda a comunidade pedagógica – alunos, professores, orientadores,
supervisores, funcionários administrativos) é burocrática,
ou seja, as iniciativas de incentivo à leitura não são
desenvolvidas através da biblioteca, esta se apresenta apenas como
suporte para as atividades. A relação que se estabelece é
a de um estranho balcão de achados e perdidos, ou seja, leitores
perdidos sem encontrar respostas para seus questionamentos diante de profissionais
alheios, que não satisfazem os anseios dos que transitam pelo ambiente.
3 A ESCOLA IDEAL
A escola ideal, como foco de uma relação aberta, implica
a participação ativa da comunidade, dando ênfase à
formação do cidadão crítico, participativo e
seletivo1. É fonte ampla de conhecimento e de respeito
às diferentes manifestações culturais (pluralidade cultural),
de respeito às diferenças individuais e às dificuldades
de aprendizagem e onde se enfatiza a construção coletiva do
conhecimento. Nesse ambiente, na certa, não haverá espaços
para preconceitos, e as idéias debatidas encontram ressonâncias
na sociedade .
3.1 O professor
O professor busca sua autoformação para conduzir uma nova
prática pedagógica, sendo que a sala de aula se converte em
fonte constante de diálogo que possibilita as interações
interdisciplinares. Evidencia-se um profissional aberto e consciente de que
sua atuação não é isolada e de que os conhecimentos
se completam e interagem.
Sendo um profissional em constante interação com o meio, investe
em sua formação integral e está apto para atuar em
equipe. Envolvido com a comunidade (sem preconceitos), estabelece laços
com as teorias subjacentes às atividades de aprendizagem e facilita
aos alunos o desenvolvimento dos sensos de responsabilidade, de solidariedade
e de justiça .
Atuar na diversidade cultural e com alunos com necessidades especiais é
necessário aos que buscam se estabelecer como educadores.
3.2 A biblioteca
Espaço consolidado na escola, a biblioteca identifica-se como centro
ativo de aprendizagem, amplamente integrada ao processo pedagógico,
não necessitando ser adjetivada como escolar. Funcionando em local
planejado para esse fim, com acervo definido através de política
de seleção e aquisição, com a qual a comunidade
escolar é contemplada em suas necessidades de leitura e informação,
tem como prioridade projetos de leitura estabelecidos por ações
de incentivo, integradas com o quadro pedagógico.
Surgirá naturalmente o profissional mais especializado – o
educador gerenciador da leitura e da informação, mediador entre
o leitor e as fontes bibliográficas em seus variados suportes,
sejam eles impressos , virtuais ou digitais.
4 REFLEXÕES PARA FINALIZAR
Concluindo as considerações, enfatiza-se que as bibliotecas
nas escolas estão ainda distantes de serem aquele espaço de
conhecimento e prazer, seja nas instituições públicas
ou privadas. O que se encontra, na maioria das vezes, são iniciativas
pessoais – indivíduos que descruzam os braços e buscam fazer
a diferença com sua atuação profissional e assim contemplam
a comunidade em que se inserem.
Num país que almeja a cidadania plena, cuja população
tenha como prioridade o acesso à saúde, à educação
e aos bens culturais, as escolas reais serão certamente as ideais
- usinas onde os conhecimentos ganham sentido, deixando para trás
a idéia de que escola é somente um armazém de dados.
A globalização, reforçada pelo desenvolvimento acelerado
das novas tecnologias da informação, ampliou a velocidade
da produção e disseminação de conhecimento.
Hoje, para alguém ser um cidadão ativo, é indispensável
dominar conceitos e relações, compreender tendências
e extrapolações, mobilizar e ampliar conhecimentos de modo
pertinente, mesmo em situações incertas.
Aprender a mobilizar conhecimentos para fazer intervenções
solidárias na realidade é direito de todos os educandos, e
as escolas necessitam estar habilitadas para proporcionar esse direito. Assim
acredita-se firmemente na função transformadora do espaço
da biblioteca para a expansão dos horizontes da leitura e da escrita.
Que os leitores recriem a realidade dura que os cerca, construindo verdadeiras
moradias onde existem tetos provisórios e felicidade onde a tristeza
pensa ter chegado para ficar.
NOTAS
1 Seletivo – entende-se por cidadão seletivo aquele indivíduo
consciente de seus direitos e cônscio de seus deveres.
_________
THE LIBRARY SCHOOL - A RELATION TO BE CONSTRUCT
Abstract : Reflections about the real school and the ideal school
at the globalization time. The library facets between the real and ideal
environment. The individual development to became a citizen at the Information
Society.
Keywords: Library school; School - Library; Globalization
_________
Graça Maria Fragoso
Bibliotecária especializada em Educação
Consultora para bibliotecas, leituras e leitores.
Diretora da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa – Belo Horizonte
– Minas Gerais – Brasil
E-mail: fragoso.bh@terra.com.br
e gra_fragoso@yahoo.com.br
Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis,
v. 10, n. 2, p. 169-173, jan./dez., 2005.