REFLEXÕES ERGONÔMICAS SOBRE O TRABALHO
DO BIBLIOTECÁRIO EM BIBLIOTECAS/UNIDADES DE INFORMAÇÃO
Wanja Santos Marques de Carvalho
Resumo
Caracteriza as Bibliotecas/Unidades de Informação. Relaciona
as principais atividades nelas desenvolvidas. Analisa a adequação
dessas atividades à realização do profissional, considerando
os fatores satisfação, motivação e qualidade
de vida, fundamentando-se em conceitos ergonômicos de adequação
do trabalho ao homem. Recomenda a adoção de metodologias para
o planejamento de serviços em bibliotecas, pela observação
dos conceitos analisados.
Palavras-chave:
Biblioteconomia - planejamento de serviços: bibliotecários
- trabalho -ergonomia: bibliotecários - trabalho - qualidade de vida.
1. HISTÓRICO
O trabalho, em sua concepção mais simples, tem sido visto pelo
homem como "um mal", necessário à manutenção
das suas condições de sobrevivência. Isto se justificava
pelas condições em que esse trabalho era desenvolvido c considerando-se
que em grande parte, exigia o uso da força física, apresentando
como conseqüência um maior índice de ocupação
da mão-de-obra masculina.
A análise metodológica do trabalho humano teve início
nos primeiros anos do século XX, com Frederick Wislow Taylor, que
propunha uma administração científica, com modelos pré-definidos
de processos de produção, em que se prescrevessem todas as
características de um posto de trabalho. Porém, a única
preocupação com o trabalhador era referente às questões
da fadiga muscular, ignorando a participação mental na execução
da tarefa.
O movimento que se contrapôs à proposta de Taylor foi a Escola
das Relações Humanas de Elton Mayo, nos anos 20. Enfatizava
as necessidades afctivas e de reconhecimento peio serviço realizado,
argumentando que paralelamente à introdução da tecnologia,
para aumentar a produção, a administração deveria
interessar-se também pelas questões humanas.
Mais recentemente, Chris Argyris, um respeitado teórico da administração,
dos Estados Unidos, analisou a organização do trabalho, sob
a ótica do que ele chamou de "atitudes típicas de imaturidade":
tarefas rotineiras; obediência cega a determinações;
regras excessivas; etc, considerando que manter as pessoas imaturas é
uma atitude própria da natureza das organizações formais.
Isto se dá pelo fato de que as organizações são
criadas com um propósito, e o alcance deste depende das atitudes coletivas.
Nesse sentido, o trabalhador é "forçado" a se encaixar nas
tarefas concebidas para consecução dos processos de produção.
Preocupado com estas observações, Argyris sugere a criação
de um clima de trabalho, em que todos tenham oportunidade para crescer e
amadurecer como pessoas, como membros do grupo, atendendo sua próprias
necessidades enquanto concorrem para o alcance dos objetivos da organização.
2. INTRODUÇÃO
Os bibliotecários vêm há séculos trabalhando com
a organização e a disponibilização do conhecimento,
independente da forma pela qual ele se apresente. Muito pouco se tem acrescentado
às formas pelas quais as atividades, desenvolvidas no desempenho da
profissão, são executadas e os serviços, prestados.
O advento das novas tecnologias está impondo ao profissional alguns
questionamentos a respeito desta realidade.
Segundo LUCAS (1996) "[...] um.novo profissional da informação
surgirá, se o bibliotecário terá ou não um lugar
vai depender, em parte, da sua capa cidade de integração, de
sua especificidade como especialista no manejo da informação.
"
O que pretendemos, então, com este trabalho é levar a uma reflexão
sobre os serviços bibliotecários, que pela sua peculiaridade
e dinâmica, exigem uma qualificação que vai além
de sua Capacitação. Considerando-se que esta qualificação
somente acontece através da experiência adquirida, é
necessário que estabeleçamos uma metodologia para o planejamento
de serviços, que esteja estruturada com base em conceitos ergonômicos,
para que a representação mental do que seja trabalho, para
o bibliotecário, encontre reflexo no exercício diário
de suas tarefas. Esta abordagem identifica alguns fatores que levam o trabalhador
a níveis de conflito e angústia, que prejudicam seu desempenho
e afetam sua auto-estima, comprometendo a produtividade a qualidade de seu
trabalho.
Na análise do trabalho do bibliotecário, utilizamos a técnica
da observação exploratória, formulamos hipóteses
e sistematizamos a observação. A revisão de literatura
na área foi relevante, para que obtivéssemos pontos de vista
sobre a profissão, e as características das tarefas executadas
em diferentes ambientes.
Desta forma, apresentaremos as atividades básicas desenvolvidas em
Bibliotecas/Unidades de Informação, de modo que se possa ter
uma visão geral dos processos. Faremos uma rápida apresentação
do histórico de estudos acerca das condições de trabalho
do homem, até o advento da Ergonomia como ciência e, com base
em conceitos ergonômicos, analisaremos as questões de realização
profissional e qualidade de vida do bibliotecário.
2.1 Bibliotecas e Serviços Bibliotecários
"Biblioteca é um complexo centro de operações que inclui
uma linha de operação e processos técnicos, e também,
em tempo integral, atividades de relações públicas,
criação e pesquisa" (SOUZA, 1993).
Basicamente, independente de suas características físicas,
pertinência do acervo ou especialidade, os serviços desenvolvidos
em grande parte das Bibliotecas/Unidades de Informação, se
restringem às seguintes áreas:
a) Administrativa, visando ao planejamento, organização
e administração dos serviços necessários ao seu
pleno funcionamento.
b) Formação e manutenção do
acervo, ocupando-se da aquisição por compra, doação,
permuta do material
bibliográfico e multimeios.
c) Preparo técnico do acervo, que processa a representação
descritiva e temática dos documentos e disponibiliza
os mesmos para utilização.
d) Referência, onde se caracteriza a missão
da biblioteca, que é: o atendimento ao usuário através
da assistên-
cia pessoal; instrução formal e/ou informal sobre o uso da
biblioteca; facilitação do acesso à informação
e fon-
tes bibliográficas através de pesquisas em bases de dados e
cooperação entre instituições; educação
do usuá-
rio quanto ao uso adequado dos recursos da biblioteca; instrumentos de alerta
e disseminação da informação;
comunicação visual/divulgação da biblioteca;
e serviços de marketing.
Na literatura analisada, observamos que há uma preocupação
básica com os processos que se desenvolvem no sistema e, que refletem
diretarnente no que se produz.
FERNANDES (1993) afirma que [...] "os maiores problemas das bibliotecas são
a baixa frequência nessas bibliotecas, o baixo índice de demanda,
a falta de hábito de leitura e a falta do hábito de pesquisa.
Esses problemas ocorrem também porque a maioria das nossas bibliotecas
continua preocupada apenas com processos técnicos, relegando a planos
inferiores o atendimento aos usuários. Ao que parece, essas bibliotecas
continuam assumindo postura semelhante a que tinham em séculos passados,
ou seja, a idéia de que a tarefa da biblioteca está concluída
quando os documentos são coletados, tratados e expostos nas estantes.
"
O ambiente onde as tarefas são executadas (biblioteca) é que
se atribui a responsabilidade pelo desempenho, omitindo-se no julgamento
a existência de uma infra-estrutura de pessoal, que assegure que a
missão da
instituição seja cumprida e seus objetivos alcançados.
SOUZA (1995) nos apresenta uma biblioteconomia, ou seja, o
exercício do trabalho na biblioteca, como:
" [...] uma prática dependente de normas, códigos, sistemas
terminológicas pré-definidos, os quais supõem uma aplicação
infinita aos casos tidos por semelhantes ou comuns. Nesse tipo de atuação,
é muito difícil falar-se em liberdade de ação,
criatividade ou outras características que decorrem do livre arbítrio
ou da livre capacidade de realização e que resultariam de um
ensino universitário voltado ao conhecimento humanista ou científico
descompromissado da preparação profissional-tecnicista."
Afirma ainda que:
" [...] talvez por isso algumas tentativas de caracterização
do bibliotecário coloquem-se mais sob um ponto de vista mecânico,
isto é, de mostrá-lo como que construído a partir de
um composto de traços, aptidões, qualidades, etc. afim de ser
utilizado; e sob um ponto de vista funcionalista, isto é, de mostrar
o bibliotecário como apto para cumprir funções pré-definidas
por quem de direito."
E, continua se reportando à questão da prática bibliotecária
vigente, dizendo que a ênfase na execução de tarefas
técnico-administrativas vem negando a idéia de profissão
liberal e humanista. Deixa bem claro quando coloca que:
"[...] o profissional bibliotecário, por essas características
técnicas tão rígidas, tendencialmente, não fugirá
à submissão e adoção cotidiano, de normas operacionais
definidas pelos decisores da política do seu trabalho.
E, a partir deste fato, ele próprio não só defenderá
a relevância do uso e aplicação de normas, mas internalizará,
como natural, o sentimento de normatividade bibliotecária, de tal
modo que não saberá se portar sem estes condicionamentos. "
Temos, então, a visão de um trabalho que limita a criatividade
do executor, impondo-lhe um comportamento que corresponde às exigências
da tarefa.
Alguns autores são enfáticos na apresentação
de perfis ideais do profissional para a execução de determinados
serviços. GROGAN (1995) fala de alguns atributos pessoais do bibliotecário,
dizendo que:
"'É impossível estudar qualquer aspecto do processo de referência
sem estar informado de quanto o mesmo depende inevitavelmente para o seu
êxito, dos atributos pessoais do bibliotecário. Isso implica
não dotes profissionais..., mas aqueles atributos pessoais humanos,
inatos ou adquiridos, como simpatia, criatividade, confiança e outros
mais."
E vai mais além, diagnosticando que:
"Os bibliotecários de referência que carecem dessas virtudes
padecem sob o peso de uma carga permanente, que amiúde se mostrará
tão opressiva que serão incapazes de se erguerem para atender
de modo satisfatório às necessidades dos usuários. "
Percebemos, então que, para alguns autores, para o exercício
de determinadas tarefas nas Bibliotecas/Unidades de Informação,
é necessário que o profissional seja um modelo acabado, ou
que possa ser adequado às exigências do exercício da
função.
3. VISÃO ERGONÔMICA DO TRABALHO
O desenvolvimento de estudos acerca das exigências da tarefa ou das
profissões remonta ao início do século, mais especificamente
aos anos 20, quando se fundou na Inglaterra o Instituto Nacional de Psicologia
Industrial e na França o Instituto Nacional de Orientação
Profissional. O objetivo inicial era identificar as causas dos acidentes
e a organização da segurança. Em 1941, desenvolveram-se
nos Estados Unidos, métodos de recrutamento e seleção
das tripulações da aeronáutica, durante a preparação
para entrar na segunda guerra mundial. Estes métodos foram utilizados
anos mais tarde por FLANAGAN, para formular a "Técnica do Incidente
Crítico'1. Esta técnica é apresentada por FOSKETT, RANGANATHAN
PEREIRA e outros (1980) no estudo de usuários da informação
técnico-científica, como complementação a outros
métodos de coleta de dados, para análise de comportamento diante
de uma circunstância. A evolução destes métodos
e as pesquisas desenvolvidas caracterizam o que veio a se chamar de Psicologia
do Trabalho que, com a agregação de pontos de vista de outras
áreas do conhecimento, deu origem a um campo científico designado
por MURREL (1949) de Ergonomia.
Em sua origem etimológica, a palavra ergonomia significa "ciência
do trabalho" e consiste em métodos para análise da questão
do trabalho. E segundo FIALHO (1997), "se destina a resgatar a dignidade
dos seres humanos", porque, pela visão de FOUCOULT, llo teu corpo
se torna um corpo útil". O objetivo então, é a aproximação
ótima entre as aspirações das pessoas e as do sistema,
com vistas a continuidade do ciclo produtivo (processas recursos para produzir
bens e serviços).
IIDA (1993) diz que:
"[...] aspectos do comportamento humano no trabalho e outros fatores são
importantes para o projeto de sistemas de trabalho, que são:
a) O homem - características físicas, fisiológicas,
psicológicas sociais do trabalhador; influência do sexo,
idade, treinamento e motivação.
b)A máquina - entende-se por máquina todas as ajudas materiais
que o homem utiliza no seu trabalho, englobando os equipamentos, ferramentas,
mobiliário e instalações.
c) O ambiente - estuda as características do ambiente
físico que envolve o homem durante o trabalho, como a temperatura,
ruídos, vibrações, luz, cores, gases e outros.
d) A informação - refere-se às comunicações
existentes entre os elementos de um sistema, a transmissão de informações,
o processamento e a tomada de decisões.
e) A organização - é a conjugação
dos elementos acima citados, no sistema produtivo, estudando aspectos como
horários, turnos de trabalho e formação de equipes.
f) As conseqüências do trabalho - aqui entram
mais as questões de controles, como tarefas de inspeções,
estudos de erros e acidentes, além e estudos sobre gastos energéticos,
fadiga e "stress ".
Os objetivos práticos da ergonomia são a segurança,
satisfação e bem-estar dos trabalhadores no seu relacionamento
com sistemas produtivos. A eficiência virá como resultado."
Considerando-se estas afirmações, percebemos que a eficiência
não é o objetivo principal da ergonomia, ela se evidencia na
medida em que são adotadas metodologias durante o projeto das tarefas,
assim como para sua operacionalização. Teremos como conseqüência
uma melhor adequação da tarefa ao executor, diminuindo a incidência
de erros, retrabalho e desgaste físico e mental do trabalhador. Ao
tempo em que o trabalhador vê atendidas essas condições,
ele intuitivamente procurará formas mais práticas de executá-las,
FIALHO (1997) coloca que:
"[...] cada pessoa executa uma tarefada forma que lhe parece mais apropriada,
então, ao se dimensionar o trabalho deve-se levar em conta a representação
mental do trabalhador." Cita ainda três tipos de tarefas:
"a) Tarefa prescrita: objetivos, procedimentos, normas, etc.
.
b) Tarefa induzida: representação do indivíduo na tarefa.
c) Tarefa atualizada: particularização do modelo."
Em função de que, teríamos dois tipos de respostas:
"a) Finalizadas: respostas verbais, motoras; tem a ver
com a tarefa,
b) Colaterais: tipos de comportamento (as vezes inconscientes) que podem
denotar "stress " e levar ao erro se não são detectados."
Desta forma, fica claro que o trabalho não pode ser percebido somente
por seus aspectos materiais, como fonte de renda ou pela questão de
sobrevivência, mas sim pelo lado psico-social de se tornar um ser útil,
integrado à sociedade e ao ambiente. Quando se trata do profissional
que se capacitou para a execução da atividade, a expectativa
de que ela venha a lhe dar prazer é ainda maior, e possivelmente sua
motivação estará ligada ao alcance destas metas. Na
Psicologia, encontramos várias teorias que procuram explicar a questão
da motivação para o trabalho, onde uma série de experiências
foram realizadas para justificá-las. Uma das teorias que nos parece
válido citar, por se adequar ao assunto em pauta, é a expectância-valência.
Onde expectância seria:
"uma avaliação subjetiva das chances ou probabilidades
de sucesso que uma pessoa faz, antes de iniciar uma tarefa. Isso está
relacionado com a quantidade de esforço que seria necessário
para se atingir uma meta, como posicionar uma peça correta-mente em
uma montagem."
E, onde valência seria:
"o significado do resultado, ganho ou outra conseqüência
da atividade pela qual a pessoa acha que vale a pena realizar essa atividade.
A valência seria uma combinação de motivos e recompensas
e dependeria da experiência pessoal e da realimentação
externa. Geralmente a atividade não tem valor por si só, mas
pelas suas conseqüências como recompensas materiais, ganho ou
reconhecimento social." (IIDA, 1993)
O conhecimento destes fatores, é relevante para o projeto da tarefa,
uma vez que é reconhecido que uma das maiores causas de "stress' entre
os trabalhadores, é a dificuldade encontrada para a realização
de seu trabalho e o atendimento às suas exigências.
4. A QUALIDADE DE VIDA DO BIBLIOTECÁRIO
Toda análise do trabalho parte de uma discussão, pois a questão
é elencar os fatores que estão levando à produção
de falhas, sejam elas técnicas, pessoais ou organizacionais. Temos
aqui que considerar, para análise do trabalho do bibliotecário:
a adequação de sua formação ao efetivo exercício
da profissão; os impactos das novas tecnologias na configuração
de seu ambiente de trabalho e no desempenho de suas atividades; seu conhecimento
e/ou desconhecimento do mercado de trabalho; sua auto-imagem; seu nível
de interação com seus pares e outras áreas científicas;
e o conhecimento/desconhecimento de seu papel social e suas alternativas
futuras.
Como já foi referenciado, a ergonomia agrupa conceitos que através
de sua aplicação na adaptação dos métodos,
meios e ambientes de trabalho, servem para reduzir ou eliminar os riscos
profissionais à saúde através da redução
da fadiga, seja ela ocasionada pela elevada carga física ou pela carga
psíquica de trabalho.
Os profissionais de informação, inclusive o bibliotecário,
estão diretamente expostos aos impactos de um trabalho em que não
se pode falar em rotina. Pois, os usuários de sistemas de informação
têm interesses diferenciados e suas necessidades e expectativas apresentam
um elevado grau de variação.
Os novos requisitos, exigidos no mercado da informação, denotam
a necessidade de um profissional com visão estratégica, receptivo
a mudanças e flexível às inovações. Quando
consideramos que não é este o profissional que está
sendo qualificado pelas Instituições de Ensino, e que no exercício
de sua profissão quer e precisa de reconhecimento e respeito, entendemos
porque, no caso do bibliotecário, pouco ou nada se sabe de suas atividades
e a imagem que a mídia transmite não é das mais positivas.
Talvez se parta da premissa de que se ninguém conhece, ninguém
vai exigir. Mas, o sistema de produção vigente inevitavelmente
impõe cobranças, e o profissional tem de buscar, por sua própria
iniciativa, os meios e métodos de trabalho que lhe proporcionem prazer
e valorização pessoal.
Alguns autores, ao caracterizarem o trabalho do bibliotecário, partem
de um estereótipo de profissional que está sempre a mercê
do interesse de seus clientes ou afastado/desinteressado dos ideais organizacionais.
É que sua formação técnica o faz acreditar que
ele tem de ser o intermediador do processo informacional. Os documentos,
que sempre foram seu instrumento de trabalho, são codificados e formatados
com base em códigos de acesso restrito aos profissionais da área.
As tarefas têm de ser manualizadas, para que sejam executadas de forma
consistente e correta (um pequeno erro e não se recupera a informação).
De posse de manuais, códigos, tabelas, etc., ele se sente seguro e
confiante. Mas, este perfil está mudando, a globalização
evidenciada pelas redes de comunicação de dados, nos coloca
diante de questões com competitividade, produtividade e outros "ades"
mais que, até então, não estavam nos preocupando.
Esta indefinição de papéis, o confronto com o desempenho
de áreas correlatas e a informatização de processos
básicos para localização de informações,
estão dando um novo dimensionamento ao trabalho do bibliotecário,
que se vê forçado a descobrir novas áreas de atuação
e ampliar seus horizontes, ou senão, a descobrir outras perspectivas
de trabalho e buscar um novo modelo de ação.
Analisando-se o desempenho do bibliotecário em seu ambiente de trabalho,
percebemos que, para quase todas as áreas específicas, e que
são básicas em todas as Bibliotecas/Unidades de Informação,
há uma exigência de perfil: para a área administrativa,
se deseja que o profissional tenha capacidade de mando e liderança;
para a de processos técnicos, que tenham raciocínio lógico
e amplos conhecimentos gerais; para a de referência, que tenha boa
educação, seja atencioso e que, como diz GROGAN (1995) a respeito
de uma lista de atitudes necessárias, "tenha imaginação
". Percebemos, então, que para o profissional, é um pouco difícil
exercer uma atividade onde sempre se espera dele que corresponda ao modelo.
Reportando-nos aos conceitos ergonômicos de trabalho, verificamos que
esta ocorrência implica ansiedade e sentimento de inadequação,
fazendo com que o profissional sinta-se desmotivado e pouco receptivo a mudanças.
Seus objetivos pessoais e de realização profissional dificilmente
encontram amparo neste ambiente.
Grande parte da responsabilidade acerca da imagem do bibliotecário
que é apresentada pela mídia, se deve a estas expectativas
pessoais que não são atendidas. Isto faz com que o profissional
se limite a cumprir as tarefas que estão explicitadas em manuais de
serviço e nos regulamentos existentes nas Bibliotecas/Unidades de
Informação, os quais têm por objetivo padronizar os serviços
com base na normatização imposta pelos organismos de classe.
A posição da biblioteconomia ao estabelecer padrões
de comportamento para a execução de tarefas, próprias
ao exercício da profissão, num momento em que estamos vendo
algumas destas tarefas serem substituídas com muita eficiência
por programas de computadores interativos, leva a muitos questionamentos.
A preocupação é acerca da visão de futuro que
estará se formalizando para aquele profissional que está habituado
a deixar que respondam por ele, e que se sente enquadrado nos requisitos
mínimos para concorrer no mercado de trabalho.
Na observação das colocações de alguns autores,
podemos constatar que para as atividades de caráter intelectual, não
há o que temer, por enquanto.
" There are now computerprograms which can make intelligent
summaries of adocuments typed or scanned into them or takenfrom the Internet,
and as time goes by they will increase in power, sophistication and availability
and decrease in cost, while the availability oftexts in eletronic from will
grow. The makersof the programs say that cannot supplant a professional human
indexer. If this true now, how long will it be so?" JONES (1992) apud WARD
(1996).
Neste cenário de concorrência, com profissionais que detêm
maiores conhecimentos sobre o processamento da informação e
da inovação tecnológica, o bibliotecário procura,
no seu ambiente de trabalho, familiaridades que o levem a planejar seu futuro
com segurança. O que se torna cada vez mais difícil, uma vez
que este mesmo ambiente, que lhe era familiar, está sendo invadido
por equipamentos que exigem novas habilidades e conhecimentos.
O que se observa, nas recomendações advindas de reuniões
de grupos de trabalho, em Congressos e atividades da área, é
que o profissional procure se especializar, diversificar e reciclar seus
conhecimentos. Mas, não temos observado nenhuma preocupação
com alteração nas chamadas normatizações e com
regulamentos padronizados para tipos específicos de Bibliotecas/Unidades
de Informação.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta análise do trabalho do bibliotecário, sob
o ponto de vista da ergonomia, seria o de reproduzir um conhecimento formal
acerca do modo pelo qual pode-se utilizar conhecimentos derivados de áreas
correlatas, para questionar o modo pelo qual se vêm trabalhando as
transformações que ocorrem em nosso ambiente de trabalho, e
das quais nos vemos excluídos pela autocracia das gerências.
Isto prejudica as relações com a organização
influenciando diretarnente o comportamento individual.
A implantação de mudanças organizacionais poucas vezes
analisa os efeitos sócio-afetivos no trabalhador. A gestão
da qualidade ainda é um privilégio de poucos.
Queremos, então, recomendar, ao se planejar e projetar atividades,
que identifique os fatores motivacionais nos ambientes de trabalho, de forma
que o desempenho das tarefas sejam iniciativas do profissional e, que ele
as considere uma forma de exercer sua criatividade e capacidade de inovar.
A observação dos conceitos ergonômicos é fundamental
para que se obtenha uma aproximação entre o desejado e o obtido.
O planejamento de serviços em Bibliotecas/Unidades de Informação
tem modelos derivados do tecnicismo da profissão, que deixam pouca
ou nenhuma margem de ação para o profissional. A parte criativa
da profissão é praticamente exercida no que se denomina Referência,
ou seja, o ambiente onde o profissional interage com o cliente/usuário.
Ainda assim, as limitações são impostas pelo próprio
conteúdo do trabalho que é sempre formulado com base na demanda.
Consideramos, então, que estas condicionantes de exercício
do trabalho, trazem pouca ou nenhuma expectativa de ampliação
do campo da atividade, devido ao desconhecimento das aplicações
de suas habilidades profissionais. A adoção de novas tecnologias,
que está mudando as formas de acesso à informação,
é um fator de inquietação para o bibliotecário.
E como bem coloca SUAIDEN (1990)
"Racionalidade no trabalho, aumento de produção,
melhor controle e maior facilidade para armazenar e disseminar a informação
são as grandes vantagens que as novas tecnologias de informação
oferecem para a sociedade. No entanto, ainda não se sabe exatamente
se as novas tecnologias da informação poderão de fato
democratizar a informação e se os profissionais terá
-melhores condições de trabalho."
Qualquer tentativa de redirecionamento das práticas, vigentes na estruturação
de serviços em sistemas de informação e para reconhecimento
da importância dos recursos humanos com suas peculiaridades, capacidades
e limitações, será com certeza um importante passo para
que se comece a falar em qualidade de vida e metodologias para o desenvolvimento
de programas de trabalho, que privilegiem as habilidades de cada um.
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Wanja Santos Marques de Carvalho
Especialista em Organização Sistemas e Métodos.
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Eng. de Produção
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