BIBLIOTERAPIA PARA A CLASSE MATUTINA DE ACELERAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DOM JAIME DE BARROS CÂMARA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Clarice Fortkamp Caldin

Resumo:

Programa de leitura dirigida com finalidade terapêutica aos alunos da classe matutina de aceleração de escola pública. Objetivou-se proporcionar a catarse, a identificação e a introspecção por meio de textos literários que contemplassem o humor, facilitassem a socialização, estimulassem a criatividade e o diálogo, incentivassem a interpretação, aliviassem as tensões diárias e
aumentassem a auto-estima dos alunos. Os resultados alcançados foram positivos pois a leitura dos textos ficcionais aliada às atividades lúdicas complementares fortaleceram o grupo e demonstraram que a biblioterapia é eficaz como pacificadora das emoções na sala de aula.

Palavras-chave:

Biblioterapia; Leitura- função terapêutica; Leitura.

1 INTRODUÇÃO

A Escola de Educação Básica Dom Jaime de Barros Câmara situa-se na
Freguesia do Ribeirão da Ilha, município de Florianópolis, em Santa Catarina . Em
2002 contava com duas turmas de aceleração, sendo uma matutina e outra noturna.
Na turma matutina estavam matriculados 30 alunos com faixa etária de 14 a 24
anos - pré-adolescentes, adolescentes e jovens com dificuldade de aprendizagem,
com histórico de repetência e evasão escolar, que não valorizavam a leitura. De
maneira geral, apresentavam-se agressivos, inseguros e com pouca capacidade de
concentração.

A Lei n. 9.294/96 e a Lei complementar n. 170/90, delegam às escolas a
possibilidade de reclassificar os alunos. Assim, alunos que por motivos vários
repetem a mesma classe, ou tenham se evadido da escola e desejam a ela retornar,
têm a oportunidade de obter êxito escolar no ensino fundamental. Para tanto, a
E.E.B. Dom Jaime de Barros Câmara reestruturou os conteúdos programáticos das
disciplinas, adotou uma metodologia diferente daquela utilizada nas demais
classes, e apresentou um Projeto à Coordenadoria Regional de Educação para obter
a assessoria necessária ao sucesso das classes de aceleração.

O Projeto da Classe de Aceleração visava possibilitar aos alunos com
múltiplas repetências e evasão escolar a apropriação e a crítica do conhecimento
humano. Pretendia, por meio do incentivo à pesquisa bibliográfica, de trabalhos em
equipe com função nitidamente socializadora, de participações em eventos que
aguçassem a criatividade e fortalecessem a responsabilidade, do uso constante da
biblioteca e do incremento da atividade da leitura, que tais alunos adquirissem
senso crítico, aprendessem a conviver em grupo, apreendessem o conteúdo dos
textos e pudessem, também, ser criadores de novos textos literários.

A Universidade Federal de Santa Catarina, representada por uma professora
do Departamento de Ciência da Informação, estabeleceu parceria no tocante às
atividades de leitura com a E.E.B. Dom Jaime, apresentando o projeto de extensão
Biblioterapia para a classe matutina de aceleração da E.E.B. Dom Jaime de
Barros Câmara, a ser executado no período de maio a dezembro de 2002.

Acreditou-se que o programa de leitura dirigida – biblioterapia, pudesse
beneficiar tais alunos, auxiliando-os no auto-conhecimento, promovendo o
crescimento e desenvolvimento emocional, servindo de suporte ao crescimento
intelectual, e oferecendo alívio das angústias e frustrações pela catarse
proporcionada pela leitura e fruição de textos literários.

O objetivo geral do projeto foi o de promover a leitura de textos literários
infantis e juvenis que proporcionassem efeitos terapêuticos aos alunos da classe
matutina de aceleração.

Os objetivos específicos foram os seguintes: proporcionar a catarse;
favorecer a identificação com as personagens; envolver os alunos com a
experiência vicária; possibilitar a introspecção; oferecer textos que contemplassem
o humor; incentivar a interpretação de textos; facilitar a comunicação entre os
alunos e seus pais; ajudar os alunos a entender melhor suas limitações, reações,
conflitos e frustrações; aumentar a auto-estima dos alunos; diminuir a timidez;
estimular a criatividade; facilitar a socialização pela participação em grupo;
estimular o diálogo; aliviar as tensões diárias e despertar o gosto pela leitura.

Esperou-se que o projeto pudesse auxiliar tais alunos na medida em que o
livro e a leitura fossem apresentados de forma prazerosa, com diálogos
complementares e outras atividades lúdicas.

As atividades de biblioterapia na Escola contaram, durante todo o ano de
2002, com o apoio inestimável do Diretor do estabelecimento de ensino, professor
Oscar Pinheiro Neto, da Orientadora Educacional, Professora Valíria dos Santos
Sakr e da Professora de Português, Elisa Beatriz Macarini.

2 ALGUMAS PALAVRAS SOBRE A LITERATURA FICCIONAL

Candido (2000, p. 53) afirma que “a arte, e portanto a literatura, é uma
transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal, que propõe
um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos”. Ao ponderar
sobre a literatura em geral no mundo contemporâneo, salienta que “a literatura
corresponde à necessidade universal de dar forma à fantasia, inclusive (talvez
sobretudo) a fim de compreender melhor a realidade” (CANDIDO, 1995, p. 15).

O pensamento do crítico literário a respeito da obra literária prioriza o leitor
ao dizer que “a literatura é pois um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as
outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a,
aceitando-a, deformando-a” (CANDIDO, 2000, p. 74).

Essa passagem do real para o ficcional torna-se cada vez mais necessária,
pois o homem contemporâneo anseia superar o cotidiano, deseja absorver e
controlar a realidade e integrar a si o mundo circundante – tudo isso sem riscos – o
que é possível pelas vias do imaginário.

Encarada do ponto de vista sociológico, a literatura ajuda a criança e o
jovem a serem questionadores e a terem relativa independência do adulto. Tendo
em vista que o domínio da capacidade da leitura proporciona um papel decisivo no
mercado de trabalho e que a leitura dá voz ao cidadão, pode-se dizer que o ato de
ler é uma ação política. Pela leitura podem a criança e o jovem obter aumento
qualitativo da capacidade crítica e crescimento de seu potencial reivindicatório.

Ao ressaltar o caráter educativo da escola, CALDIN (2001) afirma ser
necessário inserir a leitura literária como componente educador da criança. Afirma,
também, que “ao lado da aprendizagem instrucional que admite a mensuração,
existe a aprendizagem expressiva, que contempla a análise, a avaliação e a
transformação que admite a interpretação – campo por excelência da literatura “
(CALDIN, 2001, p. 187). Dessa forma, a literatura ficcional configura-se como
agente fundamental no processo ensino-aprendizagem.

Mas, existem outras facetas da literatura que merecem ser exploradas: a
possibilidade de oferecer um apaziguamento das emoções – a catarse; de produzir a
identificação com as personagens por meio da projeção e da introjeção; e de
favorecer a introspecção. A literatura, tem, portanto, uma função terapêutica. É
essa função terapêutica da leitura da literatura ficcional que o projeto Biblioterapia
para a classe matutina de aceleração da E.E.B. Dom Jaime de Barros Câmara
pretendeu desenvolver, analisar e avaliar.

3 DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Após o contato com o Diretor da Escola, com a Orientadora Educacional e
com os Professores da Classe de Aceleração Matutina, procedeu-se à observação e
à conversa com os alunos para verificar suas preferências de leitura. Foi distribuído
um questionário aos alunos, com os seguintes dados a serem preenchidos:
caracterização do informante e interesses e hábitos de leitura, contemplando, no
total, 31 perguntas.

Aconteceram três sessões de biblioterapia por semana, na sala de aula, sendo
que a atividade foi avaliada constantemente, seja por meio de depoimentos dos
alunos, seja por meio de depoimentos dos professores.

Depois da leitura da história, pela executora do projeto, processava-se o
diálogo e, às vezes, outra atividade, desde que a mesma fosse lúdica, atendesse às
necessidades estéticas e proporcionasse prazer.

Procurava-se sempre resgatar a impressão dos alunos acerca dos textos
lidos, e traçar um paralelo com suas vivências. Procurava-se, também, diversificar
a forma de apresentação dos contos. A leitura foi, por vezes, substituída pela
“contação” ou por um filme.

Abordou-se os temas transversais propostos pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais, tais como a ética, a pluralidade cultural, o meio-ambiente, a saúde, a
orientação sexual, o trabalho e o consumo.

Para favorecer a socialização e fortalecer o espírito de equipe, desenvolveuse,
como atividades paralelas, a escrita de uma história maluca, em que todos os
alunos participaram, juntando pedaços de contos lidos e textos criados; uma
maquete com o tema da história O aguilhão do rei, e foi encenada uma peça
teatral, O mágico de Oz.

De março a setembro as atividades de leitura foram realizadas com a turma
toda.

Foram lidos à turma os seguintes textos literários: A velha contrabandista
(de Stanislaw Ponte Preta); Porta de colégio (de Affonso Romano de Sant’Anna);
toda a coleção Violência, não! (de Sylvie Girardet e Puig Rosado); Meu avô, um
escriba (de Oscar Guelli) e O aguilhão do rei (do livro Técnicas de contar
histórias, de Vânia Dohme).

As histórias contadas foram: Odisséia (de Homero, adaptação de Leonardo
Chianca); O pequeno príncipe (de Antoine de Saint-Exupéry), A mosca (lenda do
Vietnã) e Urashima e a tartaruga (lenda do Japão).

Apresentou-se dois vídeos: Eu, você e a AIDS, e, Cidadania: criança.

Em algumas sessões, os alunos realizaram leitura individual. Foram levadas
duas caixas contendo livros de contos, de poesias, de fábulas, de crônicas, de
mistério e, também, doze fascículos da revista Seleções, que contém artigos
variados. Após a leitura, houve comentários sobre os textos lidos. A seguir,
procedeu-se à escrita coletiva da História maluca.

Quando da leitura da história O aguilhão do rei e da proposta de montar
uma maquete com a temática da mesma, a classe se dividiu em duas equipes. Cada
uma montou, com isopor, massa de modelar, pedaços de madeira, galhos de
árvores, bichinhos de plástico, pedaços de pano e cola, o cenário, que é uma parte
da selva onde existem as ruínas de uma cidade abandonada, um tesouro protegido
por uma naja, caçadores gananciosos, Mogli e seus amigos selvagens.

As maquetes fizeram sucesso e foram apresentadas a todas as salas do
ensino fundamental. Alunos da classe de aceleração se revezaram para contar a
história, tendo como pano de fundo a maquete. Foi uma situação atípica. Até os
mais tímidos ingressaram na atividade e, de maneira geral, todos se sentiram
valorizados perante os demais das outras turmas.

Dos vídeos apresentados, o que chamou mais a atenção foi o referente à
AIDS. Alguns dos alunos são drogados e outros estão tentando largar o vício. A
Escola luta para conscientizar alunos e pais sobre os perigos das drogas e apreciou
sobremaneira o enfoque que o vídeo forneceu sobre o assunto. Também os alunos
mostraram interesse, pois, pela primeira vez, houve silêncio total na sala. Quando
algum aluno queria dizer alguma “gracinha”, os demais exigiam silêncio.

Ao ser sugerido que se montasse uma peça teatral, houve aceitação geral. Os
voluntários logo se apresentaram e, cheios de animação, ensaiaram com seriedade
e boa vontade. A peça O mágico de Oz se constituiu um desafio, pois contém falas
muito grandes. Entretanto, em que pese as limitações dos alunos da classe de
aceleração, pode-se dizer que todos se saíram muito bem.

A peça foi apresentada no pátio da Escola, aos alunos de todas as turmas,
professores s servidores. Foi um trabalho bastante elogiado. Os alunos
participantes sentiram-se valorizados perante os demais. Alguns deles eram tímidos
ou agressivos. Assim, durante os ensaios, procurou-se melhorar as atitudes,
diminuir os ressentimentos e fortalecer o espírito de equipe. Foi um desafio não
apenas para os alunos, mas também para a coordenadora do projeto, que atuou
como diretora de teatro pela primeira vez.

É conhecido o valor terapêutico do teatro, tanto para os atores, quanto para
os expectadores. Desde Aristóteles (1966), existe a crença de que a catarse é a
purgação das emoções de piedade e de medo, efetuada pela tragédia, que atinge
atores e expectadores. Segundo Diniz (1995), Jacob Levy Moreno, o criador do
psicodrama, acreditava que o teatro improvisado é um ato comunal e cooperativo
em que todos , sejam participantes, sejam expectadores, se beneficiam do efeito
catártico da produção. Não se pretendeu montar um psicodrama, com o sentido
restrito da palavra - improvisão - mas, acredita-se que a dramatização seja
terapêutica, no sentido de que libera emoções e proporciona aos atores a perda da
timidez e o aumento da auto-estima. O efeito catártico que se opera é visível, pois
há uma explosão emocional em que todos liberam as tensões. Antigas desavenças
foram esquecidas e desenvolveu-se o espírito de equipe.

Outra atividade desenvolvida com a classe de aceleração foi a visita à
UFSC, desejo da maioria dos alunos. Assim, na semana da II SEPEX
providenciou-se um ônibus para trinta alunos e quatro professores acompanhantes,
entre eles o Diretor da Escola. Todos visitaram a Exposição, a Biblioteca
Universitária e o Planetário. O ônibus foi gentilmente cedido pela Pró-Reitoria de
Assuntos da Comunidade da UFSC.

De outubro a dezembro as atividades biblioterapêuticas foram direcionadas
de forma a atender os alunos individualmente. Assim, solicitou-se à Orientadora
Educacional uma sala própria para a execução do trabalho. Dessa forma, em um
ambiente diferente da sala de aula, sem a presença dos colegas, os alunos, um a
um, reuniram-se com a coordenadora do projeto para a leitura das histórias. Foram
apresentados os livros Os jovens perguntam: respostas práticas (que trata dos
problemas relativos ao cenário doméstico, escolar, profissional, ao sexo e à moral,
aos tóxicos e ao álcool, ao lazer e ao futuro); Volta ao mundo em 52 histórias (uma
coletânea de contos folclóricos do mundo inteiro); Porta de colégio e outras
crônicas (críticas sociais de Affonso Romano de Sant’Änna); Fábulas; e a Coleção
Violência, não.

O aluno tinha a liberdade de escolher o que desejava ser lido. Também era
solicitado a fazer a leitura se não ficasse constrangido. Do contrário, a leitura era
efetuada pela coordenadora. Após a leitura, o diálogo. Uma conversa informal
sobre as questões apresentadas no texto, o paralelo que poderia ser traçado com as
vivências diárias, os problemas gerais da comunidade, os problemas específicos do
aluno. Nessa troca de idéias foi fortalecida a relação entre coordenadora e alunos e
apareceram questões que até então não haviam sido ventiladas no decorrer das
leituras coletivas. Tal entrosamento permitiu à coordenadora auxiliar a resolver
problemas íntimos e angustiantes de alguns alunos. Após o diálogo, foi solicitado
que o aluno escrevesse o que tivesse vontade, em um caderno reservado para esse
fim. Alguns escreveram de próprio punho, e outros pediram que a coordenadora
escrevesse o pensamento deles. Abaixo serão transcritos alguns depoimentos:

“Eu adorei por que isso me ensinou muitas coisas que não sabia por isso eu
te agradeço com o coração”.
“Achei que tudo o que a senhora leu para mim foi ótimo. Porque além de ter
me interessado me esclareceu muitas dúvidas sobre o namoro. Tudo isso me
fez ver que o mundo não é só viver o momento, mas sim também fazer dele
um dos melhores sentimentos”.
“Eu adorei pois pude conhecer muito mais o amor”.
“Eu gostei muito, porque para mim é uma lição de vida”.
“Achei muito legal pois sempre fica uma lição para nossa vida”.
“Acho que toda adolescente tem esse direito de escolher o que quer da vida,
como ir morar sozinha. Tem que ter muita responsabilidade. Muita
adolescente faz isso mais depois se arepende como eu sai de casa uma vez e
me arenpedi. Olhava o meu quarto vazio lindo todo arrumado, quebrei a
cara uma vez mais não vou quebrar de novo”.
“Eu gostei de ler pos aprendi um poco mas não menti, pos com a mentira a
gente pode acaba se dando mal”.
“ A história é muito legal só que nem quase sempre acontece isso, mas as
vezes vale a pena lutar pelo seu amor que as vezes a gente vence, mas é
ruim quando não acontece o que a gente quer”.
“Eu acho que a violência não leva a nada porque algém pode briga mais isso
não leva a nada quando morre por exemplo né. Eu acho que as pessoa
deviam conversa para num briga e a pior coisa do mundo”.
“A vida é uma benção de Deus, pois não há nada comparado a ela”.
Pode-se observar que, em que pese a dificuldade de expressar os
sentimentos de uma forma clara e com correção gramatical, os alunos expuseram
suas angústias e medos com franqueza, o que corrobora o fato de terem confiado
na coordenadora do projeto de leitura.

4 CONCLUSÃO

Considerou-se que o projeto de extensão Biblioterapia para a classe
matutina de aceleração da E.E.B. Dom Jaime de Barros Câmara obteve excelentes
resultados.

A leitura teve um papel destacado no projeto e foi enfocada de maneira
prazerosa, desvinculada das abomináveis “fichas de leitura”. Procurou-se atender
os “10 direitos imprescritíveis do leitor”: o de não ler, o de pular páginas, o de não
terminar um livro, o de reler, o de ler qualquer coisa, o direito ao bovarismo, o de
ler em qualquer lugar, o de ler uma frase aqui e outra ali, o de ler em voz alta, o de
calar. (PENNAC, 1998). O diálogo após os textos lidos sempre foi espontâneo,
visando cumprir os objetivos específicos propostos. Em momento algum os alunos
sentiram-se coagidos a participar, seja das atividades de leitura, seja das atividades
lúdicas complementares.

Foram quebradas as barreiras que os alunos nutriam com referência ao
objeto livro. Os textos apresentados foram selecionados de forma a contemplar o
gosto dos alunos. Dessa forma, foram diversificados: ora com conteúdos lúdicos,
ora com conteúdos humorísticos, ora com conteúdos instigadores. Procurou-se,
assim, mostrar aos alunos uma nova forma de encarar o livro e a leitura: não mais
como objeto de punição e exercícios enfadonhos, mas como fonte de prazer, de
fruição e de lazer.

Pode-se dizer que o projeto logrou êxito, pois proporcionou efeitos
terapêuticos, evidenciados nas atitudes observadas nos alunos, nas conversas
informais e nos depoimentos escritos.

Alunos que mostravam muita agressividade modificaram um pouco o seu
comportamento, o que foi notório em atividades em equipe, como a confecção das
maquetes e nos ensaios da peça teatral. Alunos tímidos e reservados apresentavam
seus comentários e interpretações, sem medo de cair no ridículo. Alunos arredios
tornaram-se mais achegados à coordenadora do projeto e permitiram uma
aproximação, o que possibilitou à mesma a oportunidade de conversar sobre
problemas de origens diversas que os angustiavam.

Assim, a leitura do texto literário, as atividades lúdicas, o carinho e afeto
partilhados, fortaleceram o grupo como um todo e demonstraram que, de fato, a
biblioterapia é uma ferramenta útil no combate às tensões da vida diária e age
como pacificadora das emoções ao realizar a catarse pela fruição do literário e
satisfazer as necessidades estéticas do ser humano.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Eudoro de Souza. Porto Alegre: Globo, 1966.
CALDIN, Clarice Fortkamp. A poética da voz e da letra na literatura infantil: leitura de alguns projetos de contar e ler para crianças. 2001. 261 f. Dissertação (Mestrado em Litetatura) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2001.
CALDIN, Clarice Fortkamp. A leitura como função terapêutica: biblioterapia. Encontros Bibli, n. 12, dez. 2001. Disponível em: http://www.encontros-bibli.ufsc.br . Acesso em: 22 jan. 2004.
CANDIDO, Antonio. Literatura, espelho da América? Luso-brasilian Review, v. 32, p. 15-22, 1995.
CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 8.ed. São Paulo: Queiroz, 2000.
DINIZ, Gleidemar J.R. Psicodrama pedagógico e teatro/educação. São Paulo: Icone, 1995.
PENNAC, Daniel. Como um romance. Tradução de Leny Werneck. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
VARIN, Louise; AUBIN, Robert. Les livres qui font du bien. Documentation et bibliothèques, v. 41, n. 2, p. 95-100, avril/juin 1995.

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BIBLIOTHERAPY FOR THE MORNING ACCELERATION CLASS AT DOM JAIME DE BARROS CÂMARA BASIC EDUCATION SCHOOL: REPORT

Abstract: Direct reading program with therapeutic finality to a morning acceleration classroom for students at a public school. The purpose was to use catarse, self identification and introspection through literacy texts that contemplated humor, get easier socialization, stimulated creativity and provoke dialog, encourage interpretation, help to relax diary tensions and increase the
students self-esteem. The results shows positives, because reading texts fiction with entertainment activities help to got a stronger group and showed that bibliotherapy is efficacious as an emotions peacemaker at the classroom.

Keywords: Bibliotherapy; Reading- finality therapeutic; Reading.
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Clarice Fortkamp Caldin

Mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina
Professora no Departamento de Ciência da informação, no Centro de Ciências da
Educação, na Universidade Federal de Santa Catarina
E-mail: claricef@matrix.com.br

Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 8, p. 10-17, 2003.