A SOCIEDADE INFORMACIONAL E SEU MERCADO DE TRABALHO *
Lúcia Marengo
RESUMO
Analisou a demanda de vagas e ofertas de diferentes tipos de ocupações
em trabalhos com informação e demais profissões apresentadas
pela fonte utilizada( Jornal Folha de São Paulo), durante o período
de 1992 a 1994. Constatou que o mercado de trabalho é composto na
sua grande maioria por profissionais de nível médio e com características
qualificadoras diferentes das descritas pelos teóricos das emergentes
sociedades ditas da informação e que o setor de informação
vem crescendo mas sua representatividade dentro do mercado focalizado ainda
é pequena.
INTRODUÇÃO
Administrar informação é atividade essencial em todas
as empresas e instituições. Tal atividade está mobilizando
pessoal habilitado, dentro delas, no sentido de capacitá-lo, instrumentalizá-lo
e incentivá-lo à qualificação necessária
para o exercício da nova função.
São inúmeras e variadas as origens e atividades de informação
que circulam nesses ambientes, assim como, são bastante diversificados
os profissionais que trabalham nessas atividades. Em função
disso, o mercado de trabalho, hoje, além de apresentar uma diversidade
de novas ocupações, fruto do desenvolvimento e uso de novas
tecnologias, apresenta-se aberto à área da informação,
cujos profissionais têm variadas procedências e funções.
Com o crescimento considerável da importância das informações,
o se-tor de informação aumentou em tamanho e poder, supondo
uma mudança na estrutura de classes. Hoje, é senso-comum acreditar
que a classe trabalhadora deva estar bem mais instruída e qualificada
para compor a força de trabalho nos diversos setores econômicos
da sociedade moderna.
Mesmo sendo a tendência, nesta fase histórica de desenvolvimento
tecnológico, o aumento do grau de qualificação médio
da força de trabalho, um significativo aumento do nível de
escolaridade entre trabalhadores, o Brasil ainda é um país
onde a estrutura ocupacional ainda é bastante estratificada e com
uma grande parcela composta por trabalhadores pouco qualificados e instruídos,
conforme indicam os números do IBGE (1990, 100).
A demanda emergente por qualificação profissional c percebida
pelo fato de diversas funções estarem passando por modificações
significativas. Vieira (1993, 111), após relacionar os elementos que
determinam essa demanda, sugere que "o novo profissional da informação
deverá ter competência profissional ampla, envolvendo conhecimento
interdisciplinar, habilidades gerenciais, técnicas e políticas,
além de atitude ética (profissionalismo)".
A realidade é que o novo setor pede profissionais com características
e habilidades específicas e não encontradas plenamente desenvolvidas
nas profissões já existentes. Muitos já não se
ajustam à demanda.
Diante de inúmeras novas funções e atividades surgidas
neste setor, bem como de diferentes e novas nomenclaturas para denominar
o profissional de informação, este estudo aborda tal profissional
de dois ângulos: um mais geral sugerido pela literatura onde toda a
força de trabalho está envolvida de algum modo com informação
(por isso Sociedade de Informação) e outro bem mais particular
abrangendo profissões tradicionalmente conhecidas e descritas como
sendo as de informação.
Portanto, foi objetivo da pesquisa verificar a evolução das
ofertas no mercado de trabalho da grande São Paulo, veiculadas pelo
Jomal Folha de São Paulo, ao longo de um período de 3 anos,
focalizando alguns segmentos profissionais com destaque para os Bibliotecários,
Jornalistas, Programadores e Advogados. Assim, para maior compreensão,
dividiu-se nas seguintes etapas o processo de investigação;
(1) - identificou-se a estrutura da força
de trabalho entre as todas cate
gorias apresentadas pelo jornal, verificando as de maior demanda;
(2) - verificou-se a demanda de vagas entre os grupos dos
Trabalhado
res do Conhecimento e Trabalhadores de Serviços, comparando-os entre
si;
(3) - verificou-se o espaço no mercado de trabalho
veiculado pela Folha
de São Paulo no que diz respeito às profissões da área
de informação: Biblio
tecários, Jornalistas e Programadores;
(4) - comparou-se entre si os espaços relativos
a cada uma das profis
sões referidas no item anterior;
(5) - comparou-se um espaço dos profissionais referidos
no item três
com o de outra profissão de outro setor da atívidade humana
- a Advocacia;
(6) - analisou-se a evolução dos dados relativos aos objetivos
três, qua-tro e cinco ao longo de uma marcha histórica de três
anos (1992/1994).
Contexto da modernização econômica
As inovações tecnológicas propiciaram uma extensão
quase que incomensurável das fronteiras territoriais entre nações,
modificações nos processos e mercados de trabalho, surgindo
novas relações de trabalho, como o trabalho informal, tercerização
e uma reestruturação das potências econômicas nos
países centrais.
Concomitante com essas mudanças, o espectro produtivo numa economia
globalizada passa a exigir um padrão de competitividade e qualidade.
Em função disto, o mundo caminha industrialmente em direção
a mudanças expressivas e, em que, consequentemente, neste processo
de transformação, estão envolvidos os fatores sociais
e, mais especificamente, os que estão associados às questões
do trabalho. Segundo Xavier Sobrinho (1992), a busca de produtividade e maior
competitividade exige estratégias de reconquistas por parte das empresas
que se constituem em amplas reformulações na organização
do processo de trabalho; na substituição de trabalho humano
por equipamentos automatizados e a desintegração vertical,
que consiste na tercerização de etapas dos processos produtivos
e concentração e esforço de aprimorar as atividades
que constituem a vocação principal da empresa.
Ideologia da Sociedade de Informação
A chamada Sociedade de Informação vem provocando questionamentos
que exigem certo aprofundamento. Questões fundamentais devem ser revistas
como níveis de ocupação, qualificação
da força de trabalho, conhecimentos adquiridos, locais e formas de
construção das experiências sociais e da identidade das
pessoas, dos grupos e das classes. É observada também a interferência
na natureza das ocupações, incitando assim, a ideia do surgimento
de uma nova classe social, a dos Trabalhadores do Conhecimento.
A Sociedade de Informação, segundo Barreto (1994) objetiva-se
basicamente pela produção do conhecimento sustentado pela produção
de informação. Os instrumentos e mecanismos de ordenação
e organização seguem princípios da ideologia posta,
ou seja, "de uma racionalidade técnica e produtivista" e produzem
grande quantidade de estoques, o que não corresponde à função
da produção do conhecimento, pois diminui seu critério
de qualidade. Além disso, esses estoques estão sendo distribuídos
de acordo com uma ideologia de distribuição de quanto maior
quantidade maior o grupo para cobrir o
custo da informação, assim surgem estratégias de distribuição
que procuram contemplar e dividir entre os diferentes grupos de consumidores
esses estoques. Nesse processo de distribuição e diferenciação
apenas alguns privilegiados têm acesso a determinadas informações,
geralmente este grupo de elite possui, além das competências
dos demais, "características políticas e econô-micas
que lhes permite assegurar e manter o poder político e económico".
Assim esta distribuição ocorre de forma a que somente uma elite
tenha as informações seletivasf cujo grupo é minoria.
O setor de informação não se restringe exclusivamente
aos bibliotecários, mas é, hoje, questão fundamental
que perpassa todas as áreas do conhecimento e os seus representantes.
Deve-se isto à constatação de que se vive numa sociedade,
onde critérios e exigências de produção e qualidade
estão baseados na eficiência do trato com a informação.
Com a introdução das novas tecnologias e a valorização
da informação como bem econômico, o mercado profissional
nesta área está cada vez mais aberto a diversas áreas
profissionais. É preocupação das chamadas tradicionais
profissões da informação, ou seja, aquelas cujas atividades
profissionais têm origem na organização, guarda e disseminação
da informação, obter um diagnóstico atualizado da situação
da estrutura ocupacional brasileira que poderá reverter numa postura
crítica e real da profissão perante seu mercado de trabalho.
Resultados:
Estrutura da Força de Trabalho
As ocupações que apresentaram maior demanda no mercado são
aquelas que compõem a categoria Administração, Vendas
e Finanças e, segundo os dados do Ministério do Trabalho (1982),
o setor da economia que compreende esses tipos de atividades é o setor
dos serviços, assim como também o nível de escolaridade
predominante entre as ocupações deste grupo é o segundo
grau completo. Na categoria Administração, Vendas e Finanças
estão incluídos os caixas, os compradores, escriturários,
recepcionistas, secretárias, vendedores, telefonistas, entre outros.
A segunda categoria mais numerosa, Ajudantes e Auxiliares, representa no
seu escopo de características, algumas semelhanças consideráveis
à sua antecessora. Essa categoria é composta de ocupações
cujos níveis de escolaridade variam entre os primeiro e segundo graus
e suas atividades também estão direcionadas às funções
criadas para o setor de serviços: ajudantes de cozinha, de pedreiro,
de motorista, auxiliares administrativos, de arquivo, de vendas, de pessoal,
de enfermagem, consistindo, geralmente, em atividades de apoio para o pessoal
técnico. É fácil perceber nessa lista de trabalhos da
segunda categoria mais numerosa, que pessoas que têm profissões
como cozinheiro, pedreiro e motorista não trabalham diretamente com
informação, ou seja, não manipulam papéis na
maior parte do seu tempo. Já os auxiliares administrativos, o pessoal
de arquivo, e de vendas perfazem trabalhos informacionais. Contudo, Ajudantes
e Auxiliares, como categoria nessa base de dados não sofrem essa diferenciação
entre trabalhos informacionais e não informacionais.
Observou-se que as duas categorias mais numerosas são compostas, na
sua maioria, por profissionais de informação no sentido amplo,
conforme discutido anteriormente, porém são profissionais de
nível médio.
As categorias de menor expressividade quantitativa, Diretores e Gerentes
(1,88%) e Chefias (3,54%) não correspondem às expectativas
de um mercado, cujos critérios estão a cada dia solicitando
pessoal qualificado para gerência.
A gerência, entre os inúmeros novos e emergentes postos
de trabalho, de tão tematizada que está na literatura, parece
ser o cargo mais solicitado nos últimos anos. Não é
porém o que dizem os dados. É certo que a categoria Diretores
e Gerentes, de acordo com a fonte, se subdivide em aproximadamente setenta
nomenclaturas ou títulos de cargos. Mas essa diversificação
não equivale à maior demanda por gerentes na sociedade atual:
representa apenas 1,88% da força de trabalho
As categorias gerenciais exigem geralmente profissionais mais especializados
e qualificados, porém, mesmo diante do crescimento e incremento da
escolarização/ educação/ profissionalização,
verificou-se que, além de um pequeno número de trabalhadores
estarem voltados para essa área, a sua variação de vagas,
durante os anos, manteve-se muito baixa em relação às
demais categorias.
A maior tendência de números de vagas entre todas as categorias
foi de decréscimo, espelhando um mercado em recessão. Aquelas
em que se observa um relativo crescimento de números de vagas, foram
a dos Analistas (4,00%, 5,44%, 6,62%), as Ocupações de Nível
Médio ( 7,89%, 7,23%, 8,75%)e de Produção (11,82%, 14,12%,
14,76%). Analistas na base consultada são relacionados como analistas
contábeis, analistas de crédito, de mercado, de sistemas, de
orçamento, de custos, de recursos humanos e outros. Considerados de
nível superior, os Analistas destacam-se nos três últimos
anos como uma categoria que manteve um crescimento estável.
Ao que tudo indica, portanto, as possibilidades do aumento de ofertas está
condicionada a um grau médio de instrução ou de qualificação.
Observa-se que os Analistas, ocupação que se pode considerar
moderna quando contraposta à Produção, é uma
categoria em crescimento, mas o pessoal da Produção também
cresce. O critério por demanda de vagas entre essas categorias e o
caráter de sua ocupações varia entre atividades modernas
(Analistas) e tradicionais (Produção). Sugere-se também
que, pela ocorrência de baixas demandas por vagas entre as demais categorias,
esteja havendo um contigente muito pequeno desses profissionais na participação
no mercado.
Trabalhadores do Conhecimento X Trabalhadores dos Serviços
Verificou-se que o percentual de vagas da categoria Trabalhadores do Conhecimento
é muito baixo , o que faz supor que a composição da
força de trabalho da atual sociedade, ainda não corresponde
à idealizada e descrita pelos autores pós-industrialistas.
Mesmo com a presença de variações crescentes de vagas
durante o período investigado, este crescimento está longe,
a curto prazo, de ultrapassar os resultados atuais, haja vista a grande diferença
percentual entre as duas categorias investigadas.
De fato, hoje o setor de seviços é o mais numeroso em trabalhadores,
sendo que os Trabalhadores do Conhecimento não estão nele concentrados,
mesmo reconhecendo que as atividades de serviços estão presentes
em todos os setores da economia e os que compõem e participam das
ocupações mais características deste setor, na sua maioria,
possuem um grau de escolarização e especialização
não tão exigente. Durante o período estudado, aparecem
mais vagas oferecidas para os Trabalhadores dos Serviços do que para
os do Conhecimento.
Profissionais da Informação
Posição relativa do Programador
O cargo de Programador obteve um índice percentual de vagas e ofertas
extremamente mais elevado em relação aos demais cargos (Bibliotecário
e Jornalista), o que demonstra que há uma maior procura por profissionais,
cujo foco de trabalho e atividades estão voltados para os sistemas
e componentes de hardware, ao invés do conteúdo da informação
e seu manuseio.
O número de vagas e ofertas para esse cargo vem crescendo, o que reforça
e garante o espaço do programador no mercado, principalmente pelo
fato de as diferenças entre os demais serem significativas.
Posição relativa do Bibliotecário
A evolução do Bibliotecário, ao longo dos três
anos, manteve-se numa mesma variação com mínimas alterações
decrescentes e pouco significativas em termos de percentagem. Esse decréscimo
talvez esteja refletindo o desprestígio e a pouca valorização
de profissionais que restringem seu conhecimento a determinadas funções
e pouco atualizam e diversificam suas ativi-dades e posturas. Certamente
as escolas de formação, as sociedades científicas, os
sindicatos e os conselhos de classe, precisam reagir no sentido de alterar
esse quadro.
Considerados profissionais de nível superior, os Bibliotecários
que participam da força de trabalho permanecem num mesmo patamar equivalente
a todos os outros profissionais de sua categoria, independentemente da atual
valorização e acentuado crescimento de seu setor de atuação
na Sociedade de Informação. A amplitude e diversificação
de suas funções parecem não estar proporcinando uma
maior elevação de sua posição dentro da estrutura
ocupacional, sugerindo que sua atualização e melhores qualificações
são exigências mínimas para melhor colocação
no mercado.
Posição relativa do Jornalista
Sua participação no mercado dos profissionais de informação
mostrou-se discreta e estável, tanto em relação ao número
de vagas, como ao de ofertas. A diferença de percentual existente
entre estas duas variáveis, vagas e ofertas, retrata uma maior oferta
dos profissionais em relação à demanda.
Pode-se concluir que o setor de informação, representado pelos
três profissionais, Bibliotecário, Jornalista e Programador,
constitui-se, na sua maioria, num tipo de atividade específica que
vem se tornando mais dominante " pelo seu constante e significativo crescimento.
Ao verificar a variação do número de ofertas e vagas
para esses profissionais, percebe-se que o Programador é o único
profissional para o qual esse número vem crescendo significativamente,
enquanto que, para os demais, isto não acontece.
Esse importante e acentuado dinamismo pode vir a caracterizar uma estrutura
dual dentro do mercado de informação, tornando-se necessária
uma investigação sobre esta área, onde a utilização
de sistemas avançados de informática e telecomunicações
altera ou nela interfere a estrutura das ocupações em informação.
O mercado para Profissionais de Informação cresceu significativamente
em relação às vagas oferecidas durante o período
estudado, porém, no que se refere às ofertas, seu maior crescimento
foi sentido no ano de 1993, ocorrendo uma regressão em 1994 para o
mesmo nível de 1992. Essas oscilações podem ser interpretadas
como um fato comum entre as tentativas de estabelecimento de determinadas
tendências em mercados em desenvolvimento.
Advogados X Profissionais de Informação
Com exceção do Programador, o Advogado obteve uma maior representatividade
de vagas e ofertas do que os outros Profissionais da Informação
(Bibliotecário e Jornalista).
A estabilidade já conquistada por esse profissional ao longo dos anos
no mercado de trabalho parece corresponder aos resultados, observando-se,
contudo, que a demanda e a oferta em relação a ele têm
apresentado redução.
Ao confrontar todos os Profissionais de Informação com o Advogado,
pode-se dizer que a grande diferença percentual entre eles deve-se
à profissão do Programador. A diferença entre os dois
outros profissionais e o Advogado, não é tão significativa.
Assim, pode-se concluir que hoje os Profissionais de Informação
estão representados quase que exclusivamente, por Programadores e
que estes ultrapassam e inibem qualquer manifestação de ascenção
de vagas dos demais. Também seria relevante verificar se as decantadas
características de criatividade, criticidade etc. são consideradas
como exigências ou oferecidas como possibilidades para esse profissional
e os demais da área.
Cabe aqui questionar ainda quais as medidas que estão sendo tomadas
pelas instituições legitimadoras dos profissionais em geral,
face às novas características do mercado. Crises de identidade
deverão surgir em diversas categorias profissionais, principalmente
naquelas situadas em fronteiras cada vez mais móveis. Os elementos
progressistas que impulsionam a utilização de novas tecnologias,
a capacidade inovadora de profissionais que se manifesta em nível
do conteúdo e da organização do trabalho podem também
provocar e esconder uma segmentação de mercado.
Profissionais da Informação em relação às
Categorias Gerais
De acordo com as pesquisas relacionadas e comentadas neste estudo, pode-se
concluir que o setor de informação está crescendo, as
atividades nele desenvolvidas proporcionam uma representativa e diversificada
amplitude no setor econômico. A estimativa da força de trabalho
voltada para esse setor é complexa, dependendo das realidades focalizadas.
Nas sociedades mais desenvolvidas, por exemplo, sua expressividade é
indiscutível, porém, em alguns casos, somente uma pequena percentagem
deste montante pertence à categoria dos tradicionais profissionais
de informação.
Neste estudo, a inexpressividade percentual desses profissionais no mercado
talvez seja em função das profissões selecionadas. Apesar
das atividades desenvolvidas nesse setor serem semelhantes às até
então realizadas, suas nomenclaturas, como já foi visto, mudaram.
Ou os profissionais de informação assumem estas atividades,
mesmo tendo novos títulos e pertencentes a novos contextos, ou as
crescentes atividades deste setor ficam disponíveis a profissionais
de outras áreas.
Conforme Mostafa & Pacheco (1994) as novas nomenclaturas dos profissionais
da informação ainda não estão aparecendo veiculadas
nos jornais do País, pelo fato de serem emergentes. A fronteira divisória
entre as diferentes competências atualmente não permite uma
definição rigorosa, até mesmo pelo fato de essas atividades
com informação estarem permeando todas as instâncias
da vida em sociedade, exigindo talvez uma nova fonte de legitimação.
Porém, determinadas e específicas funções são
e deverão continuar sendo competência de profissionais aptos
e tecnicamente preparados e escolarizados para tal fim.
Porém, se analisada a evolução de ofertas e de vagas
dentro do próprio setor de informação, observa-se uma
significante variação onde o aumento progressivo é significativo.
Assim, à proporção que ele cresce internamente as outras
categorias, ao longo dos anos, apresentaram um ligeiro decréscimo.
Conclusões Finais
Este estudo partiu de um esforço em assumir uma postura crítica
diante de expressões como Sociedade de Informações,
Sociedade do Conhecimento ou a não menos conhecida expressão
Sociedade Pós-Industrial ou Sociedade dos Serviços.
Essas expressões bem traduziriam a época atual se elas não
estivessem acompanhadas de um certo véu encobridor das diferenças
das classes sociais agora traduzidas por classes de especialistas. Nada haveria
a objetar diante de tais expressões, se elas não andassem de
mãos dadas com a compreensão de que, nessa sociedade informacional,
os salários são altos e os trabalhadores altamente qualificados.
Esses são minoria e a grande massa de trabalhadores ainda é
de nível médio. Importa discutir essa qualificação/desqualificação
como parte da lógica capitalista de final de século, onde mudam
as estratégias de acumulação de riqueza mas não
muda a lógica de acumulação. Desconsidera-se uma realidade
presente e somente projeta-se um "futuro".
De fato, toda vez que o tema Sociedade de Informações é
analisado na literatura, essa análise vem acompanhada de estudos sobre
a força de trabalho e sua qualificação. O que foi feito
neste estudo foi acrescentar a desqualificação no par qualificação/desqualificação;
não para salientar a desqualificação mas para re (qualificar)
a Sociedade de Informação, uma sociedade ainda contraditória,
cuja disposição dos seus trabalhadores ainda configura uma
pirâmide.
Assim, dentre as conclusões extraídas das análises realizadas
podem ser relacionadas:
1. a estrutura da força de trabalho, na suposta
ou emergente Sociedade de Informação, é piramidal. Suas
principais características ainda correspondem às mesmas de
uma sociedade capitalista moderna. Contraria-se, portanto, a
idéia da composição da força de trabalho por
numerosos trabalhadores altamente qualificados. A atual estrutura é
composta por uma gama de trabalhadores, onde sua maior expressividade quantitativa
concentra-se nos de nível médio na área de Finanças,
"Vendas e Administração, precedidas dos Assistentes e Auxiliares.
Os enaltecidos trabalhos qualificados ou dos Gerentes e Diretores, representam
o menor número de trabalhadores, e se localizam no topo da pirâmide.
As profissões que apresentaram um crescimento da demanda por número
de vagas durante os anos, são as categorias de Nível Médio,
de Produção e Analistas. Localizam-se entre as maiores
e menores categorias e são as que mais se movimentam dentro do mercado.
2. Os Trabalhadores do Conhecimento, uma denominação
bastante elitista e elegida pelos Pós-industrialistas, são
considerados qualificados, diversifica dos e especializados, como também,
devem estar sob o comando e direção das
organizações e instituições da sociedade de informação.
Os inúmeros e honrosos adjetivos dirigidos aos novos trabalhadores
da Sociedade de Informação não se restringem a determinadas
funções ou trabalhadores mas abrangem todos os que desempenhem
todos os tipos de funções. Além do que é sabido
que a discriminação e diferenças entre postos e profissionais
tendem a se manter. Os dados não parecem apoiar a perspectiva de que
isso está passando por profunda transformação.
Há de se reconhecer que a qualificação da força
de trabalho tem se diferenciado através dos anos, pela escolarização,
capacitação e, principalmente, pelo desenvolvimento de aptidões
coerentes à necessidade de saber lidar com as tecnologias emergentes.
Essa qualificação corresponde à atual flexibilização
do trabalho, advinda da introdução da automação
nos processos de trabalho e obriga qualquer trabalhador a se manter, no mínimo,
atualizado, face às velozes e diárias mudanças tecnológicas.
Parece, portanto, consequência natural da modernização
e complexização do trabalho, como também é originada
das exigências impostas e necessárias para atender aos propósitos
do processo acumulativo do capital. Entretanto, não são todos
os trabalhadores que têm no seu conteúdo características
modernas e complexas. Os processos de inovações têm caráter
restritivo e heterogéneo. Somente de poucos trabalhadores é
exigido o perfil de qualificado, enquanto que um grande número de
trabalhadores responsáveis pela execução de funções
mais simples no uso das novas tecnologias, como por exemplo, os digitadores,
são considerados desqualificados.
Enfim, esses Trabalhadores do Conhecimento, conforme os resultados, ainda
não constituem a maioria na composição da força
de trabalho e seus atributos qualificadores estão sendo pouco solicitados,
em relação aos demais trabalhadores, mais especificamente os
dos Serviços, para os quais há uma maior demanda e cujas características
qualificadoras não correspondem rigorosamente às dos Trabalhadores
do Conhecimento.
3. O setor da informação, caracterizado
neste estudo pelos profissionais Bibliotecários, Jornalistas e Programadores,
teve sua maior representatividade através do Programador. Seu crescimento
foi significativo. A suposta utilização das novas tecnologias
de informação entre os profissionais Jornalistas e Bibliotecários
parece não ter significado substanciais alterações no
número de vagas e ofertas no mercado, apesar de seu crescimento.
Os profissionais selecionados para integrar esse setor são profissionais
de Nível Superior (Bibliotecário e Jornalista) e profissionais
de Nível Médio (Programador), sendo considerados qualificados
para exercerem suas funções. Assim, mesmo com o incremento
das atividades informacionais, pode-se afirmar que nem todos os profissionais
desse setor exercem atividades que demandem Nível Superior. Mostafa
& Pacheco (1994) demonstraram em pesquisa recente que para atividades
como registro, arquivo, cadastro, a exigência qualificadora é
menor. Portanto, essa distribuição da força de trabalho
em diferentes níveis, sugere o fortalecimento das discordâncias
dos postulados da Sociedade de Informação ao generalizar tipos
e qualidade de trabalhos.
4. A concepção de uma nova formação,
bem como de novas demandas qualificadoras, quando confrontadas com a formação
específica de cada profissional analisado, no caso o Bibliotecário,
Jornalista, Programador e Advogado, descrevem um interessante quadro na evolução
das ofertas no mercado de trabalho desses profissionais. Com exceção
do Programador a inconsistência quantitativa de vagas e ofertas entre
eles sugere a ausência de uma disputa por espaços mais significativos.
É de se questionar, então, que talvez não seja a exigência
qualificadora a única responsável pelas mudanças e transformações
no emprego e no perfil da mão-de-obra; muitas vezes, devem ser levadas
em conta as políticas de desenvolvimento empresariais, as formas de
utilização das novas tecnologias e a necessidade das instituições
responsáveis pela formação desses profissionais assumirem
o processo das modificações das novas relações
de trabalho. A diferença numérica de vagas atribuídas
ao Programa
dor pode sugerir a existência de uma qualificação diferenciada
e uma nova segmentação da força de trabalho. Inclusive,
observa-se que as políticas de investimentos para a educação
tecnológica têm sido direcionadas somente para específicos
setores e áreas, entre estas, as da engenharia, o que provavelmente
vem reforçar e justificar esta segmentação.
5. O setor de informação, mesmo representado aqui por
apenas três tipos de profissionais, cresceu ao longo dos anos. Ultimamente,
muitos são os profissionais que manipulam informação,
e, dentre estes, alguns estão sendo reconhecidos como Profissionais
de Informação. Exercem atividades semelhantes em diferentes
contextos (ambientes). O estágio de desenvolvimento tecnológico
brasileiro ainda não tem solicitado determinados tipos de profissionais
que estão frequentemente sendo procurados através de jornais
de Primeiro Mundo. Geralmente são profissões que expandiram
seu campo de trabalho, adquiriram novas habilidades e manipulam as modernas
tecnologias de informação. Diante do restrito universo dos
Profissionais de Informação investigados, a representatividade
do setor informacional ficou muito pequena em relação às
demais profissões/categorias.
BIBLIOGRAFIA
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Paulo em Perspectiva: São Paulo,v.8, n. 4,
out./dez., 1994.
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Porto Alegre, v. 20, n. 3,p.212-226,1992.
Notas
* Este artigo contempla os principais aspectos da dissertação
de mestrado sobre a questão da qualificação da mao-de-ohra
e o mercado de trabalho inserido no contexto da Sociedade de Informação.
_____________________
Lúcia Marengo
Colaboradora do Curso de Biblioteconomia / UDESC. Mestre em Biblioteconomia
na área Administração Sistemas de Informação
pela PUCCAMP, 1995.
Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis,
v. 1, n.1, p. 19-31, 1996.