RUPTURA DE PARADIGMAS BIBLIOTECÔNOMICOS, AUTOFORMAÇÃO
E MERCADO DE TRABALHO: estudo de caso
Fábio Jose Lobo da Fonseca
Fernanda Maria Lobo da Fonseca
Nádia Lobo da Fonseca
Resumo: Relaciona a atuação e inserção
do bibliotecário brasileiro no mercado de trabalho aos paradigmas biblioteconômicos
ainda vigentes: foco no acervo, informação vista apenas como
bem social e predominância do ambiente de trabalho biblioteca.
Discute alguns paradoxos profissionais relacionando-os aos paradigmas e às
competências e habilidades requeridas nas organizações.
Demonstra que o rompimento de tais paradigmas contribuirá para ampliar
a visão e as oportunidades de trabalho, da mesma forma que os princípios
do empreendedorismo e da inovação, quando aplicados à
autoformação, prática esta sugerida para fazer face
aos desafios profissionais, na atualidade. Conclui apresentando estudos de
casos representativos das teses defendidas.
Palavras-chave: Mercado de trabalho; Inovação; Paradigmas
Biblioteconômicos; Empreendedorismo; Autoformação.
1 INTRODUÇÃO
O pano de fundo para a elaboração deste trabalho foi as constantes
alusões, na literatura da área de Biblioteconomia e Ciência
da Informação, ao perfil e papel do profissional da informação,
em face aos desafios propostos pelo contexto da Sociedade do Conhecimento,
do Aprendizado, da Informação, ou Sociedade Pós-Industrial
– as designações diferem, consoante os enfoques, mas buscam
dar conta do fenômeno social que aproxima e distancia, assemelha e diferencia,
simplifica e complica, concretiza e virtualiza tudo, ao mesmo tempo, agora.
Os contornos dessa sociedade ainda se delineiam, mas a emergência
de novos paradigmas balizados pela mecânica quântica e a tecnologia
computacional vem suscitando releituras, as mais diversas, da sociedade, dos
sujeitos sociais e suas atividades laborais afetadas pela dinâmica e
volume da produção cognitiva decorrentes do emprego de tecnologias
digitais da informação e da comunicação. Faz-se
necessária uma nova ordem, para dar conta de possibilidades até
então insuspeitas. Os desafios dizem respeito ao fazer e ao ser profissional,
seja qual for o campo de atuação, mas em particular, afetam
os que atuam na área da informação.
Pertence ao passado a época em que “formar-se em” significava “tornar-se
profissional em”, pois se, por um lado, hoje as tecnologias simplificam e
agilizam determinadas tarefas, por outro os trabalhadores se defrontam com
exigências de atualização que não mais se atêm
ao aspecto cognitivo, em termos de apreensão constante de novos conteúdos,
estendendo-se a aspectos pessoais, como a aquisição de habilidades
e atitudes, sob risco de obsolescência inexorável.
Nesse cenário, até mesmo os anos despendidos na graduação
parece um longo tempo, em especial em áreas de ponta, nas quais teorias
são rapidamente desatualizadas e substituídas por outras up
to date. Natural, portanto, que haja a convivência de antigos e novos
paradigmas, e aflorem paradoxos, em especial, quando se tenta conciliar tendências
expressas na literatura e a realidade do ambiente em que se vive e atua profissionalmente
– um país em desenvolvimento, dito “do futuro”.
A perplexidade e até mesmo, de certa forma, a desorientação
das pessoas ante tais contradições, tem o efeito de “paralisar”
algumas e instigar outras, que percebem que sua ação individual
e grupal, o conhecimento que geram, “constrói” as organizações
em que trabalham entendidas como “entidades criadoras do conhecimento” (NONAKA;
TAKEUCHI, 1998).
Essa teoria do conhecimento socialmente construído e fundamentado
sobre a experiência pessoal da realidade realça que só
é possível adquirir conhecimento em contato direto com situações
que propiciam novas vivências. Assim sendo, apresentam-se, inicialmente,
neste trabalho, alguns paradigmas e paradoxos biblioteconômicos observados
em investigações bibliográficas e de campo. A partir
deles, buscou-se ressaltar a necessidade da aplicação de
princípios do empreendedorismo para favorecer a ação
inovadora direcionada para o autodesenvolvimento de competências
e habilidades.
Pressupõe-se que a efetiva mudança de foco do suporte para
a informação, a visão desta como commodity, e
em decorrência, a prospecção de nichos de mercado em ambientes
não tradicionais já em curso, ainda não esta sendo percebida
devidamente como oportunidade. O relato de experiências dos autores,
em ambientes diversos – dos setores públicos (rede de bibliotecas
universitárias e órgão federal) e privado (editora/livraria
e “empresa. com”) – visa oferecer alguns elementos para pensar e quem sabe,
estímulo para agir.
2 PARADIGMAS E PARADOXOS BIBLIOTECONÔMICOS
O cenário complexo da atualidade decorre de estarem acontecendo,
em vários campos, verdadeiras revoluções científicas,
definidas pelas mudanças, juntamente com as controvérsias que
quase sempre as acompanham em face da emergência de novos paradigmas
(KUHN, 1990, p. 25).
Assim, ao correlacionar paradigmas – “realizações científicas
universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e
soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma
ciência” (KUHN, 1990, p.13) – e alguns paradoxos – fatos “contraditórios
mesmo que na aparência, ou [..] afirmações que vão
de encontro a sistemas e/ou pressupostos que se impuseram, como incontestáveis
ao pensamento” (FERREIRA, 1986, p.1265) – na área da Biblioteconomia,
pretende-se demonstrar que, da mesma forma que o ideograma chinês caos
se aplica a crise, ou a oportunidade, também as contradições
podem conter em seu bojo, no mínimo, objetos para pensar.
Entre tantas, ressaltaram-se algumas contradições, esperando-se
que outros venham a contribuir para ampliar essa discussão, que visa,
em última instância, ratificar as necessárias alterações
de rumos (efetiva mudança de foco do acervo para a informação,
o entendimento desta também como commodity e a prospecção
de nichos de mercado). Tema de vasta literatura, tais mudanças dependem,
em princípio, de uma postura pró-ativa e visão de futuro
por parte dos profissionais da informação, fundamentais, na
atualidade, em qualquer campo.
É importante reiterar que, dado o escopo deste estudo, não
se pretendeu esgotar o assunto, ou realizar juízos de valor, mas apenas
oferecer pequena contribuição ao debate sobre mercado de trabalho
e perfil dos bibliotecários, a começar pela designação
do curso de Biblioteconomia alterada, em algumas escolas, para tecnologia
da informação, gerência de sistemas de informação
etc.
A questão pode parecer antiga e meramente terminológica,
mas merece registro, por denotar uma característica da área:
a inconsistência vocabular que dificulta a consolidação
da Biblioteconomia como ciência, por favorecer ruídos de comunicação.
Ora, uma das funções preponderantes das comunidades científicas
– redes de organizações e relações sociais, formais
e informais – diz respeito, justamente, à comunicação,
ao intercâmbio de informações sobre os trabalhos em andamento,
entre pares, assegurando ainda, a difusão e a promoção
da ciência junto a públicos de não especialistas (inserir
a ciência na cultura) e junto aos governos (LE COADIC, 1996, p. 17.
Grifo nosso).
Segundo (ROBREDO, 1989 apud SANTOS, 2004, p.7) as novas denominações
representaram “apenas uma reação ao aparecimento de novas profissões
da informação”, ou uma tentativa de manter status equivalente
ao que iam ganhando, pouco a pouco, essas novas profissões, “sem cuidar
de adaptar o conteúdo do que se designa por carreiras da Biblioteconomia,
“quando ainda era tempo, à uma realidade imposta pelo mercado e pela
sociedade como um todo”.
A questão gerou controvérsias também entre estudantes
e profissionais de Biblioteconomia reunidos em Londrina, em 2001. O seminário
foi organizado por graduandos da Universidade Estadual de Londrina e da Universidade
Estadual de São Paulo, enfocando, entre outros temas, a regulamentação
da profissão “cientista da informação”, ali apresentada
como uma estratégia para adequar a designação do profissional
da informação às exigências “do século XXI”.
O fato é que, em 2002, especialistas da área reformularam
a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)
e reuniram na categoria profissionais da informação as
seguintes ocupações: Bibliotecário (sob as denominações
de Bibliógrafo, Biblioteconomista, Cientista de informação,
Consultor de informação, Especialista de Informação,
Gerente de Informação e Gestor de Informação);
Documentalista (Analista de Documentação, Especialista
de Documentação, Gerente de Documentação, Supervisor
de Controle de Processos Documentais, Supervisor de Controle Documental, Técnico
de Documentação e Técnico em suporte de Documentação);
e Analista de informações (Pesquisador de informações
de rede) (BRASIL, 2004).
A CBO, por sua abrangência (inclui as competências requeridas,
ambientes, instrumentos e condições de trabalho, entre outras
informações), pode auxiliar empregadores e especialistas em
recrutamento e seleção, possibilitando, dessa forma, novas oportunidades
de mercado, em especial, para os bibliotecários – categoria que abrange
o maior número de atribuições.
No entanto, entende-se que a problemática das várias carreiras
da informação não foi totalmente equacionada, passados
quinze anos da declaração de Robredo (1989 apud SANTOS, 2004)
sobre as “novas profissões”. Questiona-se, por exemplo, até
que ponto, na prática, a correspondência entre denominações
estabelecida pela CBO se efetiva. Isto porque, pelo menos na visão
de leigos, associadas ao profissional “bibliotecário”, costumam estar
tarefas como o processamento técnico, a organização e
disseminação de documentos em suporte (paradigma do foco no
acervo), em ambientes tradicionais (paradigma do local), disseminando a informação
como bem social, enquanto que ao contrário, o termo “analista de informação”
remete a um profissional habilitado a “garimpar” informação
com potencial valor econômico, portanto, com visão de mercado.
Também se deduz que a pretendida difusão e promoção
junto a públicos de não especialistas não tenha sido
alcançada, a julgar pela relação candidato/vaga, nos
exames de acesso aos cursos de Biblioteconomia, ainda muito aquém da
observada em outras carreiras. Essa baixa procura constitui-se em um paradoxo,
pelo fato da carreira estar em terceiro lugar, no ranking das nove mais promissoras
ocupações da atualidade, conforme publicado em revista
de grande circulação (LUZ; AZEVEDO; HORTA, 2003).
Conjectura-se que a baixa visibilidade social dos profissionais da
informação seja conseqüência de falhas na comunicação
na área e da conjuntura econômico-social do Brasil,
Embora a North American Industry Classification System (NAICS) tenha definido
a informação como uma commodity, para mensuração
do setor informal, ou seja, “uma mercadoria que é produzida, manipulada
e distribuída por uma variedade cada vez maior de empresas” (GALVÃO,
1999) ressalta-se, na literatura, que ao valor econômico da informação,
se contrapõe, muitas vezes, seu caráter de bem social.
Busca-se a qualidade dos produtos e dos serviços de informação
para atender à demanda de usuários sem, no entanto, associá-la
à conquista e fidelização de segmentos de mercado, clientela,
visando a auferir lucro. Supõe-se que isto decorra da própria
natureza da informação lato sensu: “imaterial, nem sempre consubstanciada
na forma de bens tangíveis, ou serviços de fácil mensuração”
(GALVÃO, 1999).
Além de ficar comprometida a inserção de produtos de
informação na estratégia de negócios das empresas
do país, não visualizar a informação como
mercadoria “algo que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer a uma
necessidade ou desejo” (PERUZZO, 2004) significa, atualmente, menosprezar
“cerca de 60% dos postos de trabalhos existentes no Brasil [...] localizados
nas micro e pequenas empresas” (BRANDÃO, 2004).
Esse movimento empreendedor, cuja pujança quantitativa surpreende
outras nações, seria incrementado qualitativamente, se incluísse
o bibliotecário gerenciando a informação (relacionada
ao suporte tangível, quantificável) e o conhecimento (propiciando
a conversão de conhecimento tácito em explícito, a criatividade
e a inovação).
Afinal, a informação é fator estratégico para
a competitividade, nos diferentes setores das organizações.
Enfrentar o desafio de aprimorar e/ou desenvolver novos serviços e
produtos, ampliar mercados e, conseqüentemente, aumentar seus lucros,
requer informação como apoio à tomada de decisão,
fator de produção (quanto maior for o valor agregado
a um produto ou serviço, maior será a necessidade de informação
nas etapas de concepção e produção); insumo
de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (P&D), processo que
deve ser apoiado integralmente por informações durante sua
trajetória e/ou fator de gestão (contribuindo para multiplicar
a sinergia entre os indivíduos da organização.
Em decorrência, pelo menos em tese, há uma variedade de
postos de trabalho passíveis de serem ocupados por bibliotecários
nas organizações, para supri-las de informação
em seus diferentes matizes (gerencial, industrial, tecnológica etc.)
e níveis (estratégico e operacional).
Apesar disso, nas entidades de classe do Estado do Rio de Janeiro (RJ),
não há dados disponíveis sobre tais postos de trabalho,
ou estes são incompletos. Há 880 pessoas jurídicas cadastradas,
no Conselho Regional de Biblioteconomia 7ª Região (CRB7), verificando-se
que, dos 3024 bibliotecários ativos neste Conselho, a maioria está
vinculada a ambientes (Centros de Pesquisas, Centros de Documentação
e bibliotecas em geral) e áreas tradicionais (ensino/pesquisa) (CONSELHO
REGIONAL DE BIBLIOTECONOMIA 7ª REGIÃO, 2004).
Este fato compromete a avaliação sobre a ocupação
de postos de trabalho não tradicionais no Estado do Rio de Janeiro
(RJ), em que se localizam três escolas de Biblioteconomia, sendo duas
federais – a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade do Rio
de Janeiro (UniRio).
Para suprir essa lacuna, está em andamento uma pesquisa patrocinada
pelo CRB7 que, entre outros objetivos, pretende delinear o perfil do bibliotecário
do Estado do Rio de Janeiro, área de abrangência deste Conselho,
bem como a natureza e principal ramo de atividade das instituições
empregadoras (CONSELHO REGIONAL DE BIBLIOTECONOMIA 7ª REGIÃO,
2004).
Objetivando um dimensionamento aproximativo, cumpre citar levantamento realizado
no site de uma empresa de recrutamento e seleção de pessoal,
entre os meses de janeiro e fevereiro de 2004 (FONSECA, 2004). Das 29 vagas
para bibliotecários, ali oferecidas em todo o Brasil, 20 eram na área
de educação (bibliotecas escolares e universitárias),
6 na de prestação de serviços, 1 ligada ao comércio,
1 ao ramo das indústrias, e 2 em outras áreas. Infere-se, portanto,
que as ofertas de emprego não refletem a diversidade dos
campos de atuação, em termos quantitativos, levando a crer
que a ocupação desses nichos de mercado não tradicionais
é muito mais potencial do que efetiva.
Essa amostra, embora pequena, é um indicativo de que os trabalhadores
se concentrem da mesma forma em atividades e ambientes tradicionais (ensino/pesquisa
e bibliotecas), deduzindo-se que os empresários, de maneira geral,
não visualizam o bibliotecário como um profissional capaz de
gerar lucros, por meio de suas atividades, para a empresa.
Há uma outra possibilidade: a auto-imagem dos bibliotecários,
ainda atrelada ao paradigma da biblioteca como o principal ou único
posto de trabalho, que não os levaria a pleitear vagas em outros ambientes,
em particular, nos empresariais. Como indicativo desse fato, cita-se análise
realizada em 100 currículos disponíveis em site de recolocação
profissional, verificando-se que apenas 20% dos bibliotecários se colocavam
de forma diferenciada, demonstrando capacidade de inovação,
em atividades como coordenação de projetos, implementação
de novos processos etc. Observou-se também, que os demais se apresentaram
aos empregadores como executores de tarefas, por exemplo, atuando como coadjuvantes
em projetos, e não como idealizadores e/ou realizadores dos mesmos.
Essa hipótese, se comprovada, imprime maior complexidade a questões
como conquista e reserva de mercado, porque as empresas tendem,
na atualidade, a buscar profissionais por determinadas competências
e habilidades e não por cargo/profissão. Dessa forma, a regulamentação
profissional talvez não seja mais suficiente, por si só, para
garantir aos bibliotecários postos de trabalho em ambientes não
tradicionais.
De qualquer modo, cabe aos integrantes da categoria envidar esforços
para conscientizar empresários e altos executivos sobre o valor da
informação, em seus empreendimentos, pois “a questão
não é focar quanto a empresa ganha ao investir em gestão
da informação, mas sim quanto ela perde por não investir",
segundo Vargas, (2002) consultora e especialista em gerenciamento do conhecimento
do Centro Nacional de Desenvolvimento do Gerenciamento da Informação
(Cenadem).
Evidencia-se, dessa maneira, a necessidade de o profissional instrumentalizar-se
para a gestão da informação e do conhecimento, entendendo-as
como um conjunto de ações que identificam, capturam, gerenciam
e compartilham os ativos intangíveis da organização (que
podem estar tanto em bancos de dados e documentos impressos, quanto em experiências
e habilidades dos funcionários) e para as quais não basta o
domínio de técnicas e habilidades específicas.
Essa gestão exige planejar estrategicamente, analisar mercados e
contextos, realizar articulações políticas etc. Tais
requisitos pressupõem alto nível de competências pessoais
e profissionais, entre elas flexibilidade, para atuar não apenas como
mais um funcionário, mas como consultor e assessor, cuja competência
estará igualmente sendo avaliada conforme seu grau de atualização,
capacidade de empreendimento e criatividade Marchiori, (2002, p.81).
Por outro lado, ainda que a CBO agregue as denominações gestor
da informação e gestor do conhecimento, para a mesma categoria
profissional, cumpre destacar a distinção feita por Cardoso,
(2004). Esta autora relaciona gestão da informação a
uma visão estática e um tanto passiva da organização
– como processadora de dados para a resolução de problemas e
a adaptação organizacional – tendendo a considerar apenas os
fatores de “eficácia estática”, a produtividade e os lucros.
Em contraposição, por reconhecer a dinâmica inerente ao
processo de criação do conhecimento, a gestão do conhecimento
diz respeito à “eficácia dinâmica”, ou seja, à
inovação e qualidade.
Em decorrência, para a gestão do conhecimento humano – a informação
como compreensão, “estruturas informacionais que, ao internalizar-se,
se integram a sistemas de relacionamento simbólico de mais alto nível
e permanência” Nonaka e Takeuchi, (1998) – considerado o maior fator
competitivo de uma empresa e, por extensão, de uma nação,
são requeridas bagagem cognitiva e qualificações ainda
mais diversificadas, e mais sólidas, o que extrapola a proficiência
técnica concebida como conjunto de funções relacionadas
ao tratamento da informação.
Essa necessidade de desenvolver aspectos profissionais e pessoais, como,
por exemplo, trabalho em equipe, comunicação e negociação,
liderança, disposição para assumir tarefas que não
dizem respeito às suas atribuições, que implicam em exposição
da capacidade profissional também em ambientes multidisciplinares,
justifica a abordagem, ainda que de forma sucinta, do modelo de competências
e gestão de talentos Gramigna, (2002), relacionando-o à autoformação
ou autoeducação, tal como preconizada por Morin, (2002).
3 NOVAS TENDÊNCIAS E AUTOFORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO
De acordo com a literatura consultada, na atualidade, os empregadores esperam
que os funcionários descubram por si próprios como melhorar
e agilizar o seu próprio trabalho, de modo que estes precisam analisar
situações, pensar criativamente e solucionar problemas, fazer
perguntas e esclarecer o que não compreendem para poder sugerir melhorias
de maneira constante e contínua.
Portanto, cumpre ratificar que da mesma forma que modernizar (automatizando
uma tarefa, por exemplo) não significa inovar (questionar a
forma de executá-la para otimizar recursos nessa execução),
“empreender não se limita apenas à geração de
novos negócios – é, principalmente, uma postura pró-ativa,
dinâmica, responsável, independente e criativa [...], frente
aos desafios encontrados em seus novos postos de trabalho Geranegocio, (2004).
No entanto, a formação universitária “provê especialistas
em disciplinas pré-determinadas, portanto, artificialmente delimitadas,
enquanto uma grande parte das atividades sociais, como o próprio desenvolvimento
da ciência, exige pessoas capazes de um ângulo de visão
muito mais amplo e, ao mesmo tempo, de um enfoque dos problemas em profundidade”
Lichnerowicz (apud MORIN, 2002).
Isto implica em muito mais que a mudança curricular periódica,
que só atinge uma parcela dos graduandos. Há que se assumir
uma atitude empreendedora (capacidade do indivíduo de tomar a iniciativa,
problematizar e buscar soluções inovadoras), para fomentar uma
cultura voltada para a criatividade e a inovação, como a autoformação
(a educação continuada e a experiência obtida pelo exercício
profissional em ambientes diversos) direcionada à inserção
vantajosa no mercado de trabalho e/ou realização pessoal.
A autoformação de acordo com princípios empreendedores
(monitoramento constante do ambiente, auto-avaliação pessoal
e profissional, estabelecimento de metas, aproveitamento das oportunidades
de melhoria, comportamento ético, entre outros) instrumentaliza os
egressos das universidades, ainda durante a graduação, a buscarem,
a par do conhecimento, um conjunto de outras competências básicas
atualmente requisitadas aos profissionais: a perícia, as aptidões,
e as características pessoais que ajudam a diferenciar o profissional
altamente qualificado, que podem ser observadas no cotidiano de trabalho ou
em situações de teste. Aqueles que apresentam um elevado perfil
de competências possuem as qualidades requeridas para levar adiante
determinadas missões, tornando-se mais aptos a obter realização
pessoal e colocação, em um mercado cada vez mais exigente.
Para auxiliar as pessoas empenhadas em mapear seu campo de domínio
de competências e planejar metas em médio prazo, Gramigna, (2002)
disponibiliza a árvore das competências profissionais – uma ferramenta
que possibilita traçar planos de auto-desenvolvimento, com base nas
competências essenciais, a partir do atual enfoque de competências:
“conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que algumas pessoas, equipes
ou organizações dominam melhor do que outras, o que as faz
se destacar em determinados contextos” Lévy-Leboyer (apud GRAMIGNA,
2002).
De acordo com essa autora, a metáfora da árvore para representar
os três indicadores de uma competência é usada pelo Dr.
Helbert Kellner da seguinte forma: a Copa representa as habilidades
adquiridas e disponíveis para a realização do trabalho;
o Tronco, os diversos conhecimentos e informações acumulados
ao longo da carreira; e a Raiz, o conjunto de atitudes e comportamentos
que a pessoa mobiliza quando precisa colocar em prática uma competência.
Para traçar uma árvore, é necessário compreender
cada um dos componentes de uma competência, a saber:
a) as Atitudes (raiz): um dos indicadores de impacto e que dá
distinção aos profissionais de vanguarda é o conjunto
de atitudes agregadas à sua ação cotidiana. Quanto mais
adequado ao contexto, maior o seu nível de influência no ambiente
de trabalho.
Das atitudes decorrem o nível de confiança entre as pessoas,
o clima de trabalho, o grau de comprometimento com objetivos e metas organizacionais
e, conseqüentemente, resultados maximizados. Assim como na árvore,
as atitudes são o fruto da história de cada pessoa: se for bem
cuidada e cultivada em sua trajetória de vida, terá raízes
fortes que sustentarão o tronco, favorecerão a formação
de copas produtivas e a coleta de bons frutos. Caso contrário, a árvore
precisará de âncoras e auxílio para sua sustentação
e permanência.
Hoje, mais do que nunca, as empresas vêm reforçando a idéia
de mudanças comportamentais em seu staff. Algumas atitudes, reflexos
de nossos valores e crenças, que fazem a diferença na ação
gerencial: sensibilidade interpessoal (qualidade nos contatos com pares, clientes
e fornecedores internos e externos); energia e iniciativa para resolver problemas;
disponibilidade para ouvir, para receber feedback (de pares, liderados e
líderes); interesse e curiosidade; tenacidade; persistência;
flexibilidade; e adaptabilidade: demonstração de atitude aberta
e receptiva às inovações; postura positiva que demonstre
dinamismo; integridade e bom senso no trato com as pessoas; partilhamento
do sucesso com a equipe de trabalho, com reconhecimento público das
contribuições; compromisso com resultados; senso de honestidade;
ética nos negócios, de orientação para metas;
auto motivação e auto controle; busca permanente de desenvolvimento;
b) o Conhecimento (tronco): cada posto de trabalho exige conhecimentos
específicos e conhecimentos essenciais. Os processos de decisão,
planejamento e organização, comunicação, controle
de resultados, negociação e administração de conflitos,
dentre outros, são afetados pelo nível de conhecimentos essenciais
– aqueles que fazem parte do rol que todo profissional deve saber para ocupar
seu posto (domínio de procedimentos, conceitos, fatos e informações
relevantes).
O conhecimento é um indicador de competências que ajuda a lidar
com o paradoxo da fortaleza e da flexibilidade: quanto mais conhecimento adquire,
mais forte se torna o profissional, e ao mesmo tempo, mais flexível
para enfrentar as mudanças e rupturas que surgem em micro intervalos
nunca antes pensados; e
c) as Habilidades (a copa): entende-se por “habilidade” usar o conhecimento
de forma adequada, demonstrar suas competências através de ações.
O conhecimento adquirido por meio de cursos, leituras e informações
em geral, precisa ser útil, ou seja, reverter em algum benefício
para a coletividade na qual o profissional está inserido.
Cumpre então ratificar que os bibliotecários integram o grupo
de profissionais cujas atividades “consistem em ampliar o acervo de conhecimentos
científicos e intelectuais, por meio de pesquisas; aplicar conceitos
e teorias para solução de problemas ou por meio da educação,
assegurar a difusão sistemática desses conhecimentos” Brasil,
(2004).
Portanto, incluem-se entre as suas competências essenciais:
gerenciar unidades, redes e sistemas de informação; tratar tecnicamente
recursos informacionais; desenvolver recursos informacionais; disseminar
informação; desenvolver estudos e pesquisas; prestar serviços
de assessoria e consultoria; realizar difusão cultural; e desenvolver
ações educativas.
Citam-se, entre as competências pessoais: manter-se atualizado;
liderar equipes; trabalhar em equipe e em rede; demonstrar capacidade de análise
e síntese; demonstrar conhecimento de outros idiomas; capacidade de
comunicação, negociação e empreendedora; senso
de organização; raciocínio lógico; demonstrar
capacidade de concentração; pró-atividade; criatividade;
e agir com ética Brasil, 2004).
Outro instrumento relevante como diretriz para a autoformação
é o documento da Associação Americana de Bibliotecas
Jurídicas (AALL), que empenhou-se em definir o perfil do bibliotecário
jurídico e o seu valor para a área do Direito, no presente e
no futuro, por meio da identificação, verificação
e promoção das competências desse profissional, tanto
as "Competências básicas", capacidades que se aplicam a todos
os bibliotecários jurídicos adquiridas no início da carreira,
quanto as relacionadas às áreas específicas da atuação
profissional ("Competências especializadas") que variam de acordo com
o contexto e as condições em que atuam os bibliotecários
(American Association of Law Libraries, (2004).
Também os empregadores podem obter, nesse rol de competências
da AALL, subsídios para tomada de decisão, no que se refere
a contratações, avaliações e promoções,
e fazer recomendações para programas de desenvolvimento profissional,
tal como a própria AALL, ao estruturar os seus, visando garantir que
tais programas auxiliarão o bibliotecário jurídico a
alcançar e manter as habilidades e os conhecimentos necessários
para o seu trabalho atual e o do futuro.
Não se deve esperar, portanto, que a educação formal
consiga acompanhar o ritmo em que ocorrem as mudanças na sociedade.
Sabe-se que a alteração de currículos, que como (á
citado), não é a solução, por depender de uma
série de procedimentos burocráticos que emperram o processo.
Assim, seria de se esperar que as escolas, desde o nível fundamental,
já nas séries iniciais, cuidassem de educar, contribuindo “para
a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição
humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão” Morin, (2002,
p.65).
Entende-se que um trabalho desse tipo não se conclui. Ao contrário,
espera-se que seja capaz de provocar outras indagações, por
isso, ao invés de uma conclusão, ou mesmo, considerações
finais, optou-se por apresentar, por meio de estudo de casos, possibilidades
de exercício profissional, nem sempre vislumbradas, em especial, pelos
iniciantes da área.
4 OPORTUNIDADES DE TRABALHO: ESTUDO DE CASOS
Como já citado neste trabalho, não há como desconhecer
as contingências do ambiente, no qual se está inserido. Um novo
índice – o Índice de Capital Humano (ICH) – que apura a performance
do capital humano, no Brasil, entre 1970 e 2000, comparando-o ao Produto Interno
Bruto (PIB) – soma de todas as riquezas geradas no país – revela que
a formação educacional e profissional do trabalhador cresceu
mais que a economia, nesse período. A reportagem ressalta: profissionais
com qualificação, sem emprego, citando casos de pessoas com
nível superior que não conseguiram inserção no
mercado, em vaga condizente com a sua escolaridade (CARVALHO, 2004).
Isto denota um mercado de trabalho restrito e, em conseqüência,
altamente competitivo, exigindo adotar, em relação à
própria carreira, a postura pró-ativa típica dos empreendedores.
As competências requeridas podem ser, como já citado, adquiridas
no ensino superior, porém se o currículo da graduação
apresenta-se em descompasso em relação às exigências
da sociedade, cabe empenhar-se pela autoeducação e buscar experiência
ainda durante a graduação.
Embora inserido nesse contexto e sendo por ele afetado, tanto quanto outras
categorias, o bibliotecário, apesar dos paradoxos citados anteriormente,
conta com vantagem competitiva sobre muitas outras ocupações:
está apto a buscar e tratar sua matéria prima – a informação
– de forma a partilhá-la com os que dela necessitam.
O ambiente, onde ocorre essa interação pode ser ou não
tradicional importa o conhecimento adquirido através da autoformação
e da experiência.
Nesse sentido, considerou-se ilustrativa a experiência profissional
dos autores, tendo em vista que atuaram em organizações com
perfis diferenciados, quanto à natureza jurídica (esfera
pública e privada) e ao porte (que varia de médio a micro).
Algumas representaram oportunidade de exercício em ambientes não
tradicionais (livraria e e-commerce). Outras, o desempenho de atividades
não usuais (serviços próprios do ambiente da rede,
como análise e/ou arquitetura de informações), e/ou empreendedoras
(participação/liderança, em equipes multidisciplinares
para elaboração e implementação de projetos, prospecção
de linhas de negócios etc.).
São citadas organizações de diferentes áreas
de atuação: educação, comércio de livros,
auditoria e fiscalização do patrimônio da União;
consultoria jurídica e produção de notícias para
os agentes do setor elétrico brasileiro, sendo a última do tipo
“empresa . com”, ou seja, realiza suas operações prioritariamente
pela Internet.
A diversidade desses ambientes estimulou questionamentos, ainda durante
a graduação, evidenciando-se a questão dos paradoxos
e paradigmas aqui expostos, e ao mesmo tempo contribuiu para o desenvolvimento
de investigações a eles relacionadas (FONSECA, 2003; FONSECA,
2004).
Cumpre destacar, dentre tais observações participativas, inicialmente,
a vivenciada no Grupo CanalEnergia (2004), por permitir exemplificar a questão
dos nichos de mercado, para os profissionais da informação,
em ambientes não tradicionais.
O público alvo da empresa são os agentes do setor elétrico,
ou seja, todos os que atuam, ou se interessam, por informações
do setor. A empresa emprega 18 pessoas, entre elas, um bibliotecário,
atuando como analista de informações e pesquisador
de mercado. O recrutamento e a seleção desse profissional
couberam a uma consultoria externa de recursos humanos, que definiu o cargo
a partir das competências e habilidades requeridas pela empresa
(análise, tratamento e disseminação da informação,
domínio de tecnologias de informação e comunicação,
criatividade, capacidade de trabalhar em equipe, entre outras).
Além do CanalEnergia -- portal de notícias sobre o setor
elétrico brasileiro, com 1.072.097 acessos, ao mês (em julho
de 2004) – é uma das linhas de negócios do Grupo Canal Energia,
às quais o bibliotecário disponibiliza suporte informacional,
gerando produtos e disponibilizando serviços, alguns de cunho tradicional
e outros, nem tanto, conforme a seguir:
a) Editora/livraria: normalizar originais
para editoração; analisar dados, visando a identificar clientes
potenciais para os materiais editados, estabelecer contato e divulgar os produtos
editoriais;
b) Cadastro Brasileiro de Agentes do Setor Elétrico
(CBase): gerenciar esse sistema de cadastros, coordenar o serviço
de referência remoto (cuja implantação coube ao bibliotecário);
Gerenciar a DSI, entre integrantes da direção executiva e área
comercial do CanalEnergia;
c) Zona Elétrica (especializada na elaboração
de home pages): planejar a arquitetura da informação para os
sites criados, trabalhando em equipe com jornalistas, programadores para Internet
e web designer;
d) Centro Nacional de Desenvolvimento de Pequenas Centrais
Hidrelétricas (prestação de serviço de consultoria
a esse tipo de organização): identificar necessidades informacionais
do público interno e externo; e
e) Centro de Treinamento e Estudos em Energia (promove
cursos, seminários e eventos para o setor elétrico): promover
a DSI, através da utilização dos dados do CBase, para
o público alvo, divulgando os eventos que serão promovidos.
O bibliotecário também criou e coordena mecanismos para atendimento
aos clientes de algumas dessas áreas de negócios, que favorecem
captar, analisar e disponibilizar informações que propiciam
a tomada de decisões estratégicas.
Em contraposição a outras empresas constata-se que, neste
caso existe a visão de que o profissional bibliotecário está
capacitado a tratar de maneira singular as informações, filtrando-as,
organizando-as, e disseminando-as. Este, por sua vez, buscou atuar de tal
forma, que suas responsabilidades vêm sendo ampliadas gradativamente,
à medida que adquire maior domínio das necessidades da empresa,
experiência e confiança em si mesmo, revertendo em mais benefícios
para a organização.
Embora ambientes pouco citados, como empregadores e por esse motivo aqui
incluídas como postos de trabalho não tradicionais, as editoras/livrarias
favorecem o desempenho de atividades bastante comuns, como o processamento
de materiais impressos, a organização técnica do estoque
de livros, supervisão de auxiliares e estagiários, gerência
e manutenção de bases de dados automatizadas.
Por outro lado, cumpre notar que, um espaço tradicional, como a biblioteca,
em um ambiente como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pode propiciar
experiências enriquecedoras aos bibliotecários. Até porque
o ambiente acadêmico é propício à inovação
e criatividade, favorecendo a atuação de bibliotecários
em equipes multidisciplinares, em paralelo às atividades inerentes
ao cargo. Estabelecidas por meio de parcerias entre unidades acadêmicas
e administrativas, tais equipes desenvolvem estudos, implantam projetos, realizam
treinamentos, enfim, aliam gestão da informação e gestão
do conhecimento.
A universidade tem reconhecido e apoiado essas iniciativas, entre outras
formas, cadastrando projetos, na Extensão, contratando pessoal, favorecendo
a participação dos bibliotecários, e demais envolvidos,
em eventos técnico-científicos da área de Biblioteconomia,
Ciência da Informação e Educação. Com isto,
entre 1998 e 2004, a UERJ se fez representar nos principais eventos da área.
A disseminação do conhecimento gerado tem ocorrido também
por meio de artigos publicados em periódicos.
Deve-se destacar que, em função de tais estudos, envolvendo
graduandos de outras áreas, estes adquiriram uma outra visão
das bibliotecas e dos bibliotecários. Alguns se mostraram interessados
em aprofundar estudos na área (de graduação e de pós-graduação).
Com isso, os bibliotecários têm sido solicitados a co-orientar
e a compor bancas de projetos de final de curso, em que graduandos de outras
áreas enfocam as bibliotecas.
Tais iniciativas podem ser consideradas inovadoras, pois favorecem a consolidação
de parcerias entre docentes e bibliotecários, por meio das quais são
rompidos os limites físicos da biblioteca.
Assim, indo ao encontro de outros educadores/empreendedores decididos a
superar dificuldades comuns em instituições de ensino superior,
em particular as públicas, os bibliotecários exercitam a “habilidade
de criar e construir algo a partir de muito pouco ou do quase nada” (BARRETO
apud LEAL, 2004).
Da mesma forma, do “quase nada” surgiu o Núcleo de Informações
e Pesquisas, projeto desenvolvido em 2000-2001, na Casa Civil da Presidência
da República, no Rio de Janeiro. Nele, a atividade inicialmente proposta
ao bibliotecário se restringiria à organização
de um acervo variado de documentos oriundos de auditorias e fiscalizações
promovidas pelo referido órgão. Visualizando, no entanto, outras
possibilidades, o profissional sugeriu e implementou a informatização
do serviço, criando, entre outras ferramentas, uma base de dados, para
consulta, via Intranet, dos documentos organizados, e um sistema de consulta
a legislações utilizadas pelos auditores.
Essas legislações, antes dispersas, foram concentradas, em
uma única base, agilizando a sua localização e garantindo
a atualidade do conteúdo, principal valor para os usuários.
Tornaram-se, assim, acessíveis, internamente, pela home page do Núcleo
e, externamente, através de mídias eletrônicas, impactando
positivamente a credibilidade da auditoria e minimizando o retrabalho. Propiciou-se,
ainda, a disseminação do conhecimento tácito, pois o
que era propriedade apenas dos auditores mais experientes, passou a ser socializado
com todos da equipe. Foi possível, assim, ao bibliotecário aliar
a gestão da informação e do conhecimento, atuando junto
a especialistas de outras áreas.
Para encerrar esta parte, considerando, como já citado, que um trabalho
deste teor não se conclui, pois se espera que estimule desdobramentos,
cabe reiterar que empreendedorismo quer dizer pelo menos três coisas:
a) a capacidade de tomar a iniciativa, buscar soluções
inovadoras e agir no sentido de encontrar a solução para problemas
econômicos ou sociais, pessoais ou de outros, por meio de empreendimentos;
b) o conjunto de conceitos, métodos, instrumentos e práticas
relacionadas com a criação, implantação e gestão
de novas empresas ou organizações, portanto, constitui-se em
uma disciplina que pode ser ensinada; e
c) um movimento social para a criação de emprego e renda,
que recebe o incentivo dos governos e instituições de diferentes
tipos (GERANEGOCIO, 2004).
Portanto, ao investir em sua carreira, enfocando-a como um empreendimento,
o bibliotecário insere-se em um movimento apontado como a grande revolução
silenciosa do século XXI, e também cumpre o seu papel de agente
de mudança social, pois o mundo é uma teia de relações,
onde nada é por si só, isolado e suas ações têm
efeitos sobre outros.
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VARGAS, Elizabeth. Informação oral obtida em palestra proferida
no Rio de Janeiro, 2002.
__________
RUPTURE OF LIBRARIANSHIP’S PARADIGMS, SELF-EDUCATION AND WORK MARKET:
STUDY OF CASES
Abstract: It relates the Brazilian librarian’s performance and insertion
in the market in the effective librarian’s paradigms: focus in the collection,
information only as corporate property only and predominance of the work environment
in the library. It discusses some professional paradoxes relating them with
the paradigms and the competencies and abilities required in the organizations.
It demonstrates that the disruption of such paradigms will contribute to
extend the vision and the chances of work, in the same way that the principles
of the enterprising and the innovation, when applied to self-education, this
way is suggested to face the professional challenges, in the present. It
concludes presenting representative studies of cases of the defended theories.
Keywords: Job market; Innovation; Librarianship’s paradigms; Intrapreneurship;
Self-education
__________
Fábio Jose Lobo da Fonseca
Bacharel em Biblioteconomia e Documentação. Especialista em
Gestão da Informação e Inteligência Competitiva
(em formação). Empresa: Grupo CanalEnergia. Pesquisador de Mercado/Analista
de Informações.
E-mail: fabio@gcri.com.br
Fernanda Maria Lobo da Fonseca
Bacharel em Biblioteconomia e Documentação. Especialista em
Gestão da Informação e Inteligência Competitiva
(em formação). Empresa: Susan Bach Livraria e Comércio
de Livros.
E-mail: fernanda@gcri.com.br
Nádia Lobo da Fonseca
Bacharel em Biblioteconomia e Documentação. Especialista em
Organização da Informação para a Disseminação
do Conhecimento. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rede Sirius – Rede
de Bibliotecas UERJ. Bibliotecária.
E-mail: nadia@gcri.com.br
Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis,
v. 10, n. 2, p. 207-223, jan./dez., 2005.