BIBLIOTECA ESCOLAR E A LEITURA

Araci Isaltina de Andrade Hillesheim

Gleisy Regina Bories Fachin

Resumo

Relata-se a experiência em projetos de extensão apoiados pela Universidade
Federal de Santa Catarina, com o objetivo de desenvolver atividades de incentivo à
leitura em bibliotecas das escolas do ensino fundamental de Florianópolis/SC. As
atividades de incentivo à leitura são imprescindíveis em qualquer escola,
principalmente no ensino fundamental, onde estas atividades deveriam ser
realizadas com a colaboração mútua entre professores e a biblioteca. Destaca-se
que a presença do bibliotecário passou a ser valorizada e fundamental para o
desenvolvimento de atividades de incentivo à leitura e outras inerentes à biblioteca
escolar.

Palavras-chave:

Biblioteca escolar; Incentivo à leitura; Hábito de leitura; Bibliotecário escolar

1 INTRODUÇÃO

A capacidade de ler é considerada essencial à realização profissional e
individual do ser humano. O hábito da leitura necessita ser inserido, estimulado e
treinado desde a infância envolvendo os diversos tipos de leitura, seja em sua
educação nata (em casa) ou no contínuo aprender (na escola, no trabalho e por toda
a vida).

Deste modo, as atividades de incentivo à leitura são imprescindíveis em
qualquer escola, principalmente no ensino fundamental, onde é mais fácil de inserir
o hábito, pois, as crianças têm a grande capacidade de brincar, de sonhar, de
imaginar e brincando assimilam e assumem as atividades como parte de seu dia-adia.
Mas, estas atividades precisam ser realizadas com a colaboração mútua entre
professores, alunos e a biblioteca da escola.

O objetivo deste artigo consiste em relatar as atividades de incentivo à
leitura, desenvolvida através de projetos de extensão do Departamento de Ciências
da Informação, com o apoio do Departamento de Apoio a Extensão, da
Universidade Federal de Santa Catarina, realizado em algumas bibliotecas das
escolas do ensino fundamental em Florianópolis.

Apresenta-se a seguir, a contextualização da escola e da biblioteca,
resgatando-se a história de projetos de incentivo à leitura, a metodologia e os
resultados alcançados no transcorrer da execução dos projetos.

2 ESCOLA E A BIBLIOTECA

A escola é um lugar privilegiado de armazenamento e transmissão de
conhecimentos. Contudo, o maior fluxo de informação sobre os diversos campos
do saber está fora da sala de aula e em diferentes suportes, com inúmeras formas de
acesso.

No atual mundo globalizado, a base é a informação, onde ocorre um excesso
descontrolado da mesma, encontram-se todos os tipos de informações, das quais
muitas são meramente informativas e outras superficiais, fragmentadas, caóticas,
excessivas, chegando ao leitor de forma descontextualizada, desestruturada e
incompleta. Neste ponto, encontram-se professores e alunos que buscam,
pesquisam, recuperam, produzem e criam novos conhecimentos. Neste contexto, é
necessário que as bibliotecas escolares exerçam sua real função, quanto ao
incentivo à leitura e a pesquisa, favorecendo o desenvolvimento de crianças
integradas nesta sociedade globalizada.

Os alunos ao freqüentarem o ambiente escolar desenvolvem e ampliam suas
habilidades e competências. Ao receberem e interagirem na diversidade de
informações transmitidas pelos diversos meios de comunicação (livros, jornais,
televisão, radio, Internet), ou ainda, no próprio convívio familiar e na sociedade,
enriquecem as possibilidades de desenvolver sua concepção de vida e sua visão de
mundo.

Diante disto, a escola não pode mais apresentar uns saberes estáticos,
uniformes e únicos, mas saberes dinâmicos, múltiplos, variados e procedente de
muitas fontes. Segundo Illescas Núñez; Bernabeu Morón (2001) esta nova escola
adaptada aos novos tempos deve ser:

Un lugar de conocimiento, donde acceder, contextualizar,
elaborar, ampliar y dar sentido a ese enorme caudal de
información.
Un lugar de encuentro para compartir experiencias, debatir y
dialogar, respetar a los otros, desarrollar habilidades de
escucha y aprender a expresar las propias opiniones.
Un lugar de reflexión en el que valorar de forma crítica las
informaciones, e interpretar la realidad reconociendo su
complejidad.
Un lugar de crecimiento en el que desarrollar las capacidades
personales que les conviertan en adultos integrados en la
sociedad.
Un lugar para la utopía en el que los alumnos aprendan
aquellos valores que les permitirán transformar su mundo.
O objetivo principal da escola consiste em oferecer aos seus alunos
habilidades e competências necessárias para o seu desenvolvimento pessoal, social
e profissional. A leitura é uma destas habilidades básicas, com ampla diversidade
de uso e aplicação e pode ser realizada para informar, investigar, aprender, ensinar,
divertir, entre outros.

É necessário lembrar que existem outras habilidades relacionadas e
intercaladas com a leitura e o uso da informação, que são básicas para que ocorra a
aprendizagem. É necessário saber analisar um problema e identificar a informação
para resolvê-lo. Buscar fontes de informação disponíveis e selecionar o que é
pertinente, relacionar novos conhecimentos com os conhecimentos prévios e
organizá-los de uma forma adequada para transmiti-lo a outras pessoas
(ILLESCAS NÚÑEZ; BERNABEU MORÓN , 2001).

Para que a escola tenha o desenvolvimento desejado é necessária a
utilização de recursos que facilitem a integração e dinamização do processo
ensino-aprendizagem. Entre os recursos existentes, destaca-se a Biblioteca escolar,
instrumento indispensável como apoio educacional, didático-pedagógico e cultural.

A biblioteca escolar é também elemento de ligação entre professor e aluno na
elaboração das leituras e pesquisas, busca sempre uma melhor metodologia de
transmissão do conhecimento e influencia o hábito da leitura e que tudo isto
possibilita tornar o aluno mais crítico na realidade em que se encontra.

A biblioteca escolar é um espaço em que os alunos encontram material para
complementar sua aprendizagem e desenvolver sua criatividade, imaginação e
senso crítico. É na biblioteca que podem reconhecer a complexidade do mundo que
os rodeia, descobrir seus próprios gostos, investigar aquilo que os interessa,
adquirir conhecimentos novos, escolher livremente sua leituras preferidas e sonhar
com mundos imaginários.

Biblioteca escolar é um centro ativo da aprendizagem, portanto precisa ser
vista como um núcleo ligado ao esforço pedagógico dos professores e não como
um apêndice das escolas. A biblioteca escolar, portanto, deve trabalhar com os
professores e alunos e não apenas para eles. Mas na maioria das vezes, segundo
Sanches Neto (1998) a biblioteca é encarada como um anexo da escola, quando na
verdade, ela deveria ser a sua alma.

Uma biblioteca bem adaptada à comunidade escolar assumindo suas
funções, disponibilizando um ambiente carregado de motivações é o local, por
excelência, onde a criança aprende a gostar de ler, a se interessar pela leitura e pelo
livro, ou por qualquer coisa que represente uma interpretação, uma associação,
uma história. Como sublinha Fragoso (1994), “A ação dinâmica da biblioteca
deverá servir ao programa escolar, daí a necessidade de atividades em grupos, tais
como: dramatizações, jogos, hora do conto [...]”.

A hora do conto é um dos principais estímulos à leitura e oportuniza as
crianças que dela participam a:
a) estabelecer uma ligação entre fantasia e realidade;
b) sentir-se instigada para procurar soluções para problemas
apontados ou vivenciados pelos personagens da história;
c) ler por prazer;
d) desenvolver o gosto e/ou habilidades artísticas;
e) desenvolver a imaginação e criatividade;
f) ampliar suas experiências e o conhecimento do mundo que o
cerca;
g) desenvolver a capacidade de dar seqüência lógica aos fatos
(BARCELLOS, NEVES, 1995).
Para merecer o caráter de instrumento dinâmico e de ser interativo, há que
se considerar como função primordial que a biblioteca escolar atue como órgão
auxiliar e complementar da escola, facilitando aos alunos o livre acesso aos livros,
ao mundo fantástico do saber, das descobertas, dos sonhos, do imaginário conto de
fadas ao mundo do assombrado. Bem como, a orientação clara e precisa para o
estudo, para a solução de problemas e dos deveres de classe, ou ainda, o de
incrementar as pesquisas referenciando-as, utilizando mais de um livro,
sintetizando, criticando e, fundamentalmente como apoio informacional ao pessoal
docente. (KIESER; FACHIN, 2000).

O profissional que atua na biblioteca escolar precisa organizar o acervo
(livros, revistas, mapas, dicionários, enciclopédias, entre outros), elaborar um
sistema de empréstimo e de consulta, auxiliar e orientar os usuários em como usar
a biblioteca, mas prioritariamente criar e desenvolver programas de incentivo à
leitura, participar do planejamento escolar e inserir-se como participante ativo de
todas as atividades da escola. É importante salientar que tudo isso deve ser feito em
conjunto com os a direção e os professores da escola.

Desta maneira, vale destacar que os serviços bibliotecários de incentivo à
leitura para alunos de 1ª à 4ª séries do ensino fundamental, integrados ao processo
de ensino-aprendizagem, favorecem o desenvolvimento e consolidação do hábito
de leitura nas crianças e do senso crítico, pois é nesta fase inicial da vida escolar
que se criam às raízes e o fortalecimento do ser humano, como um ser consciente e
crítico do espaço que ocupa.

Conforme afirma Fernandez (1994), a responsabilidade pela inclusão de
livros no dia-a-dia das crianças é da família num primeiro momento, depois da préescola,
das Bibliotecas Escolares e das bibliotecas públicas. Os jardins de infância
deverão contar com bibliotecas constituídas de livros atrativos e de contos,
desenvolvendo atividades integradas ao processo pedagógico, visando atrair a
atenção da criança para o livro, familiarizá-la com o livro, enriquecer seu
vocabulário, formar o futuro leitor.

Desta forma, conquistando o leitor, as bibliotecas se transformam em um
local onde a educação, o ensino e o lazer poderão encontrar-se, permitindo o
acesso às informações a todos e contribuindo na formação de cidadãos. A
biblioteca escolar justifica sua própria existência no desempenho das atividades de
ensino, cultura e lazer desenvolvido dentro do ambiente escolar. É necessário
destacar que cabe ao bibliotecário e somente a ele a função de priorizar entre as
tarefas do processamento técnico e as de atendimento a comunidade escolar para
buscar a satisfação dos usuários; cabe a ele demonstrar a importância de seu
trabalho como educador, como incentivador da leitura, representando o real
significado da biblioteca escolar.

Uma biblioteca escolar que visa à interação de alunos, professores e
informação para facilitar o processo ensino-aprendizagem, dando prioridade às
atividades com os alunos, recomenda-se disponibilizar, conforme Kieser; Fachin
(2000):
a) horário adequado e flexível aos usuários;
b) seleção pertinente do acervo ao seu usuário;
c) organização e estruturas definidas;
d) acesso livre, com empréstimo domiciliar;
e) políticas desenvolvidas entre o bibliotecário e outros
profissionais da escola para incentivar a leitura;
f) conhecimento dos motivos que levam o aluno à biblioteca;
g) investimento na atualização do acervo é torná-lo cada vez mais
adequado à clientela escolar;
h) investimento na constante atualização do profissional habilitado;
i) atividades de integração entre professores e bibliotecários.
Salienta-se ainda que, cabe ao bibliotecário escolar a busca pela interação e
sua inserção na estrutura funcional da biblioteca, passando a participar de todo o
processo organizacional fazendo-se presente no planejamento educacional,
inserindo-se no cronograma das atividades das várias disciplinas. Enfim, ser
participante ativo na escola como um todo.

3 PROJETOS EM BIBLIOTECA ESCOLAR

A triste realidade do ensino público (municipal, estadual, federal) recaiu na
falta de profissionais nas várias instâncias. Ao conhecer a realidade, desespera-se
ao observar a não existência de biblioteca escolar em sua função primordial na
maioria das escolas.

Considerando-se esta realidade e em contato com as bibliotecas escolares da
região de Florianópolis/SC, as quais não são diferentes da maioria do país,
apresentando dificuldades na realização de atividades pedagógicas no processo de
promoção da leitura, quer quanto ao acervo, bem como, quanto à inexistência de
profissionais aptos, verificou-se a necessidade de criar um projeto que tornasse
viável o planejamento e execução de atividades de incentivo à leitura junto aos
alunos de 1ª à 4ª séries, de forma integrada ao processo de ensino-aprendizagem da
escola e a sua real necessidade.

Ao resgatar a história dos projetos de extensão, desde 1995, o Departamento
de Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina, com o apoio
financeiro da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, por meio de seu Departamento
de Apoio à Extensão vêm desenvolvendo projetos de extensão voltados à
“Atividades de Incentivo à Leitura em Bibliotecas Escolares”, tendo por proposta
desenvolver atividades de incentivo à leitura em bibliotecas escolares das escolas
municipais do ensino fundamental de Florianópolis.

Como seqüência destes projetos foi possível proporcionar mudança de
“preconceitos” existentes referentes aos serviços prestados pelo profissional
bibliotecário e a conscientização da importância da leitura, principalmente pela
hora do conto, pois esta atividade estimula o desenvolvimento cultural, a
criatividade e torna o aluno mais crítico. Além disso, estes projetos impulsionaram
a origem de vários artigos, o que vem contribuindo para o despertar das
necessidades de se investir em bibliotecas escolares.

Destaca-se, também, o fato de colocar alunos do Curso de Biblioteconomia
da Universidade Federal de Santa Catarina - futuros profissionais bibliotecários,
em contato com as atividades e a realidade das bibliotecas escolares, demonstrando
o quanto se tem a fazer e cabe ao bibliotecário fazer, além de considerar a realidade
do ensino fundamental no Brasil.

Relacionam-se, a seguir, os respectivos projetos de incentivo à leitura,
realizados em Florianópolis de 1995 a 2002:
a) 1995 - Escola Básica Beatriz de Souza Brito - Bairro Pantanal;
b) 1996 - Biblioteca da Escola Desdobrada Jacinto Cardoso - Bairro
Serrinha;
c) 1997 - Colégio Estadual Simão José Hess - Bairro Trindade;
d) 1998 - Colégio Estadual Simão José Hess - Bairro Trindade;
e) 2000 - Escola Básica Padre João Alfredo Rohr - Bairro Córrego
Grande;
f) 2001 - Escola Básica Padre João Alfredo Rohr - Bairro Córrego
Grande;
g) 2001 - Escola Estadual Leonor de Barros – Bairro Itacorubi;
h) 2002 - Escola Básica Padre João Alfredo Rohr – Bairro Córrego
Grande;
i) 2002 - Escola Estadual Leonor de Barros – Bairro Itacorubi;
j) 2002 - Atividades de Leitura para portadores de necessidades
especiais - APAE/Florianópolis, Bairro Itacorubi.
Na seqüência, descrevem-se as atividades desenvolvidas no decorrer dos
projetos, que têm e procuram manter como proposta o desenvolvimento de
atividades de incentivo à leitura em bibliotecas escolares das escolas de ensino
fundamental.

3.1 Atividades de incentivo a leitura

Estes projetos de extensão apresentam como objetivo fundamental:
incentivar o hábito de leitura nos alunos; treinamento e pesquisa na biblioteca
escolar; inserção e reconhecimento da importância das bibliotecas e dos
bibliotecários no ambiente escolar.

Entre os objetivos específicos dos projetos de extensão, destacam-se:
a) obter informações sobre as atividades desenvolvidas quanto à
promoção da leitura nas escolas pelas bibliotecas escolares;
b) realizar a hora do conto nas turmas de 1ª a 4ª séries do primeiro
grau, envolvendo atividades pedagógicas junto aos professores;
c) demonstrar aos professores e alunos as facilidades advindas dos
acervos organizados;
d) demonstrar aos professores e alunos os serviços de uma
Biblioteca escolar no estímulo ao desenvolvimento do hábito de leitura e da
pesquisa;
e) proporcionar aos participantes do projeto (alunos, professores e
bibliotecários da escola, juntamente com os alunos e professores do Curso de
Biblioteconomia da UFSC) a oportunidade de desenvolver experiências
referentes à promoção da leitura através de atividades pedagógicas, integrando
teoria e prática;
f) diversificar os meios de incentivo à leitura, utilizando jogos,
sucatas e dramatização, visando a conscientizar alunos e professores do seu
papel na formação da biblioteca escolar.
É importante destacar que, para a realização dos projetos são necessários
à participação e envolvimento de vários segmentos, entre eles destaca-se:
a) setores da Universidade Federal de Santa Catarina, como: o
Departamento de Ciência da Informação, que a ele compete direcionar horas
para execução das atividades para as professoras envolvidas; a Coordenadoria
de Estágio do departamento, que faz a divulgação de bolsas e de estágios e do
Departamento de Apoio à Extensão, pelo oferecimento de bolsa de extensão, o
que permite a participação dos alunos.
b) alunos do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de
Santa Catarina;
c) alunos, professores, bibliotecários e demais funcionários da
escola.
Salienta-se que os projetos executados são desenvolvidos em escolas que
mantém a biblioteca escolar com um profissional bibliotecário e que ofereça as
condições necessárias para o desenvolvimento das atividades de leitura. No caso da
APAE/Florianópolis, a biblioteca está sendo reestruturada e conta com a
participação de bibliotecária voluntária, a qual acompanha e orienta as atividades.

As escolas participantes do projeto disponibilizam o acervo bibliográfico da
biblioteca escolar em questão e o material lúdico pedagógico necessário para a
realização das atividades, as quais são elaboradas pela bibliotecária e pela bolsista.

O aluno-bolsista tem a responsabilidade de elaborar, em conjunto com a
bibliotecária responsável e professores da escola envolvida, um cronograma para a
realização da hora do conto e outras atividades nas diferentes séries.

3.2 Atividades do bolsista

De maneira geral, as dificuldades e recursos de cada escola são iguais.
Assim, as atividades dos bolsistas são desenvolvidas de forma semelhante,
adequando-se sempre a realidade das escolas. São elas:
a) caracterização da biblioteca escolar, sua metodologia e linha
pedagógica;
b) desenvolvimento de atividades pedagógicas, envolvendo
professores, baseadas em histórias infantis na hora do conto;
c) demonstração aos professores e alunos das vantagens de acervos
organizados em bibliotecas escolares no processo ensino-aprendizagem;
d) programação das atividades de incentivo à leitura segundo o
planejamento escolar, envolvendo os conteúdos teóricos e práticos
conceituados no contexto da escola;
e) desenvolvimento das atividades programadas: hora do conto e
demais atividades lúdicas (dramatização, desenhos, adivinhações,
pergunta/resposta, colagem, entre outras);
f) demonstração da utilização do livro e dos cuidados que o aluno
deve ter para com o mesmo;
g) orientação aos usuários quanto a pesquisas, uso do acervo;
h) avaliação do desenvolvimento do projeto, verificando as
alterações comportamentais nos alunos e professores, bem como, da escola
como um todo, ocasionadas pelas atividades pedagógicas de incentivo a
leitura;
i) relatório do projeto.
As atividades realizadas têm horários pré-determinados conforme a
possibilidade de cada turma. Nos momentos que não estão realizando as atividades
de incentivo a leitura, os bolsistas colaboram com atividades na biblioteca, tais
como: o planejamento que envolve deste a programação e a preparação das
atividades, o atendimento ao usuário, a orientação às pesquisas, a confecção de
murais, a organização do acervo.

A participação de alunos do Curso de Graduação em Biblioteconomia da
UFSC no projeto é de suma importância, pois propicia a possibilidade de trabalhar
a teoria junto com atividades práticas, avaliar como a biblioteca escolar auxilia no
aprendizado do aluno e o quanto contribui para que se formem pessoas críticas e
participativas na sociedade onde vivem.

4 RESULTADOS ALCANÇADOS

Durante o desenvolvimento das atividades em bibliotecas escolares,
observou-se de maneira muito ampla, uma mudança do tratamento dos professores
em relação à biblioteca, que passou a ser vista como um local:
a) de aprender e que existe para se obter e trocar informação, de
produzir conhecimento;
b) de interação na troca de idéias e experiências;
c) de ação comunitária / cultural, divulgando e auxiliando a
comunidade escolar como um todo.
Foi possível verificar a mudança de preconceitos existentes referente aos
serviços prestados pelo profissional bibliotecário, onde se destaca o envolvimento
deste profissional com o processo pedagógico existente na escola, onde todos
podem colaborar. A biblioteca tornou-se um elo concreto entre o livro e o leitor,
seja aluno, professor, pais ou funcionários da escola.

Cabe salientar que, através desses projetos, pretendeu-se enfocar a
importância e o papel da biblioteca escolar dentro do ensino-aprendizagem, através
do qual é possível atingir uma melhor metodologia para a transmissão do
conhecimento, buscando influenciar o hábito da leitura e tornar o aluno mais
crítico.

No desenvolvimento do projeto houve, portanto, uma conscientização da
importância da leitura, principalmente através da hora do conto. Em resumo, esta
atividade amplia os horizontes da leitura, tornando a criança consciente da
existência de uma infinidade de livros, sobre diversos temas, gêneros e estilos, os
quais são capazes de fazer mais de uma história, mais de uma interpretação, um
sonho, um imaginar diferente. São capazes de satisfazer suas necessidades
individuais e seu gosto, do mesmo modo que a do seu amigo e, ainda mais, permite
também a seleção de obras que mais se ajustem ao seu grau de maturidade psíquica
e intelectual.

O que é preciso conquistar é a capacidade de ler, traduzir, aprender e
criticar cada texto, desde o início da alfabetização. E mesmo antes, pois sabemos
que as crianças adoram ouvir histórias todos os dias, contadas pelos pais e/ou avós
e recordá-las à sua maneira, mas para isto é necessário que as crianças sejam
estimuladas. Ler significa refletir, pensar a favor ou contra, comentar, trocar
opiniões, posicionar-se, enfim exercer e treinar, desde de sempre, o ser crítico, o
ser único, o de adotar a sua cidadania.

5 CONSIDERAÇÕES

Com a implantação dos projetos e sua continuidade ao longo dos anos, os
objetivos foram alcançados, pois através da interação entre alunos, pais,
professores, bibliotecários e bolsistas, foi possível desenvolver experiências
relacionadas à leitura por meio da prática de métodos pedagógicos integrados a
leitura.

Para que se atinja diretamente as crianças é necessário à aceitação e o
desenvolvimento de confiança mútua entre os personagens que atuam no processo
de ensino-aprendizagem. É necessário realizar atividades integralizadoras com os
professores das escolas, pois estes são:
a) o maior elo motivador da leitura para crianças, após as
influências familiares, na escola. Portanto, se o professor estiver consciente de
seu papel e estimular a leitura estará sempre criando e incentivando o hábito de
leitura e conseqüentemente o uso de bibliotecas escolares pelos alunos de 1º e
2º graus;
b) condições de exemplo no uso de bibliotecas, favorecem o
estímulo aos alunos para utilizarem também a biblioteca;
c) o elo entre biblioteca, livros e alunos, repercutindo também numa
seleção de materiais bibliográficos mais adequados para a biblioteca escolar;
d) colaboradores em potencial, juntamente com os bibliotecários das
bibliotecas escolares.
Assim, está sendo possível manter um elo entre professor, direção e
bibliotecário e mostrando a todos os integrantes da escola, a importância da leitura
na formação de um cidadão. Conseqüentemente, a biblioteca escolar passou a ser
este elo de ligação entre todos os personagens deste processo, tornando-se uma
importante ferramenta de ensino-aprendizagem.

O hábito da leitura deve ser estimulado nos primeiros anos de vida escolar.
Porém, é impossível negar que a maioria das escolas, lamentavelmente, ainda não
possui infra-estrutura desejável para a conscientização do hábito da leitura, sendo
necessário à existência de parcerias e a manutenção desses projetos.

O Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de
Santa Catarina, no decorrer de suas atividades tem desenvolvido projetos de
extensão, buscando a abertura de locais de trabalho e estágios, colocando seus
acadêmicos em contato direto com suas diferentes áreas de atuações profissionais,
como: Bibliotecas Públicas, Bibliotecas Escolares, Bibliotecas Especializadas e
Universitárias, além de Centros de Documentação e Informação e/ou ainda,
fundações e associações que trabalham em prol dos menos favorecidos. Através
destas ações, vai possibilitando a formação de bibliotecários com uma visão muito
mais ampla das perspectivas profissionais, mantendo um contato social, político e
econômico com as estruturas organizacionais de qualquer tipo de instituição. Desta
maneira, busca-se sempre pela continuidade destes projetos, como também, a sua
expansão para outras bibliotecas das escolas de Florianópolis.

REFERÊNCIAS

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Brasília: INL, 1977.
BARCELLOS, Gladis Maria F.; NEVES, Iara Conceição B. Hora do conto: da
fantasia ao prazer de ler. Porto Alegre : Sagra-DC Luzatto, 1995.
FERNANDEZ, Stella Maris. Pomocion de la lectura: papel que le corresponde en
ello a la família, a la escuela y a las bibliotecas escolares y publicas. In:
CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE BIBLIOTECONOMIA E
DOCUMENTAÇÃO, 2., 1994, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: ABMG,
1994. p.625-642.
FRAGOSO, Graça Maria. Biblioteca e escola: uma atividade interdisciplinar. Belo
Horizonte: Lê, 1994.
ILLESCAS NÚÑEZ, María Jesús; BERNABEU MORÓN, Natalia. La biblioteca
escolar
: espacio real y espacio simbólico. Disponível em:
http://www.quadraquinta.org/documentos-teoricos/cajon-decuadraquinta/biblioteca-escolar/bibliotecaescolar1.html. Acesso em: 19 fev. 2002
KIESER, Herta; FACHIN, Gleisy Regina Bóries. Biblioteca escolar: espaço de
interação entre bibliotecário-professor-aluno-informação - um relato. In Congresso
Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, 19., Porto Alegre, 2000. Anais
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MARINHO, Marildes (Org.). Ler e navegar: espaços e percursos da leitura.
Campinas, SP: Mercado de Letras; Associação de Leitura do Brasil, 2001.
SANCHES NETO, Miguel. Desordenar uma biblioteca: comércio & industria da
leitura na escola. Revista Literária Blau, Porto Alegre, v. 4, n. 20, p. 20-24, mar.
1998.
SILVA, Lílian Lopes Martin (Org.). Entre leitores: alunos, professores. Campinas,
SP: Komedi; Arte Escrita, 2001.
SILVEIRA, Itália Maria Falceta da. Ensinar a pensar: uma atividade da biblioteca
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SOUZA, Maria Salete D. de. A conquista do jovem leitor: uma proposta
alternativa. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1993.
YUNES, Eliana (Coord.). A leitura e a formação do leitor: questões culturais e
pedagógicas. Rio de Janeiro: Antares, 1984.
_________________

SCHOOL LIBRARY AND THE READING

Abstract:

Presents the work developed within the community project sponsored by the
Federal University of Santa Catarina – UFSC, with objetive to incentive readings
by pupils of the elementary school in Florianópolis /SC. The activities regarding
reading are essential to the school environment, in particular in the elementary
level. At this level it is important the integrated action of librarians and teachers.
The present work brought a valorization of the librarian as an active element within
the learning process, as well as an other activities related the school library.
Keywords: School library; Reading incentive; Habit of reading; School librarian.
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Araci Isaltina de Andrade Hillesheim

Mestre em Educação.
Professora no Departamento de Ciência da Informação
Universidade Federal de Santa Catarina
E-mail: araci@cin.ufsc.br

Gleisy Regina Bories Fachin

Mestre em Engenharia da Produção.
Professora no Departamento de Ciência da Informação
Universidade Federal de Santa Catarina
E-mail: gleisy@cin.ufsc.br
Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 8, p. 35-45, 2003.